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Críticas

Cineplayers

Greengrass usa novamente seu arsenal técnico para recontar parte da Guerra do Iraque.

5,0

A partir de agora, ambientar um filme na Guerra do Iraque dentro de um cinema mais tradicional é ficar à sombra de Guerra ao Terror, o paradigmático filme de Kathryn Bigelow. Isso porque o vencedor do Oscar deste ano extrapolava os limites da consciência do espectador para com o filme, como raros filmes de guerra anteriores fizeram – Apocalypse Now é, talvez, o mais emblemático desta seleção.

Zona Verde, este novo trabalho do britânico Paul Greengrass, sofre diretamente desse efeito comparativo, até porque é o primeiro a entrar em circuito após a consagração do filme de Bigelow. E seu formalismo in loco, de simulação do tempo real, realçado pelo estilo que bate ponto em qualquer filme de Greengrass – câmera na mão, imagem digital granulada, cortes secos próximos ao documental-televisivo –, o aproxima muito mais de Falcão Negro em Perigo, de Ridley Scott, do que dos filmes da Trilogia Bourne.

Como agravante, Zona Verde não é sustentado pelo seu protagonista Roy Miller (Matt Damon), subtenente do exército americano responsável por comandar um grupo de buscas por armas de destruição em massa em Bagdá que se vê completando missões infrutíferas. A personificação deste líder para Damon passa por ter um físico avantajado e modificar a voz para que esta soe mais grave, mas falta em sua composição um espírito de liderança que faça tornar seu personagem verossímil, no qual o espectador acredite.

E se não existe essa cumplicidade filme-espectador, resta ao segundo acompanhar o desenrolar da trama, que é baseada em fatos e narrada em livro (“A Vida Imperial na Cidade Esmeralda”) pelo jornalista Rajiv Chandrasekaran, que remonta 2003, quando o exército norte-americano de George W. Bush ainda caçava os principais líderes do governo iraquiano, e também as armas de destruição em massa que justificavam a invasão ao país árabe para a mídia e para a população global. Sabe-se que as tais armas jamais foram encontradas, e sob a inépcia das Nações Unidas, um regime foi desmantelado e uma guerra civil iniciada.

Apesar de Zona Verde chegar aos cinemas numa época em que a Guerra do Iraque já não é mais midiaticamente quente e toda a farsa a envolvendo já ter sido engolida, é interessante acompanhar o viés (ficcional, obviamente) do filme em que o personagem de Damon vai recolhendo informações que desacortinavam os reais motivos da invasão pelos Estados Unidos, que tinha um agente de inteligência (Greg Kinnear) manipulando falsas informações repassadas por um informante de codinome “Magellan”. É quando o filme ganha em inteligência e interesse, ainda que a conclusão se resvale nos eternos clichês perpetrados pelos filmes de ação.

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