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Críticas

Cineplayers

Este é um filme de zumbis que consegue sair, graças a elementos bem interessantes, do convencional.

6,0

Depois de imortalizar o terror trash de zumbis, nada mais justo do que o próprio George A. Romero se aproveitar dessa nova guinada do gênero e realizar o quarto filme de sua consagrada "Trilogia dos Mortos", composta por A Noite dos Mortos-Vivos (1968), O Despertar dos Mortos (1978) e O Dia dos Mortos (1985). Mas o que Terra dos Mortos pode trazer a um já desgastado estilo de filme como este? Simples, a evolução.

Os zumbis dominaram o planeta. Os humanos restantes vivem em um local apertado, cercado com um muro e um rio que impedem a entrada dos monstros no local. Há um complexo luxuoso para os que têm mais dinheiro, assim como um grupo fortemente armado que sai constantemente às perigosas ruas para eliminar alguns monstros e encontrar provisões suficientes para seu reabastecimento; além de um ou dois irem atrás de algumas coisas supérfluas, como cigarros e uísques, para gerar mais dinheiro no mercado negro. Toda a suspeita tranqüilidade é posta em cheque quando os mortos-vivos, aparentemente, começam a raciocinar e perceber que podem ir um pouco mais longe.

Lógico que em um filme desses, ainda mais com o nome de Romero e alguns atores consagrados, não podia passar sem algumas mortes. E é justamente esse o grande ponto forte do filme: quase todas são incrivelmente bem trabalhadas, explorando ao máximo os recursos que os novos zumbis, competentemente bem caracterizados, disponibilizam para o autor montar sua carnificina. Os zumbis são de fácil reconhecimento por causa de características únicas: o negro que começa a perceber que tudo pode ser melhor para sua espécie, o zumbi do pandeiro (e suas diversas brincadeiras com o som), a mulher com os dentes aparecendo por entre um buraco na sua boca, o açougueiro, e por aí vai.

Os zumbis dominam o filme, literalmente, do início ao fim. É muito mais fácil criar empatia por eles do que pelos humanos clichês e inexpressivos: há o mocinho, o ganancioso, o babaca que quer se dar bem e por aí vai. É uma pena, pois nomes como Dennis Hopper, estrela de outras fitas do gênero, mereciam bem mais do que meros estereótipos. Pelo menos o armamento e o genocídio dos humanos contra os zumbis é divertido, mesmo que a moral imposta pelo personagem central seja desnecessária e deixe o filme com um tom meio idiota – principalmente no final, quando ele chega à "brilhante" conclusão sentimentalista e que se leva a sério demais para um filme do tipo.

Porém, a força que o dinheiro tem dentro da trama impressiona. Mesmo que não hajam mais grandes companhias, fornecedoras de materiais e tudo mais, o dinheiro ainda tem um poder fortíssimo dentro da sociedade, mesmo que, aparentemente, ninguém possa se beneficiar dele de forma direta - afinal, para que uma pessoa pobre vai querer dinheiro? E os ricos? No final, ele não serve para nada mesmo, é um ciclo sem fim. O rico vai querer dinheiro para ter luxo. E quem vende o luxo para ele, vai querer o dinheiro para se alimentar (mas e as matérias-primas? De onde saiu tanto mármore para construir um prédio daqueles? E os elevadores?), mas e a pessoa que vende o alimento, vai querer o dinheiro para o quê? Para comprar o luxo oferecido pelo primeiro?

À primeira vista, não havia gostado de sua inclusão na história, mas parando para pensar, analisando o ambiente caótico gerado ao redor de sua presença, fica impossível não se sentir aterrorizado com o que estas cifras podem fazer ao ser humano. Como, com tantos problemas no mundo, o homem ainda é capaz de ficar pensando em dinheiro? O mais assustador é ver que isso funciona como uma perfeita metáfora ao mundo real. Ver os jogos que os homens fazem com os mortos-vivos, todo o seu meio de diversão e a luta por um lugar melhor deixam o filme melhor, mais complexo e com mais conteúdo. Não se torna apenas mais do mesmo, e sim há algo realmente novo a adicionar à história.

Há também alguns problemas de lógica, como os que levantei acima. Se os zumbis não pensavam, e eles podiam andar pelas águas, por que isso não acontecia casualmente? Por que um zumbi não caía sem querer na água e seguia até onde estavam as pessoas? Se ele era irracional, o que o impedia de cair sem querer e, por que não, propagar uma praga também nas águas dos homens? Imaginem, peixes zumbis...

É possível que um quinto filme da série seja lançado e, mesmo não sendo fã do estilo, confesso que me diverti o suficiente com este para ver qual o próximo passo que a história dará. Os humanos vão se tornar gado de um ser que era inferior? Esses caminhos não explorados, que até então são furos, serão aproveitados? Fica a curiosidade para saber que rumo tomará essa história de George A. Romero. Só espero que ele não comece a sofrer com a síndrome de George Lucas e passe a levar seus filmes por demais a sério, pois isso pode comprometer seriamente sua qualidade. Um final como este já basta, mas dois vão ser demais até para os fãs mais hardcore aguentarem.

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