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Críticas

Cineplayers

Um filme que traz oito histórias sobre o amor, que com certeza redefinirá os padrões de comédia romântica.

9,0

Simplesmente Amor é um daqueles filmes que você possivelmente assistirá um semelhante uma vez a cada cinco ou seis anos nos cinemas, isso se estiver com muita sorte. É uma película que chega ao mercado para redefinir a concepção de comédia romântica, em toda sua extensão. Mas, pessoalmente, acho esse título (comédia romântica) um tanto quanto depreciativo para a obra de Richard Curtis, visto que o filme está tão acima dos filmes do gênero que compará-lo realmente é um pecado.

Mas mais do que isso, no que tange as impressões iniciais ao filme, podemos fazer comparações de imediato. A primeira coisa que me veio à cabeça quando saí de minha primeira ida a ‘Love Actually’ foi justamente outro filme, o nacional ‘Carandiru’. E é muito fácil imaginar o porquê disso. Este filme britânico é a prova viva e consumada da incompetência de Hector Babenco, diretor do longa nacional. Richard Curtis dirige com calma e tranqüilidade nada mais nada menos que oito casais diferentes em ‘Simplesmente Amor’ e, em momento algum, você sente-se perdido no filme, pelo contrário, os personagens são interessantes o que faz com que a narrativa não fique disforme e de certa forma até mesmo irregular. Isso tudo eram defeitos da película de Babenco, que não teve competência para gerir um filme com tantos personagens como Curtis, aqui, teve.

Ambientado em época natalina na maravilhosa Londres, o filme conta o envolvimento de oito personagens (sem necessidade de utilizarmos aqui o termo “principais”, pois realmente não será preciso), suas paixões, emoções e também, frustrações. “Frustrações”, está ai um ponto que já começa a diferir ‘Simplesmente Amor’ de outras comédias quaisquer... Richard Curtis, apesar de estar fazendo um filme alegre que procure explorar o amor de todas as formas possíveis, seja ele um amor declarado, reprimido, tímido ou infantil, também não poupa o público de mostrar que, se por um lado alguns estão felizes, outros nem tanto... Mas é claro que ao final da película, com todas aquelas bonitas seqüências mostradas, o que realmente fica gravado em sua cabeça é que realmente o filme teve um final “feliz”, mas não se engane, pelo menos três dos casos mostrados realmente não acabaram de uma maneira tão “simpática” assim.

O grande idealizador do projeto, Richard Curtis, que escreveu e dirigiu o filme, já tem muita bagagem nessa área, mas certamente ‘Simplesmente Amor’ ficará marcado com sua grande obra... Entre outros filmes do diretor estão o ótimo ‘Quatro Casamentos e Um Funeral’ e o bom e comentando ‘Um Lugar Chamado Notting Hill’. Apenas a título de curiosidade, Curtis apenas escreveu essas comédias (ou participou da criação delas) e agora, estréia com o pé certo na cadeira de diretor. Coincidentemente, nesses filmes e agora novamente, Curtis trabalha ao lado de Hugh Grant, que realmente parece ter um certo tipo de dom para esse tipo de papel, seu jeito elegante e fino nunca sai de moda. Richard também já havia trabalhado com Colin Firth em ‘O Diário de Bridget Jones’.

Love and politics

Puxando esse grande elenco de atores e atrizes fantásticos temos Hugh Grant, obviamente, que como podemos perceber pelo trailer, sua postura galante e elitista lhe dera o papel de primeiro-ministro da Inglaterra. Como poderíamos esperar, o filme conta o envolvimento do primeiro-ministro com uma bonita secretária sua, Natalie, interpretada por Martine McCutcheon, que aqui trabalha em seu segundo longa metragem. No que diz respeito ao personagem de Grant, temos ótimas cenas. Engraçadas, que podem ser conferidas enquanto o ator contracena com seu par romântico e também nem tão engraçadas. É durante a história do primeiro-ministro (o personagem de Grant realmente não tem nome, apenas chamam-no de “primeiro-ministro” para facilitar a personificação de Tony Blair em Hugh Grant, uma boa jogada do diretor) que Curtis faz duras críticas tanto ao estilo imperialista norte-americano quanto a passividade britânica. Claro que no filme, as coisas acabam terminando da forma como Curtis desejaria que acabasse na vida real, mas como disse, o filme não deixa de ser também uma espécie de desabafo não só do diretor, mas ali você sente que ele está falando por milhares de pessoas, sejam eles britânicos ou não.

