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Críticas

Cineplayers

Comédia francesa ganha pontos pela simplicidade e carisma do "casal" principal.

6,0

Dirigido por Isabelle Mergault, Você é Tão Bonito é um daqueles simpáticos filmes europeus (este, no caso, é francês) que você só chegará a ver em algumas poucas locadoras ou, talvez, baixando da Internet. É um perfeito exemplo de cinema de entretenimento que não seja proveniente dos Estados Unidos, mostrando que há vida fora do cinemão americano. Dotado de um roteiro absolutamente enxuto e correto, no sentido “quadrado” da palavra, este é totalmente montado para agradar ao espectador, dando-lhe boas doses de humor e drama. O “quadrado” aqui não é algo necessariamente negativo, apenas limita a profundidade artística do filme, caracterizando-o pelo estereótipo de “diversão descompromissada”, chavão que os críticos usam demasiadamente, geralmente como eufemismo para “filme burro”. Não é o caso aqui, já que o filme de Mergault é agradável e não ofende a inteligência.

Trata-se de uma singela comédia de situações. Michel Blanc interpreta um fazendeiro francês de meia-idade que já desistiu do amor e do sexo. Ele vive para o trabalho. Até o dia em que sua esposa, que vive escravizada pelas atividades de dona-de-casa, morre. O homem resolve procurar uma substituta em uma agência de encontros, que lhe indica dar uma procurada na Romênia, país com problemas econômicos de onde jovens e belas garotas querem a todo custo fugir – mesmo casando com alguém do dobro ou do triplo de suas idades. Ele escolhe Elena, a simpaticíssima Madeea Marinescu, que deixa para trás filha e família para trabalhar com o fazendeiro. Aí para frente, as disparidades de idade e de costumes marcarão o roteiro.

É justamente a estranheza na relação de Aymé (Blanc) e Elena que dão o charme do filme. É divertido acompanhar a confusão na cabeça do homem – que sempre viu as mulheres como objetos para cuidar do lar. Ele preza mais as vacas. Obviamente, depois de alguns conflitos, a situação vai se inverter, para os dois personagens. Essa transformação é o ponto alto do filme, e o motivo pelo qual ele fica fácil e interessante de ser assistido. Há, ainda, uma gama de personagens coadjuvantes que não receberam desenvolvimento nenhum e estão lá apenas para diversão (denunciando o estereótipo de “diversão descompromissada” do filme francês). Estes coadjuvantes, porém, pelo menos ajudam a criar um ambiente agradável e aconchegante para o filme, adicionando leves doses de humor que tornam a experiência mais positiva.

Em fóruns da Internet, há quem more na Romênia e abomine o trabalho de Mergault. Afinal, seu povo é retratado como necessitado, demasiadamente pobre, e suas mulheres, como quase-prostitutas, que fazem de tudo para fugirem dessa vida de falta de luxo. Creio que o filme não deva servir de exemplo para análise político-social nenhuma, portanto tal aborrecimento é, no mínimo, exagerado. Claro que há a velha e um tanto quanto irritante estereotipação da mulher como objeto e do Terceiro Mundo como exemplo de comportamente não-civilizado. Aqui, porém, esses problemas são secundários e portanto não merecem muita atenção – o ponto central do roteiro, como já foi dito, é o relacionamento entre o fazendeiro e uma bela moça de outro país com aproximadamente metade de sua idade.

Tecnicamente, Você é Tão Bonito ganha ponto pelos belíssimos cenários da França rural. A direção de Mergault é boa o suficiente, de forma que ela consegue tirar alguns planos muito bonitos aproveitando tais cenários. A diretora filma com simplicidade e bastante liberdade, de forma óbvia demais, o que nesse tipo de filme é algo recomendado: “vá direto ao ponto e foque no roteiro”. Como comédia, o filme tem cenas muito boas. Praticamente todas as envolvendo Blanc e Madeea são divertidíssimas. Obviamente, não estamos falando de humor pastelão, mas sim de algo mais requintado – justamente o que afasta o grande público do cinema europeu: é “chique” demais para divertir, pensam essas pessoas. Na prática não é nada disso: a linguagem é simples e até mesmo o arco dramático (aí entra um ponto negativo) é novelesco ao extremo, tornando tudo bastante previsível. Felizmente, o filme não chega a virar um dramalhão muito óbvio, e no final das contas Você é Tão Bonito, apesar de suas limitações óbvias, é um bom programa.

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