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Críticas

Cineplayers

Thriller psicológico aposta em final surpresa, mas o tiro sai pela culatra.

4,0

De todos os gêneros, o thriller psicológico é um dos mais explorados por Hollywood na atualidade. Criar filmes com personagens dúbeis e finais que objetivam surpreender o espectador é o passatempo e a busca de roteiristas e produtores, com o propósito, é claro, de gerar boca-a-boca positivo e – melhor ainda – fazer a pessoa comprar um novo ingresso para viver a mesma experiência uma segunda vez, desta vez divertindo-se em ligar momentos específicos da trama ao final, agora já conhecido por ela. Essa fórmula toda vem sendo revisitada constantemente na década de 2000 (e muito antes disso, obviamente), gerando obras interessantes e outras – a maioria – descartáveis.

A Trilha está, não supreendentemente, no pacote das obras descartáveis. Trata-se de um thriller que aposta totalmente em uma revelação fantástica, perto de seu final, para prender o espectador desde seus primeiros instantes, pois este sabe que esse tipo de filme proporcionará a ele uma brincadeira, um divertimento final, algo para motivá-lo a passar por todo o filme com toda a atenção possível. Aqui a revelação mostra-se frustrante e sem sentido, longe de ser fantástica, exigindo, inclusive, vários flashbacks para ser explicada, o que denuncia o pouco caso com o roteiro. Roteiro que é bem simples: casal apaixonado sai em lua-de-mel e quer aventurar-se em uma praia isolada, de difícil acesso, no Havaí. Enquanto estão lá, tomam conhecimento de que um casal de assassinos está atacando turistas. Quando os dois encontram um outro casal e resolvem prosseguir a aventura com ele, inicia-se um jogo psicológico dos dois lados: seria a outra dupla a responsável pelos recentes crimes hediondos que ocorreram na região?

Espécie de Turistas (filme que muitos conhecem mas pouquíssimos de fato assistiram) sem o excesso de sangue e as piadinhas sem graça, A Trilha aposta nos cenários naturais – lindíssimos – para criar um paradoxo entre paraíso e inferno, algo que foi executado com certa eficiência, mas não o suficiente para salvar o filme, que certamente pede pela falta de exigência do espectador mediano moderno em aceitar o que lhe é imposto. Pois são muitas as liberdades autorais (leia-se: suspensão da realidade, o típico “isso só pode acontecer em filme”), e para cada liberdade autoral há uma explicação de certa forma convincente (mesmo a reviravolta estapafúrdia é explicada, ainda que de forma manca), mas a quantidade de explicações que é necessário ter para que todos os furos sejam redimidos é alta demais, simplesmente isso.

David Twohy, diretor de Eclipse Mortal e A Batalha de Riddick, acabou voltando com um filme que é bem a cara da sua filmografia: ação e perseguição, aqui deixando de lado a ficção-científica, mas continuando a trafegar pelo mundo da imaginação, com imposições deveras fortes à realidade. É o típico thriller que larga mão do realismo para tentar conquistar com maneirismos de roteiro vazios e já deveras batidos. Os atores, todos de beleza acima de média, tentam complementar o cenário paradisíaco, mas só beleza não ajuda, e há pouco em suas interpretações que denote tensão real. Eles fizeram o básico em um roteiro bem aquém do básico. Zahn, particularmente, mostra-se deslocado: sua personagem não combina em nada com a atuação, possivelmente pelo excesso de caricatura que o ator sempre traz consigo. Mas claro que A Trilha não é um filme de atuações, não foi concebido para tal, e essa é apenas uma falha complementar, digamos assim.

A Trilha é tão somente mais um passo nulo do cinema americano dentro do entretenimento cinematográfico. Como quase sempre acontece, havia bastante potencial, mas o resultado final é um conjunto de soluções fáceis e superficiais, jamais utilizando seu tempo para criar personagens mais aprofundados, algo absolutamente necessário para se fazer um suspense marcante. De marcante, portanto, este aqui não tem nada, pois se é para apenas apreciar belas paisagens e reviravoltas fracas, há opções gratuitas: os seriados televisivos que vêm assolando a televisão nos últimos anos. Isto aqui é sim cinema, mas do mais fraco.

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