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Críticas

Cineplayers

Devaneios também artísticos.

6,0

Falar sobre a vida é sempre um convite fácil para o cinema. As pessoas têm mesmo problemas com sua existencialidade, quase sempre incompreendidas, insatisfeitas com si mesmas, mas nem sempre fazem algo para mudar. Obras que dialogam nesse sentido acabam ganhando notoriedade, um certo apelo, especialmente quando vêm de alguém popular como Ben Stiller, pois a tendência é que esse alcance seja ainda maior. Conhecido ator de comédia, muitas vezes subestimado (gosto dele), é um cara eficiente no que faz e que de vez em quando resolve aprontar por trás das câmeras, como no belo e surpreendente Trovão Tropical (detesto Zoolander). Desta vez, ele nos apresenta A Vida Secreta de Walter Mitty, um indie americano da moda, estilo Alexander Payne, que mistura drama e comédia para fazer o público pensar, sentir uma mensagem, mas sem a mesma eficiência.

Walter Mitty (Stiller) é um cara com um emprego na tradicional revista Life, responsável pelos negativos enviados pelos fotógrafos para a redação. Só que a empresa foi vendida e a nova proprietária decide que ela atuará apenas no ramo online, reduzindo bruscamente o espaço físico e gerando demissões. Um dos fotógrafos mais respeitados da revista, Sean O’Connell (Sean Penn), envia um negativo como sugestão de capa para a última edição, mas Walter simplesmente não sabe onde está tal imagem. Comprometido, resolve ir atrás de Sean, um andarilho sem endereço fixo, descobrindo no caminho todo um novo sentido para sua tediosa vida.

O filme é lotado de metáforas óbvias, desde a própria revista Life (veja, um filme sobre a vida, que tem como ambiente de fundo uma revista chamada... vida!) até mesmo o modo como ela trata a mensagem final, como dito no parágrafo introdutório, que muitas vezes só depende de nós mesmos para mudarmos nosso destino. Os personagens estão sempre correndo por seus objetivos, contra o tempo perdido, e isso faz com que fique uma impressão superficial sobre o trabalho no geral, como se a mensagem estivesse sendo empurrada goela abaixo, apostando num entendimento do público de todas suas referências como se ele precisasse fazer algo a mais por isso. Não, não precisa. O filme é bem óbvio e claro, não há nada demais com ele.

Ainda assim, não quero parecer duro demais. É um trabalho bacana, divertido, simpático. Tem bons personagens, boa música (David Bowie e Jack Johnson na trilha!), obviamente bem fotografado. Mas o máximo está mesmo nos devaneios que de vez em quando Mitty tem: com uma vida tão sem graça, volta e meia ele se pega com olhar perdido, com a mente em outro lugar, vivendo fantasias que sua tediosa vida jamais teria. Depois que sai em viagem, a coisa muda de figura e os devaneios dão lugar a situações fantásticas, dignas de cinema mesmo, totalmente improváveis e distantes do mundo real. É a realidade e a fantasia se misturando. Ele decide se mexer e viver o sonho, e isso é bem bonitinho de ver acontecendo em tela, mesmo com tantos absurdos narrativos (improbabilidade geográfica, cheat de dinheiro infinito – imagina quando a fatura do cartão chegar -, redondinho demais para que tudo encaixe perfeitamente).

É um filme para se apaixonar por esse apelo feel good bem empregado, levinho, de fácil identificação, com locais que todo mundo gostaria de ir um dia, mas considerando o que o próprio Stiller apresentou recentemente, fica um gostinho de que poderia ter ido além. Não é ruim, o final é lindo e até embrulha o estômago (apesar de, mais uma vez, esfregar a mensagem na cara do espectador), mas não dá para se deixar enganar facilmente por ele. É uma fita de auto-ajuda, basicamente (o roteirista é Steve Conrad, o mesmo de À Procura da Felicidade, esse sim um ótimo filme), que sem dúvidas encontrou seu público. Inspirador, como um jovem sonhador é antes de sofrer a desilusão da vida.

Comentários (5)

Pedro Henrique | domingo, 26 de Outubro de 2014 - 23:58

A mensagem do filme é belíssima. Walter Mitty é dos personagens com quem eu mais me identifiquei nos últimos tempos. Uma pena que o filme nunca deslancha completamente , poderia ter sido muito mais ( quem sabe uma obra-prima)

Lucas Souza | segunda-feira, 27 de Outubro de 2014 - 08:04

Talvez se o Stiller tivesse somente atuado e produzido o filme sairia a tão prometida obra-prima...

MARCO ANTONIO ZANLORENSI | segunda-feira, 27 de Outubro de 2014 - 09:46

O filme é bom, cumpre bem seu papel, poderia ser melhor? Claro mas também abre caminhos para nossa mente divagar e isso é um trunfo.

Carlos Henrique de Almeida Nunes | sábado, 01 de Novembro de 2014 - 22:58

Gostei do filme. A mistura de comédia e drama está no ponto. O mais interessante é a expectativa de que as aventuras do personagem então sendo vividas ou são desligamentos dele, haja vista a parte do tubarão.

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