Pra deixar as coisas ainda mais engraçadas, quem faz o papel de presidente norte-americano é ninguém menos que Billy Bob Thorton (de ‘A Última Ceia’) e aqui mais uma vez esbarramos em críticas de Curtis que podem ser meramente notada ao percebemos a postura do presidente. Bob está muito bem alinhado no filme, o que certamente é uma surpresa, e ao mesmo tempo passa todo aquele ar superior que um presidente norte-americano aparenta ter. Frases como “lhe daremos tudo que possamos dar para aumentar a cooperação entre nossas nações. Contanto que não seja algo que eu obviamente não queira dar” dão ainda mais vida e também personificação ao personagem de Billy Bob.

Love at work

Depois de dissecarmos a história de Hugh Grant no filme, vamos falar de outros dois personagens que tem uma relação que teria tudo para dar certo, entretanto, aqui Curtis nos prepara para mais uma surpresa... O “amor” dessa relação não é demonstrado no afeto de Sarah (Laura Linney, de ‘Sobre Meninos e Lobos’) por Karl (Rodrigo Santoro, de ‘Abril Despedaçado’) mas sim pelo carinho que Sarah sente sobre seu irmão, portador de necessidades especiais, colocando-o como prioridade acima de tudo. O que pode realmente incomodar algumas vezes durante essa relação é: por que simplesmente Sarah não conta para Karl a respeito de seu irmão? Talvez porque não quisesse provocar uma má impressão ou seja lá qual for o motivo, a história de Sarah realmente não tem o que poderíamos chamar de um final feliz. Sua vida amorosa acaba virada de cabeça para baixo ao mesmo passo em que ela se dedica tão arduamente a ajudar seu irmão, e é nesse ponto que temos a tal demonstração do verdadeiro amor nessa etapa do filme.

Bem, é óbvio que ao tratarmos desse caso no filme não poderíamos deixar de comentar a atuação de nosso astro e talvez representante único nacional entre atores e atrizes no circuito internacional, Rodrigo Santoro. Será que o mesmo deixou a desejar em seu primeiro papel real em um filme estrangeiro? Até porque sua participação na seqüência da série “As Panteras” foi tão ridícula que mal poderíamos chamar de participação, foi uma mísera ponta mesmo. Mas agradavelmente a resposta para a pergunta acima é um caloroso “sim”. Santoro está muito bem em ‘Simplesmente Amor’, com bom tempo de permanência em tela e o que é mais importante: com falas. Talvez o que tenha mais me chamado atenção ao ver Rodrigo em ação tenha sido seu sotaque de estrangeiro, praticamente inexistente aqui, o que é uma coisa difícil de se reprimir. Artistas como Jennifer Lopez e outros que moram há algum tempo nos Estados Unidos por mais que tentem não conseguem esconder suas raízes através da fala, mas Rodrigo conseguiu. Seu personagem é um típico trabalhador galante inglês e, como isso não é algo que exija tanto trabalho como o personagem do mesmo em ‘Abril Despedaçado’, dizemos que ele fez de maneira correta (ou simplesmente “boa”) o que realmente deveria ter feito. As portas de Hollywood para o ator brasileiro com certeza permanecem abertas.

