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Críticas

Cineplayers

Os limites entre o que se quer e o que se pode ter.

6,0

A crise criativa que vem punindo os estúdios de animação, como Disney e Dreamworks, chegou recentemente à Pixar, agora que esta já tem um repertório de personagens marcantes suficientes para carregar continuações nas costas, pegando carona no sucesso comercial dos filmes originais para garantir um retorno ao menos satisfatório nas bilheterias, e aos poucos acomodando o estúdio no piloto automático das piadas prontas e lições de moral recicladas. Carros 2 (Cars 2, 2011) foi o primeiro baque para os fãs que esperavam uma continuação empolgante ao nível de Toy Story 2 (idem, 1999) e receberam algo mais pro lado de Madagascar 2 (Madagascar: Escape 2 Africa, 2008), da Dreamworks. Logo em seguida veio Valente (Brave, 2012), uma história de princesa fora de época e pouco criativa, que também frustrou aqueles que imaginavam que pelo menos fora das continuações a Pixar poderia acertar de novo. E agora sua nova investida é no prequel de sua melhor animação, Monstros S.A. (Monsters, Inc., 2001).

Universidade Monstros (Monsters University, 2013) tem como desvantagem o fato de que, de todos os filmes da Pixar, Monstros S.A. é o que menos parecia dar margem para sequências, o que implica em uma recepção um tanto desconfiada, ou mesmo fria, por parte da crítica e mesmo do público, inclusive por conta da ausência da Boo, a personagem mais fofa já criada pelo estúdio. Por outro lado, tem como vantagem principal o resgate da dupla Mike e Sulley, contando como os dois se conheceram, na universidade de Monstrópolis, em um primeiro contato não muito amigável. Mike, desde pequeno, sonha em ser um grande assustador de crianças e vai para a universidade para se tornar o maior de todos, embora sua aparência não seja nem um pouco intimidadora. Sulley, por outro lado, vem de uma descendência de grandes assustadores, e tem um porte físico digno dos maiores monstros da cidade, mas não é aplicado nos estudos e acha que pode se tornar o maior apenas com base em seus talentos naturais. Depois de um acidente envolvendo os dois e a temida diretora da universidade, a dupla deve se unir a um grupo de monstros fracassados para ganhar uma gincana acadêmica que promove os melhores alunos, a fim de não perderem a bolsa de estudos.

Desse ponto de partida vem as inúmeras piadas criadas a partir dos desentendimentos constantes entre Mike e Sulley, que se odeiam a princípio e aos poucos vão formando uma parceria, com o foco de ganhar a competição. Intercalada com esses momentos de correria multicolorida (uma explosão policromática não oferecida pela Pixar desde Up - Altas Aventuras [Up, 2009]) está o conflito condutor da trama, sobre a dificuldade de Mike em aceitar que, por mais que se esforce, não possui o dom natural para ser um futuro monstro assustador de crianças profissional. E ao contrário da lição de moral que histórias infantis como essa costumam passar, sobre jamais desistir de seus sonhos e blábláblá, Universidade Monstros acerta por transmitir outra mensagem, sobre a importância de enxergar suas próprias limitações e aceitar que nem tudo na vida sai como a gente gostaria que fosse (lição bastante oportuna para crianças, que costumam relutar em aceitar um “não”, e mesmo para adultos, no fim das contas). Se as animações da Pixar costumam sempre seguir para um momento em que algum personagem tem que aprender a abrir mão de algo importante (como é o caso do próprio filme original, em que Sulley sofre para aceitar que Boo não pode viver em seu mundo, e que um dia ela vai crescer e se esquecer dele para sempre), em Universidade Monstros esse momento é bastante singelo, embora a mensagem seja passada da forma mais explícita e ordinária possível, longe da sutileza de outros longas do estúdio.

Embora esteja moldado em bases bastante inferiores às de outros filmes da Pixar, essa sequência consegue divertir adultos e crianças sem a necessidade de muitas apelações (embora existam algumas aqui e ali). É engraçado, bem produzido, talvez um tanto moralista, mas genuinamente divertido, como há certo tempo a Pixar não conseguia ser. O foco dado ao personagem Mike serve também para quebrar um pouco aquela imagem carrancuda e antipática do primeiro filme, o que de certa forma até enriquece o capítulo original, e a história de amizade dele com Sulley é bem bonitinha. Faltou mesmo foi uma Boo, o “fator fofura” do primeiro trabalho, para tornar Universidade Monstros uma animação mais marcante. Sem ela, parece que algo ficou faltando, afetando mesmo a sintonia entre Mike e Sulley. Fora isso, é um bom segundo capítulo; inferior a tantos outros, é verdade, mas acima da média se levar em consideração o padrão de qualidade cada vez mais decrescente da Pixar.

Comentários (12)

Paulo Faria Esteves | terça-feira, 25 de Junho de 2013 - 13:11

Up era aquela coisa: mais uma vez, via-se pelo trailer que não seria nada de especial. E não foi. Personagens muito fracas (Russell, diria, é o único que se salva), também pouco recomendável a crianças (embora, repito, isto não seja obrigatório) e um vilão com umas motivações muito mal explicadas (para mais informações sobre este assunto, olha aqui: http://www.cracked.com/article_19498_the-5-most-needlessly-evil-movie-villain-strategies.html). Up não foi tão bem recebido como Ratatouille (felizmente!), embora os dois sejam bastante fracos. Mas Up ainda foi consideravelmente elogiado. E foi indicado a Melhor Filme nesse ano (wait, what?!). Só depois a Pixar acertou com Toy Story 3.

E, depois, há o factor ser humano. Eu sou um ser humano, como deves calcular, e assim sendo estou sujeito à irritação. E eu sei que não me devo irritar com isso, mas às vezes irrito-me sobretudo com o endeusamento de Ratatouille. Para mim, o único que pode competir com Brave em "pior filme da Pixar"...😋.

Danilo Silva | quarta-feira, 26 de Junho de 2013 - 01:25

Valente é ótimo... [2]

Victor Tanaka | quarta-feira, 26 de Junho de 2013 - 17:02

Sempre amei tudo que veio da Pixar, com exceção de Carros 2 e Valente. Ansioso para ver este aqui. 😋

César Barzine | sábado, 03 de Junho de 2017 - 23:48

Acho uma injustiça tremenda dizer que o padrão da Pixar vem somente decrescendo. [2]

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