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Críticas

Cineplayers

Combinação de erros faz do filme solo de Wolverine um capítulo desnecessário na franquia dos mutantes.

4,0

Os motivos que fazem determinado filme ganhar uma sequência dificilmente estão relacionados com a qualidade da produção ou com a continuidade da história que está sendo desenvolvida. Isso, claro, quando tal história é concebida através dos famigerados estúdios americanos. O motivo das sequências está relacionado, evidentemente, com o lado financeiro, e quando determinada produção fatura alto nas bilheterias não é nada estranho se deparar com uma continuação aparecendo nos cinemas pouco tempo depois. Quando um filme como X-Men: O Confronto Final encerra um lucrativo capítulo na história de um desses grandes estúdios, não é surpresa vê-lo correr atrás de novos lucros na mesma fonte. E é daí que surge a nova franquia X-Men Origens, que tem como protagonista de seu primeiro exemplar o mutante Wolverine.

Wolverine, personagem já estigmatizado pela pele e músculos de Hugh Jackman, nasceu nas histórias em quadrinhos da Marvel e acabou se tornando um dos mutantes mais queridos do universo dos X-Men. A arrogância e violência que transbordava nas HQs fora suavizada na pele de Jackman, ator australiano que deve seu sucesso ao papel do mutante, e que é claramente o protagonista dos filmes anteriores da franquia. Em X-Men Origens: Wolverine, temos a história do mutante detalhada em mais de 100 minutos de muita ação frenética, que quase nunca é justificada pelo fiapo de enredo sobre qual o filme é desenvolvido.

A trama se inicia com o personagem bastante jovem, ainda descobrindo suas habilidades especiais. Quando uma tragédia acontece em sua casa, ele foge junto com seu irmão e posteriormente se torna um combatente que participa de várias guerras, auxiliado por seus poderes descomunais. Logan em determinado momento opta encerrar essa etapa da sua vida, procurando pela normalidade até então inexistente, mas seus ex-companheiros não pretendem facilitar essa decisão. O que acontece a seguir é basicamente a versão estendida de uma das tramas de X-Men 2, em que o personagem trava um embate com o coronel William Stryker e com Dentes-de-sabre, para se vingar das traições que sofreu.

É claro que neste novo capítulo tudo se dá sobre uma nova ótica, que é composta pelos olhos de um Wolverine ainda não afetado pela perda da memória, mas as lembranças do mesmo apresentadas nos outros filmes da franquia já denunciavam tudo o que é mostrado como novidade em X-Men Origens: Wolverine. O fraco roteiro de David Benioff e Skip Woods ainda conta com vários clichês do cinema de ação, que tentam justificar os instantes mais movimentados da história, que não são poucos. A desgastada trama da busca por vingança soa bastante artificial, ainda mais quando é desenvolvida a partir da morte de uma pessoa querida pelo protagonista, e as viradas de roteiro, que tentam surpreender o espectador, apenas corroboram a previsibilidade da trama. Os instantes mais gratuitos da ação chegam a soar risíveis, como acontece quando Wolverine explode um helicóptero e sai triunfante em primeiro plano, enquanto uma explosão gigantesca ocorre em suas costas, não afetando em nada seu andar poderoso.

A participação dos outros mutantes e o tempo que os mesmos têm de exposição no longa tornam o tal aguardado filme solo de Wolverine uma ilusão. Personagens como o Dentes-de-sabre e o Coronel William Stryker eram indispensáveis para a transposição dos quadrinhos do personagem para o cinema, mas o que se vê é a inclusão de uma série interminável de outros mutantes de várias sagas dos X-Men, pouco aproveitados nessa produção. Gambit e o interessante vilão Deadpool que o digam, assim como o jovem Scott Summers, que acaba como a participação mais desnecessária.

Benioff e Woods podem ser culpados por vários problemas de X-Men Origens: Wolverine, mas não se pode ter certeza da parcela de culpa de outro envolvido no projeto: Gavin Hood, diretor vencedor do Oscar por Infância Roubada que estréia no gênero e em uma produção desse porte. Com os rumores de que o filme foi alterado, e muito, pela não satisfação do estúdio com a visão original de Hood, não se sabe até que ponto a produção tem o dedo do diretor. E, se ainda tem muito, Hood até pode ser elogiado por algumas sequências interessantes, como a que aparece junto aos créditos iniciais, que resume a participação de Logan em várias guerras, e utiliza efeitos e artifícios admiráveis.

Outro fator depreciável no longa está na utilização desenfreada dos efeitos especiais, que em alguns momentos apenas prejudicam a produção. A sequência final que se passa em cima de uma usina que acaba sendo destruída, por exemplo, é quase ridícula dada sua artificialidade. Quando a maquiagem aparece também não contribui muito para o filme, e a menciono pelos closes que em nada a beneficiam na cena em que Wolverine luta com Blob. Ainda mais problemas surgem quando são lembradas as edições de som e imagem do filme, sendo que a primeira chega a incomodar em certos momentos, enquanto a segunda faz com que algumas sequências de ação se tornem quase ininteligíveis.

X-Men Origens: Wolverine é isso, um combinado de fórmulas bastante utilizadas pelo cinema comercial que, incrivelmente, ainda funcionam com o grande público, sempre priorizando a ação descerebrada, mesmo sem conteúdo algum, em um filme do gênero. É por isso que a maior das fórmulas vai continuar a funcionar por ainda muito tempo: se a indústria faz e o público aprova, pra quê mudar?

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