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Críticas

Cineplayers

Divertido Shrek continua sendo, mas tornou-se parte de um padrão que não conseguiu ele mesmo quebrar.

6,0

Shrek Terceiro é, como as demais trilogias da temporada 2007, o pior da sua série, que termina aqui de maneira um tanto melancólica, mas com a vantagem de ser melhor que Homem-Aranha 3 e Piratas 3 (o que não diz muita coisa). Dá para rir em muitas cenas, pois o humor continua agudo. O roteiro é inteligente e tem ritmo. O que derruba o filme é que, enquanto os primeiros filmes tiravam sarro de praticamente tudo, esse Shrek Terceiro é edificante e conciliatório – tem até moral da história. 

Começa bem. Fiona quer ter um filho e Shrek não – sim, estamos num desenho animado, em tese destinado ao público infantil, e o personagem principal, o herói, detesta crianças e tem pesadelos com elas. Alçado ao posto de rei, é uma negação, tanto que sai à procura do segundo na linha sucessória para assumir – sim, o herói quer mesmo é ficar em casa com a amada e nada de fama, dinheiro e sucesso, ou seja, o mais puro “self made man” ou “american way of life” – os grandes personagens das histórias infantis também eram a perfeita encarnação de suas sociedades.

Só que o Príncipe Encantado faz um acordo com os vilões (entre eles a Bruxa Má, o Capitão Gancho e o Cavaleiro-sem-Cabeça) e, aproveitando a ausência de Shrek, invade o reino Tão Tão Distante espalhando terror e medo. Enquanto isso, o ogro precisa convencer Arthur, um adolescente fracassado (um “loser”, como dizem os americanos), a assumir o trono. Para isso precisa usar seus incipientes e peculiares dons paternais. Em suas aventuras, conta sempre com a ajuda de seus amigos Burro Falante e Gato de Botas, além de Merlin, professor de licença na escola de Arthur depois de uma crise nervosa.

O maior foco de riso, no entanto, está em Fiona, que, rainha grávida, recebe suas amigas patricinhas para o chá: Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve e a Bela Adormecida, que vive caindo no sono. O assunto principal da entediante conversa é o megahair da Rapunzel. Lá também estão o Dragão fêmea, mãe dos filhos do Burro, e uma das irmãs feias da Cinderela que, descobrimos depois, é um travesti de musculosas pernas cabeludas.

Shrek é um sucesso tremendo. Os dois primeiros filmes faturaram US$ 1,4 bilhão, sendo US$ 920 milhões do segundo, a terceira maior biheteria da história nos Estados Unidos, atrás apenas de Titanic e Star Wars, além de 130 milhões de DVDs, mesmo no auge que vivemos da pirataria. Venceu o Oscar da categoria e abriu, com sucesso, o prestigioso Festival de Cannes como convidado especial. 

Pena não ter conseguido manter o pique e fechar com chave de ouro seu sucesso monumental. O avanço tecnológico do terceiro filme é incrível, nunca o desenho esteve tão belo, mas não encanta mais. Mesmo quando tira sarro dos musicais da Disney (um entediado Shrek pede para ser morto antes da cantoria), Shrek Terceiro não chega perto do que fez no primeiro filme, em que o vilão da história era o chefão do estúdio (real), um executivo que demitira os criadores do ogro verde da empresa (o filme é como uma vingança) como levou os estúdios Walt Disney à insignificância artística dos últimos anos.

Ao se tornar ele próprio um padrão, Shrek perdeu a força, que estava exatamente em destruir estruturas clássicas dos antigos desenhos animados, invertendo clichês a seu favor.

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