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Críticas

Cineplayers

Filme consegue ser tudo o que Shrek tentava satirizar.

3,5

O primeiro filme de Shrek tinha frescor por fazer piada com todos os clichês utilizados nos filmes da Disney durante décadas, com suas belas e inocentes princesas que cantavam com os passarinhos. O segundo soube repetir a mesma fórmula, inserindo bons elementos pro universo criado pelo anterior, mas sem avançar muito narrativamente. Continuava o humor subversivo, politicamente incorreto, e a mensagem positiva sobre padrões de beleza alternativos. Quando surgiu o terceiro, a expectativa foi tão grande que a decepção era previsível. Não apenas o filme esqueceu boa parte dos elementos que tornaram a franquia diferente e interessante como deixou claro que o único interesse dos criadores era ganhar dinheiro, e não contar uma boa história.

E eis que nos deparamos com o quarto filme, Shrek Para Sempre, o capítulo final. Shrek continua sua crise da meia idade, já experimentada no filme anterior. Sua vida de casado está numa rotina desgastada, todos os dias parecem idênticos ao anterior. Ninguém mais teme o Ogro do pântano, pelo contrário, ele se torna uma atração turística. Quando a oportunidade surge, Shrek acaba por descobrir como seria sua vida se ele nunca tivesse nascido. Pitadas de A Felicidade Não Se Compra começam a surgir, e o filme se aproxima de um especial de fim de ano da Disney, sobre o valor da família, do amor, e de tudo que há de mais correto e banal possível.

Há uma clara intenção de resgatar elementos antigos, que possam redimir os personagens que em pouco tempo se tornaram icônicos na cultura popular americana, e que estavam tão desgastados. Em 9 anos, tivemos 4 filmes, um especial de TV, paródias com American Idol, e o que é pior, um declínio na qualidade dos roteiros. Como se não bastasse, Shrek perde o que há de melhor e subversivo, e parece cada vez mais com o que pretendia parodiar. O personagem perde sua individualidade, que é o que mais gostávamos nele desde o princípio. Ele não tinha a carência crônica dos protagonistas de desenhos animados americanos que não permitiam ser odiados nem por um único animal silvestre. E embora tente se livrar da rotina de uma forma torta, não tem como acreditar que voltar ao que era antes seria um final feliz.

O vilão da vez neste quarto filme é o baixinho Rumpelstiltskin, que convence Shrek a assinar um contrato não muito interessante, e para reverte-lo, o ogro terá que... beijar seu amor verdadeiro. De novo. O humor nas cenas de Rumpelstiltskin funciona bem pouco, ele não possui nenhuma simpatia e é bastante unidimensional, até mesmo pra uma caricatura. Em nada se compara com o hilário Farquaad (bem, ambos tentam compensar sua baixa estatura), ou o Príncipe Encantado e a Fada Madrinha. E apesar do farto material para ser utilizado, todas as bruxas são iguais e inexpressivas. O flautista de Hamelin, outra figura que poderia ter sido bem explorada, é desprovido de qualquer traço de personalidade. Os roteiristas (surpresa, os mesmos do terceiro) não parecem confiantes que seus protagonistas tenham carisma o suficiente, e preferem não criar concorrência com os vilões.

Outra característica que pode fazer Shrek ser bastante prejudicado no mercado brasileiro é que as piadas, principalmente as menos infantis, são de difícil tradução, e embora os dubladores se esforcem, o resultado é fraco. Um exemplo é a cena em que o Burro está puxando uma carroça e as bruxas o chicoteiam como que mudando a estação do rádio. Não era necessário traduzir as músicas, pois até identificarmos que aquela atrocidade em português era uma música pop famosa, boa parte da piada já se perdeu.

A boa notícia é que este deve ser o último da série. Shrek sai de cena pra descansar sua imagem - sabe-se lá até quando. Espero que quando ressuscitarem a franquia, e não há dúvidas de que Hollywood vai fazer isso (talvez não hoje, talvez não amanhã, mas algum dia) Fiona e Shrek achem um meio termo, onde não sejam apenas um daqueles casais que eram tão interessantes quando solteiros, mas insuportáveis depois de juntos.

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