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Críticas

Cineplayers

O peso de um roteiro previsível sufocando o que poderia ser uma comédia bem melhor.

6,0
O feito mais notável de John Hamburg em Hollywood foi ter escrito Entrando Numa Fria, lançado em 2000. Desde então foram alguns bons roteiros de comédia e as direções de Quero Ficar com Polly (2004) e Eu Te Amo, Cara (2009). Ele retorna aos cinemas agora, oito anos depois, assinando a comédia Tinha Que Ser Ele?, orçada em cerca de 40 milhões de dólares, estrelada por James Franco e Brian Cranston.

O filme funciona como uma espécie de Entrando Numa Fria ao inverso: Ned e Barb Flaming (Cranston e Megan Mullally, dois atores fenomenais em comédia) viajam de Michingan até a California para conhecer o genro, um multimilionário do ramo de tecnologia em Palo Alto. A personalidade franca e expansiva de Laird Mayhew (Franco) entrará em choque com as expectativas de Ned e Barb para a vida amorosa da filha. A relação entre genro e sogros é ainda mais prejudicada pelo fato de Stephanie (Zoey Deutch) ter mantido o relacionamento em segredo de seus pais. 

O material cômico do filme é realmente promissor. Da atmosfera awkward proporcionada pela completa ignorância de Laird em como se comportar diante da família de sua namorada às reações estupefatas da famíia de Stephanie, sem saber o que achar mais absurdo, se a riqueza descomunal do namorado da garota ou se suas atitudes, bem próximas de serem pertubadoras.

Bons momentos incluem Laird mostrando aos sogros que literalmente acabou de fazer uma tatuagem enorme nas costas do cartão de natal da família de sua namorada e a construção de uma pista de boliche adornada com um gigantesco mural pintado com imagens do sogro. Momentos que funcionam muito bem no estilo de comédia que o filme procura utilizar, misturando uma certa afabilidade de Laird e seus empregados com o espanto dos outros personagens, mas que também demonstra uma parte importante do protagonista do filme, um cara de 32 anos extremamente infantilizado, incapaz de demonstrar afeição de um jeito socialmente adequado.

O filme exibe o seu melhor quando cede espaço para que os atores realizem comédia desvinculados da consisão da história. Quando Barb fuma maconha, por exemplo, e se joga pra cima de Ned no quarto do casal, ou quando Ned e Laird travam um embate físico depois de quase uma hora de violência velada. A duração dessas cenas, cerca de cinco minutos cada uma, indica que os atores puderam improvizar e entregar momentos em que o filme está em sua melhor forma, sendo francamente engraçado, a despeito do absurdo das duas situações.

A partir do segundo ato, onde comumente em filmes desse estilo a comédia deve dar um pouco mais de espaço à progressão do roteiro, Tinha Que Ser Ele? desanda completamente. As motivações e conflitos do filme não convencem, e quanto mais o filme progride, mais a gente fica com a impressão de já saber de cor todos os arcos da história. Após a já citada cena do embate físico, quando o filme entra de vez no terceiro ato, o que temos na tela é uma resolução patética pras questões que o filme tentou estabelecer, e uma série de finais felizes pragmáticos e tediosos, muito em razão dum roteiro quadrado, sem nenhuma força de inspiração.

O filme não é um desastre. Pelo contrário, encontra frescor em cenas onde os atores fazem um tipo de comédia física freestyle, justamente onde o peso do roteiro e da progressão narrativa não estão presentes, e o começo é realmente bom, pelo absurdo das situações, pelo gap geracional entre os pais de Stephanie e Laird e principalmente porque Cranston, Mullally e Franco são atores realmente bons, ou pelo menos muito carismáticos.

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