Saltar para o conteúdo

X-Men - O Filme

(X-Men, 2000)
7,2
Média
873 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um filme denso e poderoso de Bryan Singer.

8,0

Muito dessa onda de filmes baseados em super-heróis surgiu do sucesso de X-Men - O Filme, que, junto com o primeiro Homem-Aranha, desencadearam essa enxurrada de filmes inspirados em quadrinhos que parece não ter fim, todos ruins – inclusive as seqüências desses dois filmes. Nenhuma das obras posteriores tem a densidade e a força desse primeiro X-Men, grande cinema, graças ao talento do diretor Bryan Singer, que fez seu filme sem diluir o original.

Assim, Charles Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen, perfeito), os dois inimigos, representam Martin Luther King e Malcom X, os dois líderes negros que conduziram a emancipação dos afro-americanos na década de 70, impulsionados pelo movimento dos Direitos Humanos – Stan Lee em entrevistas afirmou ter se baseado neles para criar as personagens. Martin Luther King, o líder espiritual do atual presidente Barack Obama, pregava a paz e a união, a vitória por meio do consenso (Professor X), enquanto Malcom X queria partir para o uso da força (Magneto).

No caldeirão social e cultural fervente da luta contra a Guerra do Vietnã surgiram os X-Men, seres mutantes diferentes que sofriam preconceito. Talvez por ser gay assumido e judeu, o diretor Singer conduziu seu filme com uma força fora do comum, injetando nos heróis seja o ódio ressentido por terem sido excluídos da sociedade, seja um certo desprezo pelas leis da sociedade que estaria contra eles.

Ou seja, os X-Men estão longe dos distantes e inatingíveis Super-Homem ou Capitão América: eles lutam por uma causa que não acreditam muito, de forma que ganhar ou perder acaba dando na mesma – essa é a grande sacada do filme. Os heróis (do lado bom, digamos assim) são frágeis, ciumentos, invejosos, brigam entre si por picuinhas e têm complexo de inferioridade que os fazem cometer erros (como a poderosa Tempestade, que nunca consegue exercer seus poderes como deveria).

Já os vilões são mutantes também, só que ressentidos, como foi dito, rancorosos e, principalmente, cínicos, como a bela Mystique (Rebecca Romijn-Stamos), andando nua com seu corpo escultural, pura sensualidade felina a serviço do mal. Os mutantes do mal seguem Magneto porque vêem nele um veículo para consumar sua vingança. Como escreveu o crítico Jorge Coli, são a representação do que o escritor francês Alexis de Tocqueville filosofou no clássico A Democracia na América: o regime democrático seria como um amontoado de medíocres incapazes de dar o rumo correto para a humanidade. A descrença deles é, também, política.

Singer, que nunca havia lido os quadrinhos antes, tomou as liberdades e o distanciamento necessários e fez cinema, não adaptação dos quadrinhos (como no constrangedor Watchmen - O Filme). Trouxe as personagens ao contexto atual, de 2000, criou toda uma ambiência azulada-aquosa para o filme, em que a imagem inteira parece toda moldável, e encheu seus personagens de sentimentos muitas vezes nada nobres. A trama, escrita por ele e outros 11 roteiristas, é um plano delirante de Magneto para acelerar o processo de mutação dos maiores líderes do planeta, reunidos em Nova York para uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma vez mutantes, adotariam políticas de integração ou pelo menos parariam com a perseguição.

O filme vai de cenas impressionantes, muito bem filmadas, impactantes, com pouco discurso – impressionante como o falatório foi resumido e, no entanto, o filme seja tão expressivo. A máquina capaz de fazer a mutação acelerada é testada num senador xenófobo (inspirado no também senador Joseph McCarthy, o paranóico perseguidor de comunistas; uma parte de um discurso dele foi dita fielmente pela personagem) e o resultado é de arrepiar, com uma espécie de homem-água se dissolvendo incontrolável. Magneto morreria se usasse a máquina em tanta gente, daí ele precisa usar os poderes de Vampira, uma adolescente frágil, que mandou para o hospital o garoto que tentou beijar. "O que é uma vida, se comparado ao que vamos ganhar", diz Magneto depois de seqüestrá-la.

Antes do gran finale, uma bela cena de amor. Ciclope está de frente para sua amada Fênix sem os óculos protetores, amarrado por Magneto. Se os abrisse, soltaria uma rajada de raios mortíferos na mulher que amava – logo ela que não conseguia esconder a atração que sentia pelo impetuoso Wolverine (Hugh Jackman, impecável). Eles mesmo tinham acabado de brigar por conta disso. "Apenas confie em mim", diz Fênix, conseguindo uma maneira de fazê-los escapar da armadilha.

Os fracotes de Charles Xavier conseguiriam salvar a humanidade? Sobra para Wolverine, o embrutecido, o grosseiro, o dolorosamente solitário. Vai ajudar porque foi convencido por Charles Xavier? Que nada, vai porque não deixaria morrer a adolescente que tremia em suas mãos e dependia dele – a maioria dos X-Men não queriam Wolverine com eles, foi Xavier que insistiu para que ele ficasse... No alto da estátua da Liberdade, Wolverine grita para Vampira sugar seus poderes curativos até praticamente a morte, numa das mais belas metáforas que o cinema moderno criou em anos – nem Ang Lee dirigindo Hulk chegou a tanto.

Toda essa sofisticação não sobreviveu na série. Vendo o quarto filme da série, X-Men Origens - Wolverine, é pura diluição. Só há efeitos sonoros e visuais, nenhuma base social, a política passou longe. Os X-Men aqui são tão-somente seres aberrantes, sem densidade emocional, ridículas caricaturas do que foram na HQ e no primeiro filme.

X-Men, o Filme, é melhor que quase todos os filmes indicados ao Oscar no mesmo ano: Gladiador, Chocolate (?), O Tigre e o Dragão e Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento. Só Traffic tem a mesma atualidade, inteligência, espírito crítico e criatividade acima do normal que o primeiro filme dos mutantes tem, nessa que deveria ser uma referência para o cinema comercial americano mas, infelizmente, está mais para exceção.

Comentários (2)

Guilherme Santos | domingo, 17 de Fevereiro de 2013 - 00:30

sei nao essa critica tem muito spam, parece uma resenha

Renan Fernandes | terça-feira, 21 de Maio de 2013 - 20:17

Quando vejo uma nota acima de 5 desse crítico até me surpreendo kkkkk

Faça login para comentar.