Love is elementary

Dando prosseguimento a nossa análise, passamos a outro caso mostrado na película. É uma sequência que poderíamos chamar de “bonitinha”, à princípio. Mas é claro que é muito mais que isso. Aqui vamos falar um pouco a respeito de Liam Neeson (talentoso e famoso, não precisa nem de apresentações) e o até então desconhecido Thomas Sangster, fazendo sua primeira aparição em um longa metragem, com estilo. Eles fazem o papel de Daniel e Sammuel, respectivamente. Daniel é um senhor de meia idade que acabou de perder a esposa e que agora tem a difícil tarefa de cuidar do filho que ela deixou (Sammuel); ou seja, Daniel é padrasto de Sammuel.

É realmente impossível tentar analisar a atuação de um ou outro separadamente quando estamos tratando especificamente desse caso, Sammuel completa Daniel e vice e versa. O envolvimento entre os dois é muito especial. Tudo começa quando Daniel começa a levantar suspeitas sobre seu filho, ao desconfiar que o mesmo esteja se envolvendo com drogas por estar parecendo tão depressivo ultimamente. Ao tentar descobrir as coisas um pouco mais a fundo, Daniel descobre na verdade que Sammuel está perdidamente apaixonado por uma colega de classe, com apenas onze anos. Daniel sente-se aliviado ao mesmo passo que Sammuel pergunta ao pai: “E existe agonia pior do que a agonia de estar apaixonado?”. O envolvimento entre os dois é realmente fantástico, prenderá qualquer um enquanto seu relacionamento estiver sendo mostrado em tela. Para caprichar ainda mais, (como já tinha dado o significado da palavra antes, irei utilizá-la novamente) o final dessa seqüência é um dos mais “bonitinhos” do filme. Esperado? Sim. Previsível? Sim. Decepcionante? De forma alguma.

Love American Style

Quando agora iremos tratar do personagem Colin Frissell, muitos se perguntarão: “O que ‘Simplesmente Amor’ tem a ver com American Pie?” Quase nada, exceto por essa etapa “meio” pastelona da película. Colin Frissell é interpretado pelo ator Kris Marshall que vivia de pequenos papéis em pequenas produções até conseguir um lugar no ótimo ‘Iris’, com Jim Broadbent em 2001. A história de Colin é engraçada e muitos a acharão forçada demasiadamente. Frissell é um típico britânico que vive de bicos e está com os hormônios à flor da pele. Numa certa etapa de sua vida, o personagem de Marshall cisma que não consegue arrumar mulheres na Inglaterra porque ali as mulheres são muito difíceis e metidas e, então, decide alugar seu apartamento para conseguir dinheiro para bancar uma viagem aos Estados Unidos.

Colin então finalmente consegue sua esperada viagem aos Estados Unidos e assim que chega no aeroporto Milwalkee pede para que o taxista o leve para um bar mais próximo. À primeira vista a passagem de Colin no filme não é nada mais que divertimento exarcebado, entretanto, se você olhar com um pouco mais de cuidado, perceberá que na verdade temos ai mais um toque pessoal de Richard Curtis na direção e mais uma clara “cutucada” ao país vizinho. O diretor coloca as jovens mulheres norte-americanas completamente no chão ao chamar, implicitamente, as mesmas de amebas e fáceis de serem conquistadas, enquanto ao mesmo tempo coloca as britânicas como inteligentes e elegantes.

Agora, é perfeitamente compreensível que em alguns filmes acabemos por notar algumas “pontas de luxo”, atores, atrizes ou até mesmo diretores que aparecem em pequenos papeis nos próprios filmes (como é o caso de Shayamalan em ‘Sinais’) mas realmente o final da história de Colin acabou por abusar um pouco de nossa boa vontade. Shanonn Elizabeth (de ‘American Pie’) e Denise Richards (de ‘Garotas Selvagens’)? Havia necessidade? É óbvio que não... Seria muito mais prático e convencional ter colocado uma das meninas que realmente conversaram com Frissell no bar. Mas no final das contas acabamos mesmo é dando boas risadas com o personagem de Marshall, às vezes um pouco forçadas, mas ainda assim são risadas.

