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Críticas

Cineplayers

Episódio II é um Star Wars bem movimentado e divertido, mas ainda não é uma obra-prima.

8,0

Como pode uma série lançada nos longüínquos anos 70 sobreviver ao mundo de hoje sem perdas? Como pode uma série, marcada por efeitos especiais e cenários que fizeram milhões de crianças, adolescentes e até mesmo adultos, sonharem alto, mas que hoje possui ideais desgastados, conseguir competir com novidades como Matrix, Homem-Aranha e Senhor dos Anéis? Será que é sequer possível? Os críticos, em geral, dizem que não. Star Wars - Episódio 2: Ataque dos Clones foi o filme da série que menos vendeu ingressos e menos rendeu dividendos desde 1977. É o primeiro filme a encerrar o ano nas bilheterias numa posição que não seja a primeira...
 
Em 2002, Episódio 2 ficou apenas na quarta colocação no mercado mundial; na terceira no mercado norte-americano (o maior disparado da indústria do cinema); e no Brasil, o filme sequer conseguiu ingressar na lista dos 10 mais vistos do ano passado, perdendo para seqüências fracas, como Homens de Preto 2 e - vejam só - Xuxa e os Duendes 2. Razões para isso não faltam, dizem os especialistas:
 
1) A baixa qualidade, em geral, do capítulo anterior, Episódio 1, na opinião dos críticos e público em geral (não contando as crianças, que adoraram Jar-Jar Binks), tirou o interesse de milhões de pessoas de assistirem ao segundo episódio;
 
2) O filme é muito mais obscuro, afastando automaticamente o público menor e uma boa parte do público feminino (que não se encantou com o fraco romance entre Anakin e Amidala);
 
3) Porém, o fato mais óbvio é simples de explicar: Star Wars já não desperta mais interesse no público casual, aquele que vai ao cinema para se divertir apenas, sem exigência de qualidade. Este público migrou para franquias como Harry Potter, Senhor dos Anéis e, no ano passado, para Homem-Aranha.
 
Mas, mesmo com esses pontos negativos, a série ainda é a que possui o maior número de fãs, sem sombra de dúvida. O fato é que esta nova trilogia não está conseguindo, principalmente pelo fator número 3, conquistar NOVOS fãs.
 
Mas deixando tudo o que é extra-filme de lado, será que Episódio 2 merece tanto menosprezo? Certamente que não. É verdade que o filme está recheado de problemas. Alguns deles, graves. Mas o principal fator que fez Star Wars ser uma revolução em 1977 está presente neste novo filme: a diversão. Episódio 2 está bem à frente do último filme, A Ameaça Fantasma, nesse quesito.
 
Antes de tudo, é bom salientar que Star Wars é a visão de um homem: George Lucas. Star Wars é, segundo Lucas, sobre a ascenção e a queda de uma pessoa, ANTES de ser sobre planetas, guerras, república ou império. Essa pessoa é Anakin Skywalker. Em Episódio 2, que ocorre 10 anos depois dos acontecimentos vistos em A Ameação Fantasma, Anakin (Hayden Christensen) é um jovem crescido e já bastante experiente. Durante os últimos anos, participou de inúmeras missões, ao lado de seu mestre Obi-Wan Kenobi, auxiliando a ordem dos jedi na tentativa de acabar com qualquer movimento separatista da grande república.
 
Sua nova missão é cuidar pessoalmente da ex-rainha de Naboo, e agora senadora, Padmé Amidala (Natalie Portman), que está sendo misteriosamente perseguida por um inimigo ainda desconhecido, que quer lhe tirar a vida. Enquanto isso, Obi-Wan Kenobi parte numa investigação paralela para descobrir por que motivo estão querendo matar a senadora.
 
Em Star Wars a história nunca foi o ponto central, mesmo que ela seja alvo de estudos aprofundados por parte de seus fãs. O foco principal de qualquer Star Wars, como já foi dito aqui, é a diversão. Duelos de sabre-de-luz, jedi contra sith, aliens esquisitos, planetas incríveis, alta tecnologia, tudo isso faz parte de Ataque dos Clones. É um espetáculo para os olhos, mesmo que em certos momentos seja em um nível um tanto quanto exagerado. Mas só pelo trabalho que certamente a equipe de arte, tanto na parte de maquetes quanto na parte de modelos computadorizados, deve ter tido, nos faz admirar a paixão com que Lucas está levando - mesmo com tanto criticismo à sua volta - a sua nova trilogia em frente.
 
Como Tolkien quando escreveu a trilogia O Senhor dos Anéis, porém de forma diferente, Lucas cria um mundo totalmente à parte do nosso, um lugar para, durante o tempo de projeção do filme, mergulharmos e nos esquecermos do nosso mundo para contemplar o mundo dele. Mas por que "de forma diferente"? Bem, Tolkien tinha todo o tempo do mundo, centenas de páginas se quisesse, para descrever seu mundo; Lucas tem apenas pouco mais de duas horas de filme para inventá-lo. E ele faz isso, na maior parte do tempo, com maestria. Porém, às vezes, é tanta coisa para se ver na tela, tanta informação visual, que logo nos perguntamos se isso não serve apenas para nos deixar menos atentos à história. Nesse caso, voltamos ao ponto do parágrafo anterior, onde foi falado que, em Star Wars, a história não é o ponto central.
 
Ela tem, claro, seus furos, suas imperfeições que, mesmo não sendo o ponto central do filme, não podem ser deixadas de lado. Muita coisa presente na história de Episódio 2 é desnecessária e muitas outras são mal realizadas. O romance entre Anakin e Padmé, que será fundamental para o futuro nascimento do pequeno Luke, herói da trilogia original, por exemplo, não precisaria ser tão claro, evidente. E também não precisaria ocupar tanto tempo no filme, fazendo o ritmo do filme cair vertiginosamente durante as cenas entre o casal. Aqui nos perguntamos novamente se isso é o que Lucas sempre quis ou se é o que ele acha que é como o seu público (no caso, feminino), gostaria que fosse.
 
Mais um exemplo. A mudança do tipo de humor entre a trilogia antiga e esta nova (até agora) é outra negativa. Em Episódio 1, as cenas engraçadas eram de responsabilidade do alienígina Jar-Jar Binks. Acabou se tornando um dos personagens mais odiados de todos os tempos no cinema, o que é evidentemente um exagero e má vontade para com o personagem. Depois de tanta chinelada por causa de Binks, Lucas faz o foco voltar a estar na dupla R2-D2 e C3-PO, os responsáveis pelas divertidas cenas de humor que existiam nos filmes da trilogia original. O problema é que agora as cenas envolvendo ambos os personagens, embora divertidas, pouco adicionam à história; na trilogia original você sempre sentia que a história ia em frente com suas piadas. Por exemplo, numa das seqüências iniciais de O Retorno de Jedi, onde os robôs foram ao encontro de Jabba... C3PO bate na porta, não é atendido de pronto, e diz que devem desistir. A história avançada nesse ponto. Algo acontecia para ela avançar ao mesmo tempo que a situação divertia. Em Episódio 2, há uma seqüência enorme, a partir da fábrica de dróides, na parte final do filme, que não adiciona absolutamente nada, apenas risadas baratas. Isso pode contradizer a alegação de que a história não é o mais importante da saga, porém desperdiçar bons minutos com humor barato (ainda mais em uma cena que deveria ser bem mais tensa, onde muitos jedi são aniquilados) também não é nada agradável.
 
Falando especificamente dos efeitos especiais, há um grande salto dos já revolucionários efeitos (para os níveis de 1999) de A Ameaça Fantasma. Só que, convenhamos, Lucas exagerou. A grande maioria do filme é composta por cenários artificiais, totalmente gerados no computador. E a interação entre estes cenários com as pessoas de carne e osso ficou devendo um bocado. A diferença na iluminação é às vezes gritante, e chega a incomodar e tirar parte da magia presente naqueles mundos fantásticos. É um problema técnico bem grave. Mas do lado bom, os personagens computadorizados estão ainda mais realistas que em A Ameaça Fantasma. Desta vez Yoda é totalmente feito no computador, pois para as ações que o personagem exerce no filme (como a utópica luta final entre ele e Count Dooku - no Brasil chamado de Dookan para evitar piadinhas de tom sexual), seria impossível utilizando a velha e boa marionete presente nos filmes anteriores. Porém, Frank Oz ainda empresta sua voz ao personagem, e o faz de forma magistral (uma das vozes mais marcantes de toda a série, sem dúvida).
 
A trilha sonora deste episódio continua a cargo de John Williams. Sem o mesmo teor de novidade que existiu em Episódio 1, Williams recicla e reaproveita muito das trilhas dos filmes anteriores, o que de jeito nenhum é uma má coisa (Howard Shore fez isso também, em menor escala, em As Duas Torres). A principal melodia nova é o tema romântico de Anakin e Amidala, chamado de Across the Stars, que é lindíssimo de se ouvir. Há outras melodias bem bacanas, contudo, creio que a trilha presente em Episódio 1 era levemente superior.
 
A diversão! Finalmente chegamos no ponto principal! Episódio 2 tem seqüências de ação incríveis. Estão entre as melhores vistas nos últimos anos. É puro Star Wars. A perseguição noturna na imensa Coruscant é de tirar o fôlego. É uma cena exagerada, mas é tão legal que não dão dá para tirar os olhos. O melhor, contudo, é a parte final do filme, no planeta Geonosis, onde o mistério investigado por Obi-Wan, e onde Anakin e Amidala, agora presos por Dookan, acabam se reencontrando. São as melhores cenas envolvendo Jedis já vistas na série, e o clímax, envolvendo o início da guerra entre clones e dróides (só no final o título do filme faz sentido), é uma bagunça visual extremamente fascinante de ser assistida. Logo se chega à cena mais esperada e comentada do filme (e sem dúvida, em minha opinião, a mais incrível de toda a saga até o momento), onde Yoda prova que ainda é o mestre do sabre-de-luz. A batalha entre ele e Conde Dooku dura poucos segundos, mas deve ter feito alguns bons queixos caírem já.
 
Além de tudo o que já foi mencionado, temos ainda inúmeros momentos marcantes no filme, como o duelo entre Fett e Obi-Wan (outro momento aguardado há décadas por fãs), o reencontro entre Anakin e sua mãe (um momento que era promissor e acabou se mostrando excepcionalmente ruim, em termos de texto e interpretações), o reencontro de Watto e Anakin, o... Bem, já foram exemplos demais.
 
No final, nota-se que há poucas razões para a perseguição que Lucas e sua nova trilogia vem levando dos críticos e parte do público. Um pouco da magia existente nos episódios IV, V e VI já não está mais presente. Mas se levarmos em conta somente a diversão, Star Wars ainda é uma série que está no topo, juntamente com suas atuais concorrentes, como O Senhor dos Anéis e Matrix (não tem motivos para escolher uma apenas, todas elas levam a diversão ao limite). O filme apenas não causa mais tanto deslumbramento como acontecia anteriormente, o que é uma pena, mas não é o fim do mundo.

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