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Críticas

Cineplayers

Desfile no escuro.

5,5
Mais um filme em que o universo predatório da moda aparece como fundo de um drama sobre os sonhos de uma adolescente de cidade pequena em estampar capas de revista ou desfilar por grifes famosas. São sonhos exaltados e compartilhados por tantas jovens. Top Model não traz nada de novo ao tema, mas tem uma boa protagonista cujas dimensões comportamentais garantem atenção e curiosidade do espectador que acompanha sua jornada por Paris, atrás de luz e câmera.

Em certo ponto, configura-se como um registro da rotina de uma jovem dinamarquesa se aventurando pela capital francesa, sob a desconfiança da família e crença do namorado, a quem promete amor eterno. O amor é frágil demais diante a possibilidade de realizações. Nesse sentido, a Dinamarca e a história construída por lá ficam para trás e Paris resplandece como futuro. Logo ela é chamada por uma agência que a encaminha até um importante fotógrafo e lhe recomenda: se conquistar a atenção dele, terá atenção do mundo. 

No cinema, fotógrafo e modelo renderam bons argumentos. Imortalizado, Blow-Up - Depois Daquele Beijo (Blowup, 1966) possivelmente seja um dos mais representativos. Inspira a questão: o que a imagem mostra? E se todo filme tem seu fotógrafo, então todo filme tem um ou uma modelo – estrela - que represente ideias. Frente à câmera, Emma, a top model do título, busca representar a arte do artista que a fotografa, mas se frustra por não alcançá-la. Inexperiência? Pudor? Dentro do cenário competitivo, se lança numa espiral de relações. E é aí que surge o que há de melhor: seu comportamento imprevisível frente às suas próprias expectativas. 

Emma torna-se obsessiva, ciente do que pretende conquistar. Na concepção ideológica, sua mudança perante às responsabilidades ilustram a personagem por meio de constantes atrasos, bem como pelas lembranças juvenis que servem para ambientar seu canto num quarto: veja a fotografia junto ao namorado colada na parede ou as roupas bagunçadas jogadas sobre a cama. Tempos depois, sua personalidade converte-se numa postura que fundamenta um conselho que ouviu durante certa sessão de fotos: a sugestão em ser indiferente aos homens. Ela se entende com os lobos, mas não aprendeu a caçar. E a atriz protagonista, Maria Palm, modelo profissional, aproveita a familiaridade com o tema para representar algum encantamento dentro do competitivo universo da moda. 

No mesmo ano de lançamento, um filme primo fez muito mais sucesso. Demônio de Neon (The Neon Demon, 2016) do questionável Nicolas Winding Refn, transitava por linha similar, ainda que muito mais atenta a representação imagética de uma garota imersa no concorrido mundo da moda de Los Angeles. Tinha estilo e emulava a autoria de seu realizador. Dois anos antes, o venezuelano 3 Belezas (3 Bellezas, 2014) – a Venezuela tem tradição em concursos de moda – lançava um exemplar do gênero, investindo num texto que explicitava a disputa pela coroa de miss. Ambos dialogam com a proposta deste Top Model e, igualmente inclementes, ceifam os sonhos de suas sonhadoras. 

Neste aqui é lamentável que a história e a ambientação não sigam a linha de desenvolvimento de Emma, retardando transições e oportunidades de evolução, já que a trama parece presa num microcosmo da concepção narrativa. Tudo torna-se abstração, meras imagens filmadas de uma história tantas vezes contada e encenada, com um sentido episódico que revela a ruína das aspirações e o que a modelo admite fazer para busca-los. Ao menos tem algumas boas representações, como a própria ideia da câmera que observa e que desnuda; o conceito do voyeurismo se estende em diferentes esferas, como nas cenas de banho e a constante sensação de estar sendo observada por alguém, através da porta entreaberta. Um olhar em quem deseja ser vista.

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