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Críticas

Cineplayers

Um filme de terror pequeno e sem identidade própria. Mas tem algumas qualidades.

5,0

No acender das luzes dentro do cinema, o que mais se ouviu foram reclamações acerca deste O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010). Uma espécie de anti-climatizador, o filme do diretor quase novato Daniel Stamm é, de fato, fruto do cinema contemporâneo. Filmado como um falso documentário, com técnica propositalmente fraca, cortes abruptos e um tom de informalidade que pode voltar a virar moda a partir do sucesso dos filhos de A Bruxa de Blair, como Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007)e [REC] (idem, 2007), este novo Exorcismo (que nada tem a ver com a obra de William Friedkin de 1973) tem pouca relação com sucessos e insucessos recentes desse gênero Igreja versus Demônio (considerando que há vários filmes menores desse tipo povoando as locadoras que sequer chegam a serem cogitados para as salas comerciais de cinema). É mais um filme de terror puro que, por acaso, utiliza como pano-de-fundo esse tema.

Há um apanhado de referências aqui, não propositais, mas trata-se de uma misturança de muitos filmes. O resultado tem bastante de incoerência. O trabalho de Stamm aparenta estranheza e, pior, falta de identidade própria. Mas é um filme de terror, sobretudo, e esse gênero nem sempre mostrou essas características – o Cinema permite que elas fiquem em segundo plano aqui. Então não há porque querer tudo encaixado, e a existência de múltiplos finais (poderiam ter acabado de mais de um jeito, o que é interessante) detona um certo tom de brincadeira e bastante ousadia por parte dos produtores. É sim uma bagunça, mas a pergunta que o fã de cinema de terror deve fazer é se o filme traz arrepios à sua espinha.

A resposta depende, claro, de cada espectador, mas há cenas-chave – mesmo algumas que não apareceram no trailer – bem razoáveis, enquanto outras poderão trazer risadas involuntárias, pois o filme sempre transita no limite entre o tenso, assustador e o ridículo. Existisse um cuidado maior por parte do diretor com relação à forma de guiar seus atores (e talvez um pouco mais de talento), O Último Exorcismo ganharia ainda mais pontos. Particularmente o tal pastor que dialoga com sua crise de fé, feito pelo ator televisivo Patrick Fabian, o protagonista do filme, apresenta um tom incômodo, irreal. É uma película de terror de baixo orçamento, é verdade, mas o grande personagem do filme tem cara de debochado quando deveria ser o centralizador das emoções provenientes de situações-limite. A menina que pode ou não estar possuída pelo Diabo (que fez sozinha, sem a ajuda de efeitos, os contorcionismos das sessões anti-capeta) fez um trabalho muito superior, pena que os textos ficaram tão fraquinhos. Seus grandes olhos negros, possivelmente mexidos no computador, chamam muito a atenção.

Há todos os clichês dos filmes-documentário, e todos os “furos”, tanto que não vale expô-los aqui. Eles são problemas que detonam a falta de profissionalismo por trás da produção (embora seja patrocinado por Eli Roth, a equipe é bastante inexperiente) e se isso não pode servir como uma grande crítica, também não ajudou muito (vide A Bruxa de Blair, onde o excesso de amadorismo ajudou a criar aumentar o clima perturbador). Há cenas que foram simplesmente copiadas dos trabalhos já citados anteriormente, ratificando a sensação de que ao filme falta personalidade. No final das contas é um investimento seguro – baixíssimo orçamento com o patrocínio de um dos queridinhos de Hollywood dentro do gênero – não uma tentativa de trazer algo novo. E não há porque se enganar com o “último” do título, pois com o bom retorno do filme nas bilheterias certamente veremos outros parecidos no futuro.

Não há muito desenvolvimento em seus personagens, o terror aparece mesmo no ato final, talvez um pouco antes. Sendo assim, o roteiro perdeu a chance de criar algo maior: mesmo a atmosfera – e gasta-se um tempo enorme criando ela até o ato final – foi mal construída, deixando claro que simplesmente gastar tempo com diálogos frouxos e cenas levemente estranhas e esporádicas não é a fórmula para construção de tensão. Talvez vá agradar quem for assistir exatamente pelo que ele é: um filme de terror pequeno, bem pequeno, com uma surpresinha ou outra até o subir dos créditos.

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