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Críticas

Cineplayers

Mutantes padrão.

5,0
Apesar de este fato ter sido esquecido ao longo dos anos, e talvez pela popularidade cimentada pelos três Batmans de Christopher Nolan, foi com Bryan Singer e seu X-Men – O Filme que as produções de heróis encontraram novas oportunidades de dominarem a indústria de Hollywood. Faço esta alusão aos trabalhos de Nolan pois, tal qual sua trilogia sobre o homem-morcego, Singer arriscou na aposta de um tom sombrio, pessimista e realista sobre o grupo de pessoas super-dotadas intituladas X-Men, inserindo-os em contextos que trabalhavam temas como preconceito, anonimato, política, direitos igualitários... os mutantes deixaram de ser pessoas com super-poderes para tornarem-se um de nós, membros de uma sociedade que ainda teima em discutir o que é permitido ou não em uma civilização.

A aposta deu certo. O primeiro X-Men fez valer o risco, popularizou novamente os filmes de herói e mesmo após algumas sequências pouco dignas (como o malfadado terceiro filme ou as produções solo de Wolverine), a franquia veio se mantendo como uma das mais confiáveis em meio a este que já se tornou um novo gênero, aquele que aquece a indústria hollywoodiana e mantém suas produções em alta.

Em dado momento deste X-Men: Apocalipse, uma jovem Jean Grey (Sophie Turner), após sair de uma sessão de O Retorno de Jedi com outros personagens, joga a afirmativa “Mas nós concordamos que o terceiro é sempre inferior”, numa alusão ao descontentamento do público com o último filme da primeira trilogia. Tal afirmação certamente cabe para este Apocalipse também, continuação direta de uma segunda trilogia sobre os mutantes iniciada com  Primeira Classe e seguida pelo surreal Dias de um Futuro Esquecido. Digo isto pois tal qual O Confronto Final, Apocalipse arrisca uma mudança de tom e abordagem, se dispõe a entregar um produto mais acessível e, consequentemente, se deixa levar por uma fórmula padrão de se contar mais uma história de super-heróis recheada de personagens a torto e a direito. O resultado é até divertido, mas irregular pela incompetência dos envolvidos em dar vida a uma experiência bem dosada.

Numa abertura de proporções visuais grandiosas (seguida de créditos mortais para qualquer epiléptico que vá assistir ao filme no formato 3D), somos apresentados ao vilão Apocalipse (Oscar Isaac), que muitos anos depois será despertado para tomar de assalto uma sociedade que aprendeu a conviver com a existência dos mutantes, apesar de que ainda existem os refugiados e aqueles que ainda são vistos como meras aberrações para entretenimento. Mística (Jennifer Lawrence) busca se desvencilhar da imagem de heroína atribuída, resgatando e libertando mutantes marginalizados. Magneto (Michael Fassbender) constituiu família e se esforça para levar uma vida tranquila, enquanto que Apocalipse vai atrás de suas próprias forças mutantes para dar início ao seu domínio da Terra. Nesse meio tempo, Xavier (James McAvoy) continua a administrar sua escola para super-dotados, e recebe novos rostos como Scott (Tye Sheridan), Jean Grey e Noturno (Kodi Smit-McPhee). 

Fica clara a responsabilidade de Apocalipse em tomar para si tantos rostos, tanto “antigos” quanto novos, e introduzi-los de maneira adequada a um roteiro com potencial de grandiosidade. Tais riscos já haviam sido tomados em outros como Homem-Aranha 3 e o recente Batman vs. Superman – A Origem da Justiça, exemplos claros de como o excesso de personagens pode ser o pedido de morte para um filme. E Apocalipse, infelizmente, não foge a essa regra (ressaltando que exceções como Capitão América: Guerra Civil existem para nos fazer felizes). Em um claro descuido, ou talvez apenas num reflexo da indecisão do roteirista Simon Kinberg sobre quais rumos tomar, o filme se entrega a um desenvolvimento padronizado que não trabalha, mas sim nos diz o que devemos sentir ou esperar de seus personagens e suas atitudes, o que já torna difícil criar algum vínculo ou sentimento de preocupação com alguns dos mutantes. Excetuando a presença sempre imponente e trágica de Magneto e o contraponto cômico de Mercúrio (dono da melhor sequência do filme), quase nenhum dos veteranos ou novatos na franquia despertam algum interesse sobre seus destinos conforme a narrativa tenta alcançar um tom de urgência que é lapidado através de conceitos ingênuos. O próprio antagonista, apresentado através de viés religiosos que claramente lhe dão um potencial complexo, vai assumindo contornos cada vez mais cartunescos conforme tudo avança, e no final temos apenas um vilão de grande porte físico, mas que jamais justifica o temor que transmite aos mocinhos, por mais que Oscar Isaac tente dar algum peso debaixo dos quilos de maquiagem e figurino que lhe cobrem.

O exagero pirotécnico também é notável. O filme já vinha sendo alvo de pesadas críticas desde o lançamento de seu primeiro trailer, onde os internautas “chacotavam” tanto o Apocalipse com visual de vilão de Powers Wangers quanto a presença incômoda de um excesso de CGI ao nível dos jogos de PS2. Dito e feito: fica comprovado que Singer não é nenhum bom manipulador de efeitos especiais, e que a proposta mais fantasiosa não lhe cabe bem. O próprio produtor Simon Kimberg já havia dito que o nível das cenas de ação seria algo próximo dos filmes de Michael Bay, o que convenhamos, não é a melhor escola a se seguir. E é realmente lamentável ver aquele que elaborou sequências como o ataque de Noturno à Casa Branca em X-Men 2 ou a cena da queda do avião em Superman – O Retorno se entregar a um mar de explosões, luzes, flashs e destruição bagunçada, sem qualquer tato visual para permitir que o público usufrua dos momentos mais intensos.

E apesar deste capítulo supostamente encerrar a trilogia iniciada com Primeira Classe, fica bem claro que X-Men ainda não pretende ser encerrada por seus produtores. O que é uma notícia esperançosa, já que após a recepção não tão amistosa sobre este terceiro capítulo, é de se esperar que a franquia tente encontrar novamente seu caminho de confiança, pois dentre todos os exemplares sobre heróis atualmente, X-Men é um dos poucos de onde é possível extrair algo de verdadeira relevância para além do mero entretenimento.

Comentários (5)

Matheus Bezerra de Lima | quarta-feira, 25 de Maio de 2016 - 13:58

O Império Contra-Ataca que se fala na crítica é Star Wars?

Felipe Ishac | quarta-feira, 25 de Maio de 2016 - 16:17

Ela saiu na sessão de o rotorne de jedi, não de império contra "taca"

Luiz F. Vila Nova | quinta-feira, 26 de Maio de 2016 - 15:17

"X-Men é um dos poucos de onde é possível extrair algo de verdadeira relevância para além do mero entretenimento."

A única frase da crítica que concordo.

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