Slumdog Millionaire: uma fantasiosa história de amor diante das dificuldades da favela indiana!
Que os filmes independentes vêm ganhando espaço no cenário cinematográfico norte-americano e, principalmente, na academia, é indiscutível. Depois de Pequena Miss Sunshine, que foi grande concorrente à estatueta de melhor filme em 2007, e Juno, não tão digno da qualidade do anterior, a academia abriu novamente um dos 5 “assentos” ao maior prêmio do Oscar a um filme sem o patrocínio dos grandes estúdios, mas dessa vez Slumdog Millionaire (no Brasil: Quem quer ser um Milionário?) veio pra levar, e levar tudo o que podia.
As qualidades desse trabalho são tamanhas, que passa por absolutamente todas as etapas de construção de uma obra. A fotografia é digna de aplausos, visualmente espetacular brinca com os cenários ao longo do filme. A montagem é um dos pontos fortes do filme, dando uma dinâmica frenética e ágil pouco vista nas películas atuais e característica de Danny Boyle. A trilha sonora é simplesmente sensacional. A.H. Rahman, lembrem desse nome. O cara é simplesmente genial em sua trilha sonora, mesclando sons que vai de música eletrônica a um hip hop indiano, totalmente fora dos padrões convencionais do que escutamos normalmente por aqui, no mundo ocidental. O som da obra em geral é de uma qualidade incrível, que acaba destacando-se até mesmo nos cinemas “chulés” que não possuem um bom equipamento sonoro. Deixando o leitor a par, estes temas de que falei foram todos premiados pelo Oscar, cada um em sua categoria.
O roteiro é algo fantasioso e ao mesmo tempo repleto de diversas possibilidades de percepções. A estória conta a vida de Jamal e seu irmão, Salim, que, favelados e miseráveis, passam por todas as desgraças que podem imaginar. Aí surge Latika, a eterna amiga inseparável dos dois irmãos. Por meio de grandes reviravoltas cada um toma um lado. Resumindo, afim de não revelar o desenrolar da estória, Jamal acaba inscrevendo-se num programa de perguntas e respostas, chamado Quem quer ser um Milionário?, semelhante ao nosso Show do Milhão. O filme começa do fim, quando o garoto já está no programa, e que após suspeita de fraude na resposta das questões é levado para um interrogatório com o inspetor de polícia encarregado. É aí que Jamal conta como respondeu as perguntas e como sabia das alternativas corretas, correlacionando os fatos com a sua vida e acontecimentos miseráveis. A torcida por Jamal é tanta, que faz o espectador vibrar com a tensão criada durante o fim do filme.
O mais interessante do roteiro é que tal estória tinha tudo para ser conduzida para um lado mais drástico, contudo é absolutamente o contrário do que se imagina, o foco do roteiro é, justamente, em acontecimentos felizes da vida dos irmãos. Esse jogo de emoções é, sem dúvida, um dos pontos fortes do belíssimo roteiro, ainda que seja repetitivo demais no transcorrer da estória e vazio em certos momentos.
Danny Boyle, diretor de filmes alternativos tais como Cova Rasa (1994), Trainspotting (1997), A Praia (2000) e Extermínio (2002), encontra aqui o seu melhor trabalho, sem a menor sombra de dúvidas. Ele é o ponto diferencial que faz do filme um sucesso de crítica e bilheteria. Inspiradíssimo, como nunca, utiliza uma direção extremamente ousada e dinâmica, com uma mão pesada que deu ao filme um visual alucinante, fantasioso, digno de grandes aventuras que ficarão marcadas por toda a história do cinema mundial. Interagiu plenamente com o cinema indiano, o chamado Bolywood, realizando a junção dessas duas culturas distintas, porém não tão diferentes assim.
Fazendo um parêntese a respeito da premiação do Oscar, tenho em mente que esta foi uma das temporadas mais disputadas, ainda que abaixo da qualidade das anteriores, por não apresentarem obras-primas indiscutíveis como Onde os Fracos não Têm Vez e Sangue Negro. Digo isso pelo mesmo nível que os filmes, a grande maioria deles, concorrentes e os deixados de lado demonstram. Apesar de não ter visto Frost/Nixon nem mesmo Dúvida, acredito que Slumdog Millionaire tenha sido digno de sua premiação, ressalvando as qualidades dos também concorrentes Milk e O Leitor e dos esquecidos Ensaio sobre a Cegueira, O Lutador, Foi Apenas um Sonho, Batman e Wall-E, que, particularmente, gostaria de ver como um dos 5 indicados a melhor filme.
Até pode não ser o melhor filme do ano, porém um filme independente com muita originalidade e qualidade, somado ao enlace entre as culturas cinematográficas, ter sido o grande vencedor do último Oscar é um sinal de reconhecimento por parte da academia aos filmes que fogem do chamado típico trabalho Hollywoodiano.
Vibrante, do início ao fim!
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