Love rocks on

‘Simplesmente Amor’ é um filme aberto com uma bonita apresentação, ou deveria dizer uma bonita mensagem. Richard Curtis nos mostra várias tomadas de pessoas felizes chegando no aeroporto de sua cidade, e ele singularmente procura explorar e extrair o amor por detrás de cada situação individual que ele visualiza. Amor de irmãos. Amor de namorados. Amor de casados. Enfim, uma maneira simples e correta para depois exibir o título “Love is All Around”, que aos poucos transforma-se em “Love Actually”. Uma apresentação simples mais ainda assim muito bela.

Logo após dessa tomada inicial, somos de cara apresentados ao primeiro personagem – ou a primeira história – do filme. Acreditem, é realmente um prazer enorme falar sobre esse cidadão. Interpretado magistralmente por Bill Nighy, atrevo-me a dizer que Billy Mack é um dos melhores personagens do filme. É muito fácil dizer isso porque você simplesmente ri em todas, eu disse todas, as tomadas em que o ator aparece, é impressionante. Pra começar, Billy Mack é uma caricatura humana. Procurem lembrar de um grande ator chamado Daniel Day-Lewis. Lembraram? Então, lembrem-se dele caracterizado como “o açougueiro” em ‘Gangues de Nova York’. Simplesmente tive o maior prazer em escrever sobre Daniel na críitica que escrevi sobre o filme de Martin Scorsese; digo isso porque o açougueiro era um personagem de características e traços surpreendentemente fortes, uma verdadeira caricatura humana. Só que naquele filme essa caricatura, esse impacto que o personagem de Daniel traz para o púublico é de algo assustador e negativo, enquanto a postura de Billy Mack é completamente oposta, o personagem de Bill Nighy possui traços marcantes e tem uma postura firme, a sua imagem na forma de caricatura humana passa uma mensagem agradável e positiva ao público, apesar de concordar que a de Daniel Day-Lewis seja muito mais rica.

Billy Mack é um antigo astro do rock inglês que há muito tempo não faz sucesso algum. Só que agora, seu produtor e empresário Joe (interpretado por Gregor Fisher, que fez um número considerável de filmes na década de 80 nos cinemas mas que na seguinte havia completamente desaparecido) quer relançá-lo no mercado sem que Billy, claro, tenha que fazer muito esforço. Então, para isso, qual a idéia de Joe? Simples, regravar um antigo sucesso: “Love is All Around”, substituindo apenas a palavra “love” por “Christmas”, que significa "Natal" em inglês. Mack então começa uma engraçada disputa com uma banda teen qualquer inglesa para ver qual será a múusica núumero 1 desse Natal nas paradas das rádios inglesas... Pensa que acabou? Pelo contrário está só começando...

Mack é divertidíssimo. Fala exatamente o que pensa, a mais simples e pura verdade quando perguntado, seja em relação a seu mais novo trabalho, seja em relação ao que o cantor acha das bandas teens mundo afora ou até mesmo o que ele pensa de seu empresário “gordo” como ele mesmo o chama. As expressões do ator Gregor Fisher praticamente dizem tudo quando Billy Mack está no ar seja de um programa de rádio, seja num programa de auditório, enfim, o cara da sempre um jeito de soltar suas pérolas. Não vou estragar a surpresa do público, mas realmente ver aquele show que Mack “prometera” no final do filme enquanto a ação de outra história se segue (a de Sammuel) é realmente hilária.

Mas a maioria das pessoas deve estar se perguntando onde está o “amor” nisso tudo!? Muito simples, aliás, quem dá a explicação é o próprio Billy ao final da película quando o mesmo conversa com Joe a respeito do significado do natal. Com sua risada clássica (onde as vezes até escutamos uma espécie de “ronco” entrelaçado) Billy se abre com seu empresário, a primeira vista pensamos: “Será que ele é?” Mas logo descobrimos que não tem nada a ver e que o que Mack está realmente tentando dizer a Joe é que o natal foi feito para ser passado com aquelas pessoas que são realmente importantes pra você.

