A transição do clássico cinema mudo de Carlitos ao até então desconhecido, para ele, cinema falado. As claras mudanças desde Tempos Modernos (1936) até O Grande Ditador (1940). O encontro do humor simplório com um afronto ao regime nazista. Sem qualquer hesitação, é fácil dizer que este é o trabalho mais audacioso de Chaplin.
A crítica (in)direta e a forma como ele procurou alfinetar Hitler e seus princípios (juntamente com quem partilhava de seus ideais) é tão... sutil. Não são todos que teriam a coragem de criar um filme assim, justamente no início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Poucos conseguiriam produzir uma obra cômica com acréscimo de história; de humanidade! Chaplin mais do que nunca transmite o sentimento humano, a paixão pelo próximo, independente de sua raça ou religião.
A mensagem de anti-guerra do filme é linda. O discurso final é uma das cenas mais belas, mais honestas, mais sensíveis e mais incríveis que o cinema já teve o prazer de assistir. Não há como negar que o discurso do barbeiro judeu (como Hynkel, aqui) é um momento para ser refletido e sentido por um bom tempo. Serve para analisarmos nossos próprios estilos e preconceitos. Nós não somos máquinas e não devemos deixar a ganância tomar posse de nós - humanos.
Num desempenho incrível, Chaplin consegue interpretar dois personagens distintos de um modo único e especial! Hynkel, apesar de ser "O Grande Ditador", é um personagem extremamente engraçado. Vale destacar o primeiro encontro de Adenoid Hynkel (Alemanha: Hitler) e Benzini Napaloni (Itália: Mussolini). A saudação nazista/aperto de mão compõem um dos acontecimentos mais hilários de todo o filme. Uma sequência recheada de humor pastelão (que tem total êxito, por sinal).
Por fim, é razoável deixar um pedacinho do discurso final. Discurso este que tentou mudar a cabeça sádica de Hitler e seus companheiros. Mesmo situando-se no início da guerra, onde "quase nada" havia sido feito, Chaplin tentou! Impossível dizer o contrário. Usando sua inteligência como aliada, Chaplin tenta interromper nem que seja um pouco o que causaria uma das maiores desgraças que nossa raça já passou. Mas, infelizmente, o que ele e grande parte da população almejavam só chegou em 1945. Miseráveis cinco anos se passaram para que esse regime acabasse. Uma pena que a violência foi combatida com mais violência - não havia outra saída -, desprezando totalmente o senso humanitário que Chaplin pregou em seu discurso.
Agora sim, segue um trecho do magnífico discurso:
"Me desculpem, eu não quero ser um imperador, esse não é o meu ofício. Eu não quero conquistar nem governar ninguém. Eu gostaria de ajudar todos sempre que possível. [...] Nós pensamos muito e sentimos pouco. Mais do que máquinas, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, nós precisamos de carinho e bondade. [...] Não se entreguem a esses homens artificiais. Homens-máquina, com mente e coração de máquina. Vocês não são máquinas [...] Vocês são homens!"
Bela crítica! 😁