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Críticas

Cineplayers

Velha guarda ainda na ativa.

7,0

Contando com a estrela teen Lindsay Lohan e o ator pornô James Deen e fruto da colaboração entre o diretor Paul Schrader e o roteirista Brett Easton Ellis, The Canyons poderia ser, e não só pelos letreiros e pela trilha, um filme da Nova Hollywood dos anos 70. O universo temático que une os dois artistas é tão similar que fica difícil entender nunca terem colaborado antes; Paul Schrader, diretor que primeiro foi reconhecido como roteirista, fez seu nome assinando histórias de filmes de Scorsese, como Taxi Driver (idem, 1977) e Touro Indomável (Raging Bull, 1980), entre outras. Já Ellis tornou-se uma referência ao escrever o romance Psicopata Americano, transformado em filme homônimo com Christian Bale como protagonista que tornou-se um pequeno cult dos anos 2000.

Ambos acostumados a lidar com párias desajustadas (Travis Bickle) ou ajustadas até demais (Patrick Bateman), os dois contam a história de um casal, formado pelo ricaço Christian, sua namorada de passado obscuro Tara e o triângulo formado com o modelo e ator Ryan. Tendo como cenário Los Angeles, os cânions, as grandes casas e ambientes e a vida nova rica, a sujeira de Schrader entra em ambientes estéreis de domínio de Ellis: seus personagens são protagonistas de uma trama decadente, mais preocupada em mostrar a degradação que o ambiente que lhes cerca causam neles do que, propriamente, contar a história. Porque há um esboço de suspense, de um plano encaixado afim de guiar a história, de dar um twist na mesma e, como vemos a história pelos olhos de quem perpetra, estamos avisados desde o início da bomba plantada e esperando para explodir.

Enquanto a tal bomba espera para explodir, os personagens seguem a vida regada a academia, drogas, encontros casuais em restaurantes e orgias no típico delírio de ego que guia os personagens do roteirista em seus romances: o realismo econômico de Schrader mais de uma vez é forçado a dar lugar à piração megalômana de seus protagonistas que, não tendo muita alta conta entre o público em geral, bem que se esforçaram, e apesar de muitas vezes caricatos, renderam momentos de tensão dramática onde sem firulas e estripulias e valendo-se da profundidade de campo e de travellings que colam em seus personagens para seguir seus estratagemas absurdos, que vão ficando cada vez mais violentos. A liberdade de atuação é privilegiada pela decupagem de Schrader, e cada emoção intensa é privilegiada de forma seca, ao invés de forma apaixonada,  com o desespero contido vindo à tona de forma fluida.

Filmado através do esquema de crowfunding, fica difícil imaginar uma obra que pudesse ter muito mais exuberância visual ou profundidade; sabendo que com pouco dinheiro se faz um filme inevitavelmente diferente do que se faz com muito, o filme é urgente, espontâneo, com sacadas visuais criativas que no final acabam enriquecendo uma história que muitas vezes passa a impressão de ser um genérico do estilo que consagraram os autores, desde as décadas de setenta e oitenta na ativa descrevendo e encenando onde a vida cotidiana é pervertida e o ajustado se revela monstruoso.

E o preço que se paga por uma obsessão temática é não conseguir se renovar e ter uma sensação de que já se viu isso antes – e melhor. E não apenas pela falta de orçamento mas também por uma consistência dramática que gravaram os nomes de seus responsáveis na história recente enquanto figuras especialistas. Hoje tais “mestres” apesar de não chegarem a fazer pastiche do seu próprio estilo, dificilmente produziram algo à altura. O vazio existencial combatido com o trinômio sexo-vício-violência já foi mais vazio. A sujeira de seus personagens já foi mais palpável. Em outras condições de produção menor, como em O Outro Lado da Violência (Rolling Thunder, 1977), o diretor conseguira imprimir seu estilo visceral e de atmosfera perigosa com bem mais ousadia. Hoje, desperta um rápido interesse pela união de nomes – mas a obra em si logo se esvanece por uma força que hoje é apenas pálida e rascunhada.

Comentários (2)

Eduardo da Conceição | sexta-feira, 04 de Outubro de 2013 - 02:24

E as estrelas pornô vão invadindo Hollywood. Sasha Grey, James Deen, quem será o próximo?

Pedro R.B. | sexta-feira, 04 de Outubro de 2013 - 13:35

\"E as estrelas pornô vão invadindo Hollywood. Sasha Grey, James Deen, quem será o próximo?\"

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