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Críticas

Cineplayers

Um Wenders enferrujado. Mais um.

5,0
Um dos maiores nomes do Novo Cinema Alemão, Wim Wenders destacou-se graças aos seus filmes que mostravam personagens errantes que tentavam descobrir seu próprio caminho, como Alice Nas Cidades e Paris, Texas. Ficou notório, porém, que as duas últimas décadas de sua filmografia nem de longe refletem o brilhantismo do seu auge revolucionário, onde ao lado de nomes como Herzog e Fassbinder importou as políticas da nouvelle vague na busca temática e formalmente questionador e sobretudo desafiador.

Se nos anos 90 filmes como Tão Longe, Tão Perto e O Céu de Lisboa ainda de forma um tanto experimental tentava procurar um novo caminho para seu cinema após passar uma década com projetos limítrofes como Um Filme Para Nick e O Estado das Coisas. Já não era mais o caso em O Hotel de Um Milhão de Dólares, Medo e Obsessão, Pina ou Tudo Vai Ficar Bem. Também não é o caso com Submersão, seu novo projeto que chega ao Brasil.

A história como sempre é interessante: assim como Wenders sempre está em busca de um cinema, os personagens James More e Danielle Flinders buscam um mundo diferente, física e pessoalmente: após se conhecerem num hotel e compartilharem suas vidas e experiências, cada um a seu modo fica preso pelas circunstâncias. 

James é um espião que pretende mudar o mundo com seus atos e acaba preso por jihadistas do Estado Islâmico e Danielle é uma pesquisadora marinha que corre o risco de morrer cada vez que entra em um submarino para desvendar águas abissais. O encontro dos dois só dura uma noite, mas altera suas vidas para sempre. A única motivação para o terror sufocante do sequestro e a jornada alienante do laboratório passa a ser a esperança do reencontro. 

Porém, o que Wenders esboça de interessante acaba em um sem número de lugares comuns: a transição entre presente e passado é quase sempre feita de maneira redundante, quando não clichê; o recurso da água como conexão não só entre o casal mas as lembranças carinhosas ou problemáticas que um cultiva do outro logo passa a soar repetitiva; mais cedo ou mais tarde, a própria paleta de cores e o uso de claro/escuro já dá a dica de que período estamos, com Wenders não resistindo aos tons quentes e suaves para cenas de erotismo, o exótico contraste do Oriente Médio ou a esterilidade padronizada dos laboratórios. 

O que quer dizer que, após um tempo, o filme se fecha em si mesmo - e não de um jeito bom. A estrutura circular da narrativa não tem variações, bem como a encenação que nada descobre em seu desenrolar, exceto em momentos muito específicos, como quando James conversa com um médico jihadista (que logo é trocado por outras figuras com um discurso muito parecido, o que leva a parecer sempre o mesmo personagem) ou quando Danielle desce em águas profundas e convive com a expectativa e o suspense de morrer lá no fundo. 

Wenders não resiste a certo didatismo dentro de seu simbolismo da imersão em um conflito e a busca pela fuga, com seus personagens em determinados pontos disparando diálogos filosóficos como pouco ou nada tinham feito antes, soando pouco naturais. Vikander parece muito mais uma personagem típica do diretor, pouco aderindo a maneirismos típicos do cinemão, sendo mais contemplativa, vagante, sem rumo; o contrário de McAvoy, mais clássico, desenvolvido, psicologizado. Excelente ator, mas tais atores do método apesar de nunca terem saído de moda em Hollywood há tempos parecem deslocados em outros projetos estéticos. 

Talvez o maior problema dessa fase recente de Wim Wenders seja justamente esse cinema mais formatado, que perdeu a coragem há muito tempo, que ao invés de viajar se aventura timidamente no quintal de casa. Filmes como os documentários Buena Vista Social Club e O Sal da Terra são exceções à parte de uma filmografia que hoje em dia é marcada pelo aborrecimento, por requentar os mesmos temas sem trazer nenhuma perspectiva nova, pela encenação a crítica que sua geração tanto se distanciou. Wenders ainda é Wenders e o filme carrega vários dos aspectos que o fizeram famoso, mas dessa vez sua busca pelo cinema resulta em filmes um tanto incompletos e cansados. 

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