Todos tememos a solidão. Pode-se dizer que ela é mais um daqueles fantasmas que rondam a vida de todos nós por anos, esperando o momento certo para se instalar em nossos corpos e se alimentar do que nos sobrou de melhor. A ideia de morrermos sozinhos, de não termos alguém com quem contar e o medo em relação ao futuro incerto, são apenas alguns dos demônios internos que os personagens de "Ferrugem e osso" tentam exorcizar durante as duas horas de duração do longa metragem do diretor Jacques Audiard (nome responsável também, pelo elogiadíssimo "O profeta"). É um filme sobre a dor, sobre pessoas comuns a quem coisas ruins aconteceram, um filme marcado pela angústia e também por um fio de esperança, quase imperceptível, que indica o caminho para a redenção pessoal de seus sofridos protagonistas.
Apresentado no festival de Cannes deste ano, conta a história de dois estranhos, que se veem unidos através de suas tragédias. Alain (Matthias Schoenaerts) é um lutador fracassado que trabalha como segurança em uma boate noturna para sustentar o filho pequeno. Lá ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), uma treinadora de baleias orcas que acabou se envolvendo em uma briga. Após um terrível acidente que deixa Stéphanie sem as duas pernas (como o trailer apresenta), a relação entre eles se intensifica, e temos o inicio de uma amizade.
O que chama a atenção no filme de Audiard é a carga emocional pesada, mas de maneira alguma apelativa. As camadas de dramas em que os protagonistas são inseridos vão se tornando cada vez maiores. Enquanto Alain se envolve com negócios ilegais para conseguir dinheiro fácil, a personagem de Cotillard se vê apaixonada pelo homem que agora, se tornou as pernas que ela já não tem, e é de partir o coração ver nos olhos dela o medo de passar uma vida afundada na solidão por não ser mais a mulher atraente que ela julgava ser, assim, nos compadecemos de nossa infeliz protagonista, que nada mais é que um reflexo das inseguranças de todos nós, com ou sem deficiência física.
Marion, que já tem um Oscar em casa por "Piaf" (sem dúvidas, a melhor atuação feminina da década passada, ao lado de Cate Blanchett em "Não estou lá") é um nome certo nas indicadas desse ano na categoria "Melhor Atriz" por seu desempenho como Stéphanie, o que é mais do que justo, pois aqui ela dá a sua personagem algo que muitas do ramo jamais conseguiriam dar, alma. Os elogios em torno de sua atuação só crescem e, apesar de ainda estarmos longe da premiação, é desde já uma das favoritas.
"Ferrugem e osso" é um daqueles filmes imperdíveis, que atende as exigências de diversos públicos sem ser comercial, não é explorado de todas as maneiras que poderia ter sido, mas é um trabalho e tanto do diretor francês, onde não há um final feliz ou triste, há uma abertura para novos caminhos, sejam para a dor ou para a salvação utópica pela qual a humanidade anseia.
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