É possível sentir medo de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Tem fobia pra tudo. É possível sentir medo até de névoa. Se você está num filme de John Carpenter então... É aí que deveria sentir medo. Em A Bruma Assassina (The Fog, 1980) o diretor bebe de diversas fontes para compor uma obra de terror das mais simples e que mexe com o espectador apenas usando o subjetivo. Com custo baixo e seguindo a premissa clássica do terror, o medo do desconhecido e o mistérios por trás dos acontecimentos, para deixar a plateia tensa com uma simples névoa.
A Bruma Assassina, essa aliás uma péssima tradução, conta a história de uma cidadezinha costeira que é amaldiçoada por uma névoa misteriosa, que há cem anos apareceu na baía e afundou um navio, matando todos os tripulantes. É claro que essa maldição voltará um dia e que com que ela ainda trará uma tripulação de piratas esqueletos sanguinários em busca de vingança. Pois bem, a hora chegou. Não foi nem a primeira nem a última vez que Carpenter usou de um roteiro abarrotado de clichês para fazer um grande filme, aqui deu certo mais uma vez.
O teor de maldição confere ao longa ainda um ar oitentista que marcou a carreira do diretor, ainda mais com filmes que fizeram muito sucesso por aqui, como Fuga de Nova York (Escape From New York, 1981) e Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble In Little China,1986). Interessante observar também todo o ar nostálgico conferido à obra, como na cena inicial, com um velho contando às crianças a história da maldição, tudo num acampamento em volta de uma fogueira. Além disso há a importância do rádio na comunicação da cidade. O meio de comunicação que sempre teve certo ar mais comunitário, serve tanto para entreter os marujos em tempos de paz quanto para avisar dos perigos da névoa aos moradores em tempo de maldição.
A influência de Dario Argento é visível na concepção de um cenário misterioso e colorido. Com luzes brilhantes e muito gelo seco para conceber a arrepiante névoa, Carpenter trabalha com seus personagens cercados por um mal praticamente invisível, que os isola da civilização. Assim como nos filmes de Argento, a trilha sonora em Bruma Assassina é fundamental para ditar o ritmo horripilante do filme. A ideia do terror causado pelo caos sempre esteve presente nos filmes de Carpenter, porém foi aqui onde ele conseguiu casar perfeitamente isso com o sobrenatural.
Outro destaque fica também para o belo cenário que compõe a cidade litorânea onde o filme se passa. Aqui mais uma vez é possível se lembrar de Argento, que fazia seus filmes da época geralmente em pequenas cidades isoladas, como em Suspiria (idem, 1977) e Phenomena (idem, 1985). Nesses casos, trabalhar com uma pequena comunidade do interior facilita a verossimilidade da obra, onde o medo do desconhecido é maior e a dificuldade em se obter informações, pelo menos na época em que não existia internet, maior.
Tudo que foi falado contribui para assistir hoje a Bruma Assassina com esse olhar saudosista. Num tempo em que se fazia terror com tão pouco, sobraram hoje quase que apenas produções caras com efeitos especiais que não assustam nada. Salvo uma ou outra exceção, resta apenas um apanhado de filmes de terror que se levam a sério e por isso causam apenas vergonha, quando não até raiva. Por isso mesmo é sempre bom revisitar algumas pérola dos anos 70 ou 80, quando se fazia tanto com tão pouco, os roteiros não se levavam tão a sério e faziam você ficar tenso com uma simples névoa.
*Texto escrito originalmente para o blog Cine Alphaville.
O problema é que hoje em dia se extrai quase todo o conteúdo da obra original e apoia-se em nudez e violência graruita e em rostinhos bonitos. Não sou 10% contra remakes, asssim como o Felipe.
Não sou muito fã deste aí (preciso rever) mas o remake é um desastre mesmo.
10%=100%...
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