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Críticas

Cineplayers

Novamente Street Fighter falha ao ingressar nos cinemas.

1,0

Filmes baseados em jogos não são bem vistos pela crítica e pelo grande público. Com razão: são pouquíssimas as obras que conseguem alcançar certo status, como Terror em Silent Hill ou o primeiro Mortal Kombat - O Filme, que apesar de não ser relativamente bom, pelo menos é assistível, ao apresentar bem os personagens, realizar boas cenas de ação e criar uma história minimamente coerente para ligar as coisas. Considerando que este último é baseado em um jogo de luta, onde geralmente não há história alguma a ser contada, é um grande feito.

Street Fighter já não havia dado certo em 1994, quando Van Damme realizou Street Fighter - A Última Batalha, embalado no sucesso dos fliperamas e que fora convertido para uma série de consoles caseiros - Street Fighter 2. Se toda aquela cafonice desconfigurada do filme já era ruim, pelo menos funcionava como uma comédia involuntária, algo que não pode ser dito o mesmo neste Street Fighter - A Lenda de Chun-Li, lançado diretamente em DVD no Brasil. Ao se levar a sério demais, o filme insere uma série de cenas violentas para impressionar o público, junto de muita pose e show de pirotecnia; e quem jogou Street Fighter, sabe que isto está muito longe de ser fiel ao game.

Focado em Chun-Li, gerou muita controvérsia ao focar nessa personagem, e não nos mais conhecidos, Ryu e Ken. Esse pé atrás aconteceu devido à Van Damme ter focado seu filme em Guile, americano herói que salva o mundo, porém, ao escolherem Chun-Li, os produtores e roteiristas podem até ter surpreendido quem realmente conhece do jogo: em Street Fighter 2, o final da Chun-lo é o considerado o “verdadeiro” entre os especialistas, afinal, é o único que cita a derrota de Bison e a paz de Chun-Li ao destruir Shadaloo dentre os oito personagens selecionáveis. Ou seja, haviam escolhido corretamente em quem focar.

Porém, basta o filme começar para percebermos que tudo não passa de baboseira. Mostrando logo de cara a conhecida ponte Golden Gate, em São Francisco, os produtores inserem uma origem ocidental na personagem para justificar a escolha da atriz Kristin Kreuk, (famosa por sua participação na série Smallville como Lana) antes de enviá-la à China, a real origem da personagem. Após Balrog e Bison seqüestrarem o pai de Chun-Li, ela vai em busca do mestre Gen (Robin Shou, conhecido entre os gamers como Liu Kang, dos filmes Mortal Kombat), para aprender mais a fundo as artes marciais e poder vingar o sumiço de seu pai.

Ao mesmo tempo, o policial Nash (Chris Klein) começa a investigar as ações da Shadaloo em Bangkok, e o destino de todos esses personagens se cruzam na figura do vilão Mr. Bison (Neal McDonough) que, obviamente e de forma muito criativa, planeja conquistar o mundo. Seus principais capangas são Balrog, um pugilista famoso interpretado pelo brutamontes Michael Clarke Duncan, e Vega, que ficou a cargo do cantor do conjunto Black Eyed Peas, Taboo – e, sinceramente, não mostrou a que veio, já que sua interpretação é patética e foi claramente reduzida por sua imensa falta de talento (e que máscara é aquela? Vergonhosa). Para ser sincero, era melhor nem ter incluído o personagem.

Mas os problemas com os personagens não acabam por aí: Clarke Duncan encarna um Balrog lento e totalmente desfigurado – não é possível saber que ele é um boxeador, por exemplo (no game, baseado em Mike Tyson). Suas principais características são a força e usar arma de fogo, muito longe do personagem em que fora baseado, restando-lhe apenas o nome como principal referência. Gen, bem mais novo do que nos games, é realmente bastante forte, mas longe de ter habilidades de cura que possui, e Chris Klein, famoso por sua participação na comédia juvenil American Pie, faz uma péssima escolha ao interpretar Nash de forma extremamente caricata, o que é agravado ainda mais por não parecer nem um pouco com o personagem principal.

Mesmo que não se pareçam nada com os personagens no game, Neal McDonough e Kristin Kreuk são os menos piores do elenco: o primeiro ao encarnar um Mr. Bison realmente demoníaco, inclusive aproximando o olhar ao que conhecemos nos jogos, e a segunda ao ter o carisma suficiente para tentar levar o filme nas costas (nem vou entrar no mérito físico da comparação aqui, pois seria extrema covardia com a atriz). São tão poucas referências, e tão rápidas, que passam batidas por quem não conhece a série bem (como o cabelo da Chun-Li na boate ou o beco de Gen, estágio do personagem em um dos games da série Alpha). De Street Fighter, só os nomes dos personagens e o logo da Capcom no começo, pois o resto todo foi modificado.

Aliás, como uma empresa do porte da Capcom autoriza um projeto deste nível? Tudo bem que nem todas as animações baseadas em Street Fighter foram boas, mas descer ainda mais o nível que Van Damme havia estabelecido em 1994 com seu carnaval patético é desgastar a marca. Street Fighter IV atraiu a atenção novamente para um gênero que estava defasado e sem novidades há anos nos consoles, mas se o filme queria pegar embalo no sucesso do novo título da franquia, falhou vergonhosamente.

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