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Críticas

Cineplayers

Uma comédia inteligente, ousada e fora dos padrões da indústria de Hollywood. Obrigatória!

9,0

South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes é uma das animações mais corajosas da década de 90. Coloca descaradamente temas que muitos filmes considerados sérios não conseguem colocar na tela. É um filme feito por americanos que debocha dos próprios americanos e da sua hipocrisia e arrogância. Um tema que vem sendo cada vez mais discutido nos últimos anos, principalmente agora com a guerra, onde os Estados Unidos mais do que nunca se vêem isolados em relação ao resto do mundo. Fora isso, South Park ainda serve como um divertido e hilário entretenimento.

Confesso que sou fã da série televisiva, acompanhava (pois hoje em dia está difícil de acompanhar para mim) desde o primeiro episódio, e sempre foi a minha segunda série de animação favorita (perdendo para Os Simpsons). Era difícil um episódio ser ruim. O grupinho de típicas crianças norte-americanas (tá bom, talvez mostradas com um pouco de exagero) formado por Kyle, Eric, Stan e Kenny, cada qual com características de personalidade bem distintas, ganhou seu filme ainda relativamente cedo na carreira da série (Os Simpsons tem mais de 13 anos e ainda não ganharam seu filme). Um filme que não decepcionou quase ninguém. Ele é ainda mais irônico, questionador e muito mais divertido que os melhores episódios para a TV já lançados.

A história pode parecer confusa, sobretudo para quem não sabe nada ou sabe muito pouco sobre a série, mas vamos lá... Tudo ia bem – como sempre – na calma cidadezinha de South Park, no interior dos Estados Unidos. Até que um fenômeno do cinema, produzido no Canadá, zarpou nas salas da cidade: o novo filme de Terrance & Philip, figurinhas já conhecidas pelas crianças. A diversão do show de T&P é criar piadas falando palavrões (que são realmente fortes) e peidando. As crianças da cidade vão ao delírio com isso (é engraçado mesmo – funciona perfeitamente tanto na série como no filme), e passam a se comportarem como os dois protagonistas.

Um grupo de mães, lideradas pela Sra. Broflovski (mãe de Kyle), resolve tomar uma atitude contra T&P, e em pouco tempo o culpado pelos palavrões não somente é se torna o filme, como o próprio Canadá, onde ele foi produzido (“é de lá que vêm todos os nossos problemas”, fala a Sra. Broflovski em determinado momento do filme). Aí que vem a grande realidade do filme: imitando os dias atuais, ao invés de resolver o problema (problema?) civilizadamente, os Estados Unidos resolvem enfrentar uma guerra de largas proporções com o Canadá, por se sentirem ofendidos pelo filme. Pois é, não é apenas na vida real que a força bruta prevalece sobre a lógica...

Ironicamente, Saddam Hussein em pessoa (quase literalmente, pois o personagem utiliza um desenho que é uma foto do ditador iraquiano – até hoje me pergunto como, e principalmente SE, os produtores conseguiram mesmo autorização para utilizar o rosto de Saddam no filme) aparece, quando Kenny morre (situação típica de todos os episódios da série televisiva) e vai parar no Inferno, onde encontra Saddam e o Diabo como bons amigos. A história ainda dá espaço para outras discussões, mesmo que apresentadas de modo sutil ou rápido, como o racismo (em uma cena incrivelmente hilariante) e até mesmo a pornografia na Internet. Sem dúvida, um roteiro genial de Trey Parker e Matt Stone, os mesmos escritores da série (ambos também fazem a maioria das vozes dos personagens).

O que mais me surpreendeu no filme, porém, já que a crítica à sociedade americana já era esperada (embora não em tal grau de ousadia), foram os números musicais. South Park está cheio deles, com músicas e letras divertidas e muito bem realizadas. “Blame Canada” inclusive rendeu ao filme uma indicação ao Oscar de canção original, e teve uma maravilhosa interpretação de Robin Williams na noite do show. Injustamente, acabou derrotada. Mas a minha favorita é “What Would Brian Boitano Do?”, cantada por Cartman no filme.

Visualmente, o filme segue o mesmo molde que consagrou a série de televisão. Traços e formas totalmente simplistas e movimentação dos personagens bastante tosca. O mais engraçado é a maneira encontrada para representar os canadenses: são desenhos AINDA MAIS toscos e mal-feitos. Quando eles falam, a parte de cima da cabeça inclusive separa-se do resto do corpo, o que é muito engraçado de se ver.

South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes é o meu filme de animação favorito de todos os tempos. Pode não ter a magia presente nos clássicos da Disney, e não ser visualmente maravilhoso como os longas da Pixar, mas tem personalidade própria, e uma mensagem bem importante a passar. E junto com tudo isso, você ainda vai receber risadas que serão difíceis de serem esquecidas. Quem curte a série de TV vai entender melhor, mas mesmo quem não conhece muito sobre ela deveria dar uma olhada no filme. Só uma última recomendação: deixe as crianças afastadas!

Comentários (1)

Landerson DSP | sexta-feira, 17 de Maio de 2013 - 19:51

Eu tenho Kyle's Mom's a Big Fat Bitch como a minha musica preferida do filme.

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