Love is awkward

Bem, ao ir assistir “Simplesmente Amor” você pode deparar-se com uma situação um tanto quanto inusitada. À primeira vista um filme que fala sobre amor e todas as coisas boas trazidas por esse sentimento supostamente deveria ser um filme leve, como a história de Daniel e Sammuel provara ser. Entretanto, ele acabou recebendo uma pesada censura “Rated R” nos Estados Unidos e aqui no Brasil ela acabou ficando por volta dos quatorze anos. O motivo você vai conferir realmente logo agora, quando falaremos do caso de John e Judy.

Martin Freeman (que aqui faz sua estréia, seu primeiro longa metragem que lhe renderá outros trabalhos no futuro) e Joanna Page (de ‘From Hell’, onde contracena ao lado de Johnny Deep) interpretam o casal – um tanto quanto sem graça, mas ainda assim impactante – John & Judy. Ambos são colegas de uma profissão que aos olhos do público soa um tanto quanto estranha: dublês de cenas pornográficas em produções de Hollywood. E assim se conhecem, em meio a um trabalho; durante a perpetuação do relacionamento dos dois, o público vai ficando cada vez mais espantado com a natureza das cenas a medida que elas vão ficando mais calientes. Poucos minutos de produção são passados até que ambos estejam completamente nus gravando.

O “amor” do relacionamento surge no ambiente de trabalho mesmo, ambos são tímidos até não poder mais e suas conversas durante as cenas (ah, será que alguém realmente prestou atenção nelas?) apenas comprovam ainda mais isso... Aliás, temos aí uma situação um tanto quanto conflitante, personagens extremamente tímidos em profissões que jamais poderiam exigir pessoas com essa característica. Mas tudo bem, em ‘Simplesmente Amor’ isso é apenas um pormenor insignificante.

Bem, no que diz respeito ao desfecho desse episódio ele é o mais bobinho de todas as seqüências. Judy diz a frase: “All I want for this christmas is you”. Pensamos que finalmente a coisa vai engatar mas ela simplesmente pára aí, mas tudo bem... foi um final razoável para um casal tão tímido (ou nada tímido) assim.

Love unspoken

Keira Knightley realmente está com tudo em Hollywood. A menina que estreou com o pé certo em ‘Piratas do Caribe – A Maldição do Pérola Negra’ provou saber escolher bem seus papéis, o que é uma característica essencial para um ator ou atriz manter-se constantemente “em forma” em Hollywood.

Esse episódio talvez seja o que dê uma virada mais significativa da metade do filme para frente. Ele conta a história de Juliet (Keira) e Peter (Chiwetel Ejiofor, um bom ator em ascensão que participou recentemente do comentado ‘Coisas Belas e Sujas’). O casal realmente acabou de trocar alianças numa belíssima cerimônia nada convencional por conta do amigo do casal, Mark (Andrew Lincoln, que não é estreante mas assim como outros é sua primeira grande participação em um filme de grande expressão), que acabou preparando uma festa surpresa na saída da igreja.

Até a metade do filme o que realmente intriga o público é a tarefa de descobrir por qual dos dois Mark é apaixonado: por Juliet ou Peter... O envolvimento e a melancolia de Mark com o casamento é tão calmo e ao mesmo tempo tão calamitoso (estranho não!?) que até mesmo a personagem de Laura Linney, Sarah, pergunta a Mark há quanto tempo ele estava apaixonado por um dos dois e que se quisesse se abrir ela estaria ali para escutar.

Esse mistério segura a seqüência das cenas desse casal até o momento em que Juliet acaba indo pegar a fita de gravação de casamento na casa de Mark e, evidentemente, acaba por tudo descobrir. A expressão de Andrew Lincoln diz praticamente tudo, é ao mesmo tempo triste, reveladora e bonita. É obvio que não revelarei a escolha do personagem nesse exato momento, do contrario estragaria a surpresa de alguns bons minutos de deduções.

