Dedico esse escrito a jovem Josiane.
Quem é Rocky em sua essência?
Um pobre homem com mais de 30 anos que vive em um bairro miserável da Filadélfia. Alguém que sabe que não possui uma grande inteligência. Namora uma garota desprovida de atrativos físicos. Uma nulidade completa cuja maior marca é não possuir atrativo nenhum. Um de seus maiores prazeres é o boxe, mas ao que tudo indica este também não encontra motivos para manter esse relacionamento.
Notamos em seu inicio que o personagem também tem dívidas com um agiota. Podemos afirmar que Rocky não é um lutador, é um sparring cuja vida o mantém em pé por puro sadismo.
Stallone um ex- astro pornô escreveu esse roteiro e buscava alguém que se interessasse por ele. Stallone mesmo não é um grande ator. Ele é o próprio Rocky, um homem a procura de uma oportunidade.
Para coroar as ditas “qualidades” do personagem, o toque de gênio. Precisava dotá-lo de uma marca, a estigma maldita do nome: “Rocky” – que remete a rock - a droga maior, A marca de Caim.
Naquela época bem me lembro os USA estavam na lona moralmente falando. Foram humilhados pelas tropas comandadas por Vo Nguyen Giap e todo o país vivia a Síndrome do Vietnã. Moralmente, já que em minha opinião guerrear é pior.
Em se pensando dentro da mentalidade americana também pesa o fato dele ter de enfrentar um afro descendente (raça negra era homogênea naquela época dentro do ringue). Ou seja, a aparente oportunidade era ilusória.
O que vale a pena observar em tal filme é o simbolismo do sonho americano. Como a vida simples e ordinária de um João Ninguém amaldiçoado até no nome, cercado por outras nulidades pode ser modificada pela força interior e pelo poder de crer (Muito mais eficaz que qualquer receita de Napoleon Hill em seus ignóbeis livros). Quando a chance chega; enfrentar o Campeão do Mundo em uma luta oficial, somente ele e seu treinador crêem em um final que não seja o massacre de si próprio (fascinante a cena em que ele perdoa o “homem” que lhe expulsou da academia; afinal todos são falíveis e capazes de ferir).
E surpreendente é constatar que Stallone está crível no papel de um herói cabeçudo, teimoso, inflexível como o chumbo: é a perfeita encarnação de alguém ultrapassado que perdeu o trem da vida e sonha ainda poder se acomodar nele. Um homem dotado do espírito do sacrifício.
Um filme que tem a capacidade de ir num crescendo e te cativar desde o início até seu término. Ainda que existam clichês, eles são postos de forma que não atrapalhem e não atraiam a atenção para si.
Os entendidos de boxe (não curto esse resquício da barbárie) dirão que os combates são pouco realistas e de uma pobreza técnica que aflige. Ora tolos jovens, o objetivo não era realizar um filme sobre boxe. O alvo a ser atingido é dar uma lição de vida através do personagem principal. Os golpes não são desferidos em direção ao corpo do oponente. Eles se dirigem ao coração de quem assiste como música boa aos ouvidos (música, não barulho).
E é o coração que faz com que ele se sinta atraído por Adrianna (Talia Shire), a futura esposa ao qual ele gritava incessantemente o nome com a boca ensangüentada durante o combate. É ele também que faz com que ele perdoe e auxilie seu antigo treinador, tal como ele, um fracassado. E é novamente ele que finge não enxergar os interesses escusos de seu futuro cunhado, um ser tão medíocre quanto ele.
A emoção se desprende a cada momento, de cada personagem que compõe esse belo quadro composto dos que jazem esquecidos pela fama. Contudo o que mais admiro no filme é seu final. Balboa não ganha a luta. Ocorreu um empate. Naquele momento sair com honra de uma batalha já estava de bom tamanho. Não é necessário os holofotes. Somente a certeza de sermos ao menos reconhecidos como existentes.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário