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Zodíaco

(Zodiac, 2007)
7,9
Média
896 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Fincher teve a liberdade que queria e, mesmo Zodíaco não sendo uma obra-prima, é um dos melhores suspenses dos últimos anos

7,0

Finalmente o cineasta americano David Fincher fez seu filme de três horas, com a equipe que escolheu, orçamento a altura de seus delírios, atores famosos até nas pontas, visual super estilizado e assunto palpitante: um serial killer que vem fazendo vítimas desde 1969 e nunca foi descoberto pela polícia. Desde Alien 3 (que ele queria que tivesse quatro horas de duração), quando Fincher fez sua estréia nos blockbusters, ele já brigou com os produtores, demitiu um fotógrafo (Darius Khondji, na bobagem O Quarto do Pânico, que teve de ser substituído às pressas) e, ao ser chamado de reacionário pelo reacionário (ou fascistóide mesmo) Clube da Luta, reclamou da inteligência da imprensa. Essa mitologia toda serviu para alimentar uma certa aura de enfant terrible do diretor, que levou muita gente na França e no Brasil a considerá-lo “um gênio”.

Mesmo com toda a bala na agulha, Zodíaco, seu novo trabalho em cinco anos (é perfeccionista e por isso filma pouco), foi um fiasco de bilheteria (US$ 33 milhões arrecadados para os US$ 88 milhões gastos na filmagem – não inclui publicidade). Também, pudera: além da duração exasperante, tem um roteiro atulhado de detalhes, atuações maneiristas de Robert Downey Jr., Jake Gyllenhaal e Marc Rufallo, final inconcluso, violência explícita e nada de sexo, nem mesmo uma mulher fatal para compor o quadro. É praticamente impossível resumir a trama, tamanha a quantidade de pistas e suspeitos falsos (em determinada fase da investigações, os possíveis culpados eram 2.300), sem contar que o espectador precisa ficar atento às datas, pois o filme começa em 1969 e vai saltando os anos até 1984, seguindo os quatro assassinatos e todas as cartas que o serial killer enviou para os jornais.

Mas, como já ressaltou a maior parte dos críticos americanos, Zodíaco, apesar do fracasso comercial, é de longe, muito de longe, melhor do que qualquer outro filme que o cineasta já tenha feito. Trata-se de um policial dessa nova vertente surgida nos anos 90 com o sucesso de Los Angeles - Cidade Proibida, com visual caprichadíssimo, fotografia exagerada, edição frenética e muita arrogância intelectual para um nicho de filmes antes considerado popularesco. Mas Fincher o mesclou com imagens expressionistas dos filmes de terror B (o serial killer se inspirou num deles, The Most Dangerous Game, de 1932, no Brasil O Caçador de Vidas), colocou a câmera em locais inusitados (como em cima da ponte de San Francisco), botando todo seu virtuosismo visual para contar uma história enigmática sem perder o foco, mas sacrificando o ritmo por vezes para fazer algumas cenas bonitas. Belas, sem dúvida, muito belas.

Na primeira hora de projeção, o filme é realmente excelente. Isso porque, com San Francisco em pânico, vários loucos assumem a identidade do assassino e o serial killer podia estar em qualquer lugar, ou seja, a polícia luta contra um inimigo intangível, invisível e impalpável, que poderia estar em quatro cidades. As polícias batem cabeça, a tecnologia deficiente na época não ajuda, a manipulação pela mídia só faz piorar. E é quando o diretor, utilizando-se de fotografias e imagens antigas, molda a cidade inteira em seu labirinto de terror, detalhando o crescimento fisico e econômico atrelado à escalada da violência, produzindo um organismo vivo que comunica com o público. Faz de San Francisco uma personagem do filme. Brilhante. Lembra a San Francisco de Alfred Hitchcock em Um Corpo que Cai (Vertigo).

Na segunda parte em diante começa o gato-e-rato, somem as lentes anamórficas que distorciam a luz, o diretor carrega a mão, o roteiro aponta para o fim e o filme cai bastante. Torna-se um filme policial (o diretor recusara-se a assumir qualquer gênero até então), só que, pela obsessão do diretor com detalhes, todos filmados sem economia, a brincadeira toda tende mais para malabarismo ou transtorno obsessivo compulsivo (toc) do que para cinema. 

Provavelmente o público fugiu de Zodíaco na comparação com Se7en - Os Sete Pecados Capitais, filme supervalorizado e pseudo-culto (e pseudo-cult), com trama levemente parecida, por causa do serial killer, ou seja, seria um dèja vu. Mas Se7en é um divertimento sem pretensões bem filmado. Fincher em Zodíaco soube canalizar sua criatividade em função da história, e não apenas na superficialidade, como aconteceu no underground de boutique que é Clube da Luta.

A pulp fiction de Zodíaco é mais interessante. A cena de abertura, pela tensão e horror implícito, é magnífica. Em alguns momentos, como quando entra em cena o ator Brian Cox e seu cinismo, a tela vibra, assim com as luzes esmaecidas, amareladas e azuladas das câmeras de alta definição do fotógrafo Harris Savides (é um filme para se ver em tela bem grande). Ou mesmo quando o diretor recria, ponto por ponto, os assassinatos – o que é feito por facadas chega a, no mínimo, chocar pelo realismo. Xícaras, tonalidade do café, outdoors, shows da época são meticulosamente mostrados. Fincher recriou uma realidade graças à tecnologia digital.

Não há como pedir contenção para David Fincher, seu talento é obsessivo. Tanto que Fincher chegou ao cinema pelas mãos da exagerada Madonna: ele dirigiu três dos seus melhores clipes, Vogue, Oh Father e Express Yourself (que, na época, custou US$ 1 milhão e se tornou o mais cara já realizado). Com 45 minutos a menos, teria sido um grande filme.

Comentários (3)

Vinícius Aranha | quarta-feira, 18 de Janeiro de 2012 - 22:55

Clube da Luta underground de butique? Se7en divertimento sem pretensões? Pqp, Demetrius...

Roberta Cristina Machado | segunda-feira, 10 de Setembro de 2012 - 00:30

Clube da Luta underground de butique? Se7en divertimento sem pretensões? Pqp, Demetrius... (2)

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