O final desse bonito caso de amor também é controverso. Ao mesmo passo que é muitíssimo bonito e fino, é também triste. Como o próprio Mark ostentava “era uma questão de auto-preservação”. O diretor de fotografia também abusou dos detalhes ricos do ambiente em que a história desse triangulo amoroso ocorreu. As tomadas de Londres estão maravilhosas bem como a trilha sonora, mas isso comentaremos mais especificamente a frente. Histórias de amores reprimidos ou não declarados geralmente rendem histórias tristes com finais infelizes, aqui, tínhamos tudo para ter mais um deles, entretanto, a forma como Curtis fez com que o personagem de Andrew demonstrasse “oficialmente” seu amor pelo outro personagem em questão realmente não faz com que esse sentimento de tristeza brote dentro das pessoas, pelo contrário, Curtis e Andrew acabam é conseguindo extrair grandes sorrisos e suspiros do público. Palmas para ambos. Belíssimo trabalho.

Love as a second language

Como havia dito no início desta análise, essa não é a primeira vez em que Richard Curtis e Colin Firth trabalham lado a lado; e aqui pelo jeito a química entre ambos provou mais uma vez dar tão certa quanto deu em ‘O Diário de Bridget Jones’.

Em ‘Simplesmente Amor’ Colin Firth interpreta na verdade o sereno e calmo Jamie que começa o filme muitíssimo bem servido, ao lado de uma mulher maravilhosa, declarando-se sem parar, minuto atrás de minuto, até que chega em casa mais cedo e descobre que sua mulher está o traindo. Caso clássico. A partir daí temos o inicio da história de Jamie, que resolve ir tirar umas merecidas férias em sua casa de campo no interior da França. Lá Jamie é apresentado a sua mais nova faxineira que por sinal é portuguesa, Aurélia (Lúcia Moniz).

O empecilho da dificuldade de comunicação vai aos poucos sendo quebrado. Jamie fala francês e inglês, porém não fala nada de português; enquanto Aurélia fala português, entende um pouco (mas não fala) francês e, obviamente, não entende uma palavra de inglês. Jamie, que por sinal é escritor, ao lado de Aurélia nos protagonizam uma das melhores cenas do filme que é até mesmo mostrada (uma pequena parte) no trailer, se não me engano. É claro que estamos falando da tomada da lagoa em frente a casa de campo dele. Do inicio daquela seqüência até o final dela, onde os dois conversam a respeito do livro dele, só ouvimos risadas na platéia, e claro, temos ai também a primeira fagulha de expressão do amor entre os dois quando Aurélia retruca Jamie quando ele diz que levá-la para casa era a melhor parte do dia dele. A moça diz que essa era justamente a pior, pois iria afastá-la dele.

O final dessa pequena história é previsível e também é uma das últimas a serem mostradas, talvez até seja o caso ou situação mostrado que termine de maneira mais doce e feliz, mas enfim, aqui a torcida do publico é recompensada por Richard Curtis, que lhes dá o final que querem, diferentemente de outro caso do filme, como por exemplo o já citado relacionamento entre Sarah e Karl. Tanto Colin Firth como Lucia Moniz tem uma afinidade brilhante em cena, ambos estão ótimos em ‘Love Actually’.

Love lasts a lifetime

Bem, finalmente chegou a hora de falarmos a respeito do último caso de amor em ‘Simplesmente Amor’. À primeira vista o leitor deve estar se perguntando: “Mas nossa, qual a duração do filme para que tantos casais sejam apresentados?”. Respondendo a essa pergunta digo que o filme tem aproximadamente duas horas e vinte minutos de tempo de duração, mas provavelmente você sairá perplexo do cinema. O filme é tão bom e flui de maneira tão suave que pra você terá se passado apenas uma hora ou uma hora e meia em sua cabeça.

