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Críticas

Cineplayers

Como contar e inventar histórias com as quais todos os participantes possam lucrar alguma coisa.

6,5

Não dá pra escrever um texto sobre Vigaristas analisando somente seu projeto estético, enquadramentos ou escolhas de planos. Estamos diante de uma comédia romântica com tons de aventura que fala sobre contar histórias, e mais do que contá-las, sobre produzi-las. Os irmãos Bloom são vigaristas de berço e aprontam desde crianças. Os golpes nasceram da iniciativa de Stephen (Mark Ruffalo), que semelhante ao personagem de Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, decide tornar a vida de Bloom (Adrien Brody) mais interessante do que aquilo que se espera da trajetória de dois órfãos no mundo.

O conflito surge quando já adulto Bloom conclui que nunca viveu um episódio verdadeiro na vida e decide parar. Stephen pede uma última parceria ao irmão, o golpe final, e aqui entra Penelope (Rachel Weisz), o peixe que eles precisarão fisgar. Muito oportunamente o nome desta personagem possa ter sido escolhido na esteira da lenda sobre a esposa de Ulisses, aquela que tecia o tempo em forma de mantas, para depois desfazê-las a espera do marido, já que a mocinha do filme é uma excêntrica herdeira presa num casarão, gastando o tempo a aprender hobbies inúteis.

Falando ainda no tempo, o roteiro não situa os irmãos num período histórico específico: eles usam roupas vintage que os colocariam facilmente ora entre gângsteres da década de 40, ora entre galãs dos 50, e em alguns momentos fazendo referência ao clássico Os Irmãos Cara-de-pau, quebrando essa atmosfera quando os vemos transitar por locais grafitados e carros japoneses.

Falando em japoneses, outro ingrediente do filme é a coadjuvante enigmática Bang Bang (Rinko Kikuchi), escudeira da dupla, que ajuda também a atualizar os códigos visuais do filme, apelando para a ousadia oriental na escolha de figurinos interessantes e complementando a visualidade proposta pela direção de arte para caracterizar a personalidade dos irmãos.

Vale dizer que Stephen projeta os planos num caderno de notas que serve como roteiro e storyboard, e vale pensar que se Penelope representa o fator tempo, existe o conflito entre os dois por quem vai ficar com Bloom: o irmão que escreve a história ou a mocinha que o fará viver a vida real?

Montagem de cortes rápidos e a trama com um embaralhado de golpistas que tentam passar a perna um no outro lembram os filmes de Guy Ritchie, contando ainda com um grande vilão com quem os irmãos precisarão acertar contas. No capítulo que nos introduz a vida de Penelope é possível perceber a semelhança com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, quando a personagem cora ao perceber no toque de Bloom o encontro com o seu próprio Nino Quincampoix, ou quando o ensina a fotografar com sua câmera feita de melancia.

Apoiando a história nesta mistura de referências pop-cinematográficas embaladas por uma trilha bem colocada e inspirada na medida destas mesmas referências, Vigaristas transcorre sem problemas, segurando seus clichês com graça e humor.

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