Donnie Darko é muito mais do que um amontoado de cenas belissimamente gravadas, é muito mais do que um roteiro bem amarradinho (mesmo não parecendo à primeira vista), Donnie Darko não é apenas mais um filme inteligente a se assistir e a se desvendar.
Donnie Darko é um universo. Um universo criado na mente de um adolescente do final dos anos 80. Até que ponto esse universo fica recluso à mente de Donnie é uma questão muito mais complexa do que supostamente possa parecer, tudo foge do controle quando seus devaneios colocam em risco a integridade sua e das pessoas que o cercam.
Donnie (Jake Gyllenhaal) é um jovem que é acometido por crises de sonambulismo e esquizofrenia, e, quando acordado certa noite, é avisado por um coelho gigante que o mundo acabará em 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos. Então uma contagem regressiva se inicia e a cada novo momento coisas acontecem que fazem com que Donnie acredite que há algo de errado e que a profecia possa ser de fato real.
O filme começa quando o jovem Donald (Donnie) Dako acorda em mais um de suas crises de sonambulismo e parece entender que algo aconteceu, ou que vai acontecer quando olha para o horizonte. Na cena inicial já temos uma palhinha da trilha sonora inspiradíssima (e inesqucível) do filme. A trilha é usada em outros momentos para a apresentação das personagens em planos de câmera rápidos e em momentos chave do filme (utilizada com a mais perfeita coerência diga-se de passagem).
O diretor e roteirista Richard Kelly que aqui faz seu primeiro trabalho, consegue criar uma atmosfera de mistério e suspense sem perder em momento algum a humanidade para com suas personagens.
O universo criado em Donnie Darko é tão abrangente que vai muito além da esquizofrenia, do medo, das paixões, das relações familiares, do suspense, do crime, de questões metafísicas, de viagens no tempo, de sacrifícios. Donnie Darko é um universo maior do que tudo isso junto. Apenas assistindo (e dependendo até mais de uma vez) para se entender o quão grandioso é.
O elenco está completamente impecável. Jake Gyllenhaal é sem dúvidas lunático (isso é um elogio). As questões políticas, estão lá, o conservadorismo de uma época (a estória se passa no ano de 1988), o confronto entre realidade e ilusão, entre ciência e religião, tudo está abrangido pelo universo de Donnie.
Muito desse universo pode passar despercebido em primeira instância tamanha a riqueza e sutileza de detalhes. Há personagens de passagem apenas visíveis sem fala alguma, que simplesmente parecem que estão ali sem propósito algum, mas que tem sim, e estão ali para fazer elo com acontecimentos importantíssimos do filme. Por isso uma segunda, talvez uma terceira análise não seja pouco.
Algo magnífico criado pelo estreante Richard Kelly são os diálogos. Cito aqui sem comprometer a surpresa e nem estragar a magnitude de nenhum por exemplo: a conversa sobre os Smurfs, a conversa de Donnie com o professor, todas as conversas com a psiquiatra e a principal, o sussurro de “Vovó Morta” ao ouvido de Donnie.
Compreender o universo do filme não é fácil, mas é um deleite a parte a cada lacuna preenchida. Cada cena vista, cada emoção sentida. Donnie Darko não basta apenas ver, tem que sentir.
É um filme imperdível para todos aqueles que não julgam o cinema apenas como um bom passatempo, ou um passatempo descompromissada de final de tarde. Se Donnie for visto com essa intenção certamente será detestado porque não será entendido. Agora, para quem gosta de colocar a massa cinzenta para funcionar e sabe apreciar a originalidade e qualidade, é sim, imperdível.
Donnie Darko é uma obra única, incomparável e inesquecível.
Cellar door!
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