Deixei para falar sobre esse caso em última estância porque, como de praxe, tudo aquilo que é excelente sempre deixamos para o final. E aqui temos mais uma situação envolvendo um triângulo amoroso, dessa vez com dois grandes nomes do cinema envolvidos na trama. Estou falando de Allan Rickman (de ‘Razão & Sensibilidade’), que interpreta um pai de uma família aparentemente super bem estruturada e com a cabeça no lugar; Emma Thompson (também de ‘Razão e Sensibilidade’), faz justamente o papel de Karen, esposa dedicada de Harry. A atriz Heike Makatsch (de ‘Resident Evil – Hóspede Maldito’) interpreta Mia, a assessora de Harry que vai aos poucos fisgando pela tentação a atenção de Harry. Vale lembrar também apenas como curiosidade que Karen é irmã do “primeiro-ministro”, interpretado por Hugh Grant.

Aliás, uma coisa interessante e que dá vida e ritmo ao filme é o fato que você sente a ligação forte entre os personagens, entre o elenco, mesmo quando um ou outro que esteja em cena não pertença exatamente a aquela seqüência, temos ai pequenas participações e observamos um fenômeno de “cross-over”, unindo e aproximando as histórias, fazendo com que elas, na verdade, pareçam uma coisa única e integrada ao público.

Bem, seguindo a trama desse último caso, parece e realmente é óbvio desde o início o envolvimento de Harry com Mia, apesar de ter uma mulher maravilhosa ao seu lado. Mia faz de tudo para fisgar Harry e evidentemente Karen descobre com o passar do tempo. Faço aqui mais um elogio ao diretor Richard Curtis que poupa Allan Rickaman de ter que fazer uma tórrida cena de sexo para que o adultério fosse realmente verificado. Curtis joga com a imaginação das pessoas ao apenas passar para o público que Harry deu um colar de pérolas para Mia, e depois, logo em seguida, foi mostrado Mia usando o mesmo colar só com roupas intimas porem sem sinais de Harry por perto. O que Richard quer com isso é abrir outra discussão... O adultério se comprovaria apenas se o ato sexual entro os dois personagens fosse de fato mostrado ou se trair, na melhor (ou pior) concepção da palavra fosse realmente dar (e apenas dar) um presente para outra pessoa com as intenções que Harry tinha em mente? Mais uma jogada quase imperceptível mas ainda assim fantástica do talentoso diretor e roteirista.

O filme ainda conta com uma participação de luxo justamente nessa seqüência do filme, estamos falando do também anunciado no cartaz principal do filme, Rowan Atkinson (de ‘Johnny English’), que consegue arrancar quase como sempre ótimas risadas do público ao fazer o papel de vendedor de jóias de uma famosa loja inglesa, que por sinal é a mesma em que Harry compra secretamente o presente de Mia.

No que tange a direção de arte, a equipe de Curtis trabalhou brilhantemente; os laços e traços natalinos presentes no filme, bem como a fotografia e os cenários são praticamente um show a parte. Londres está realmente impecável para um romance pós-moderno adaptado por Richard Curtis. O filme, um último capricho, ainda acaba da mesma bonita forma como começou, com as lindas imagens gravadas em câmeras amadoras nos aeroportos...

A trilha sonora de ‘Simplesmente Amor’... Esse item realmente merecia um capítulo inteiro a parte; digo isso porque ela é realmente fantástica. Temos Beatles, Bay City Rollers, Dido, Justin Timberlake, Norah Jones, Santana, The Calling e mais, muito mais... Mas talvez a maior surpresa tenha sido mesmo ‘Maroon 5’ com a música Sweetest Goodbye, simplesmente a cara de ‘Love Actually’.

Por fim, gostaria apenas de acrescentar que ‘Simplesmente Amor’ é um filme excepcional que redefinirá o termo “comédia romântica” por alguns anos daqui pra frente. O filme traz ótimas histórias, excelentes personagens, direção fantásticas e também faz duras criticas, como já dito. A única coisa que posso recomendar e que vejam esse filme custe o que custar; e lembrem-se...

“All you need is Love“.

Comentários (1)

Fernanda Pertile | segunda-feira, 16 de Janeiro de 2012 - 02:58

É sempre bom re-assistir esse filme, uma obra prima do Curtis. Me arrisco a dizer que é uma das melhores comédias românticas já feitas...

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