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Sherlock Holmes

(Sherlock Holmes, 2009)
6,8
Média
809 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Filme a todo instante sabota ele próprio.

5,5

O Sherlock Holmes de Guy Ritchie é uma tentativa frustrada de reavivar a história do hábil e famoso detetive de forma semelhante a adaptações contemporâneas de sagas como Batman e Homem-Aranha, nas quais o impossível flerta de maneira acertada com o real. Entretanto, o filme não decide seu tom, começa com ares de fantasia, transforma-se em uma história de heróis de carne e osso e, por fim, retoma seu clima fantástico sem convencer o público da realidade de um enredo que, por vezes, explora situações absurdas.

A dupla de heróis Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.) e John Watson (Jude Law) já surge em meio a missão de salvar a vida de uma jovem das mãos do assassino Lorde Blackwood. O ar de magia negra imposto a sequência inicial aliado às tomadas de Ritchie constroem o clima de aventura-fantástica que, logo no princípio, sabotam o clima realista que o diretor tenta, às vezes com sucesso, empregar ao longa-metragem. O maior problema é que toda a trama se torna não-realista ao explorar a ideia de ressurreição do vilão após este ter sido condenado à morte e enforcado, possibilidade usada de forma sacana pelo roteiro que, por vezes, supõe a intervenção do sobrenatural nos acontecimentos, como em alguns assassinatos, e por corroborar com a ameaça feita por Blackwood a Holmes na cadeia.

Por mais que o filme se preste a explicar em seus minutos finais todos os acontecimentos, inclusive aqueles que surgiram como ações de entidades do mal, essa opção narrativa fracassa por dialogar com o absurdo e também por concluir a história mergulhado em clichês e obviedades tão exploradas em obras do gênero. Toda esta parte final, por sinal, beira ao ridículo por trazer os protagonistas explicando todos os mistérios apresentados até então. Os heróis praticamente param para detalhar cada fato ao público e ao mesmo tempo expõe como a trama, que não poderia deixar o espectador usar o raciocínio para completá-la em função de sua história pseudo-mirabolante, precisa ao mesmo tempo ser mastigada para que a plateia não deixe o cinema ofendida pelo não entendimento dela.

O grande problema é que ao tentar seguir o caminho bem-sucedido da saga Batman, que conferiu realidade às ações de seu herói, o fraco roteiro de Sherlock Holmes aproxima sua história mais da saga Harry Potter. A sociedade secreta que mexe com magia negra, as citações em relação à defesa contra as artes das trevas e a construção de um clímax que leva o espectador a acreditar piamente que Lorde Voldemort pode aparecer a qualquer instante na tela são algumas provas disso. Fora que, o real clímax do longa, por  vezes antecipado por situações grandiosas deslocadas para o meio da trama, é tão clichê que leva quem assiste a pensar que toda a sequência foi plagiada de alguma outra obra.

O roteiro é mesmo o grande problema do filme e chega, por exemplo, a propor um corte seco na trama durante a sequência em que Holmes busca descobrir o endereço de uma pessoa e Watson pretende comprar um anel de noivado para sua esposa. Sem explicação alguma, a cena de uma cigana prevendo o futuro de Watson enquanto ele e Sherlock caminhavam para cumprir seus objetivos é cortada para os dois andando já com os objetivos cumpridos e o roteiro se preza apenas a uma explicação vinda de Holmes: “Pronto. Já tenho o endereço e você já tem o anel.” E assim o roteiro atropela a si mesmo em alguns casos, mas prende-se em sequências de grande impacto visual totalmente desnecessárias, como é o caso da destruição de um navio no cais durante a perseguição de Holmes contra um homem que acabara de lutar e derrotar.

Há ainda a tentativa de conduzir a história em meio a cenas bem-humoradas, entretanto, esse senso de humor se supõe mais engraçado do que de fato é, conseguindo arrancar risos ora ou outra, mas, em sua maioria, não fugindo da obviedade de um estilo cômico já desgastado. As cenas de explosão e as sequências de ação não se resolvem entre as desnecessárias e as bem realizadas. O momento em que Holmes e Watson não escapam da detonação de bombas é arrastado. Quando tudo já explodiu, Guy Ritchie faz tudo explodir de novo. No instante em que Holmes persegue sua ex-mulher Irene Adler (Rachel McAdams) após a primeira aparição dela, por exemplo, o humor não funciona durante o desenvolvimento da ação e a cena vale apenas como explicação para a sabedoria do detetive.

Porém, nem tudo é problema. A câmera lenta, recurso constantemente mal empregado nos filmes, aqui é usada como complemento à narrativa e estabelece um contraponto interessante ao ritmo acelerado das falas e da ação. Em diversas ocasiões expõe o raciocínio de Holmes e mostrar sua agilidade de maneira elegante.

A montagem é ágil e corrobora para escolhas visuais acertadas do diretor. Outras qualidades notáveis do filme são os excepcionais trabalhos de direção de arte e figurino, dois aspectos que devem colocar o filme na temporada de premiação norte-americana. O desenho de produção é grandioso e o cuidado com a recriação de época e com os detalhes das construções são louváveis. Além disso, a trilha sonora do consagrado Hans Zimmer mescla o ritmo de aventura com tons mais dramáticos de forma impecável.

No todo, Sherlock Holmes não escapa de ser uma história quadrada, com reviravoltas comuns e soluções básicas, por mais que se pensem complexas. E a explicação final dada para todos os acontecimentos termina por sabotar acontecimentos do início da produção. As qualidades e as atuações competentes de Downey Jr. e Jude Law não são suficientes para alavancar uma história falha como essa.

Comentários (2)

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 14:57

Não sei se foi o carisma Downey Jr., mas eu não enxerguei tantos problemas assim. Ao meu ver, o filme oscila entre as duas abordagens propositalmente, para nos transmitir o que os personagens, talvez exceto Holmes, estavam captando daquela sitiação. Blackwood queria que todos acreditaseem em sua sobrenaturalidade, e teria conseguido se não fosse pelo astuto e cético detetive.

Misaki | quinta-feira, 22 de Abril de 2021 - 18:50

O filme vale muito a pena pela atuação de holmes e Watson, é espetacular, super parecido com os livros. Mas realmente peca em enredo e nessa de: "Uau sobrenatural mas claro que holmes não caiu nessa." Não é a primeira vez que isso acontece, acontece o mesmo no livro: O cão dos Baskervilles, e sinceramente, esse caso é bem entediante por isso. Previsível.

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