Nem todos os filmes que recebem notas medíocres são menos importantes. American Pie é prova disso, na minha opinião.
Sim. Uma história que não traz nada de novo ao gênero e uma comédia simpática com boas risadas (quem não gosta?). Porém, apesar de não trazer nada de novo, o fenômeno American Pie foi extremamente influente para toda uma nova geração de comédias hollywoodianas que, infelizmente, produziu muita porcaria. No entanto, o pontapé inicial não foi nada menos que uma hilária, divertida e simpática comédia adolescente.
Jim, Kevin, Finch e Oz são amigos em suas últimas semanas de aulas e, portanto, a formatura se aproxima. Os quatro amigos fecham um pacto em que perderão a virgindade até o dia da formatura, ou pelo menos, no dia da mesma. A jornada sexual dos quatro amigos é recheada de momentos hilários e reviravoltas na busca pelo sexo.
Com certeza, a impressão que se deu ao ouvir a sinopse antes do lançamento do filme foi de que seria um besteirol tosco e bobo. No entanto, American Pie se tornou mais porque todos os seus personagens possuem algo que muitas comédias deixam de lado: a personalidade própria. Todos os personagens, mesmo os menores, são facilmente diferenciáveis e identificáveis por sua singularidade bem cuidado e por vezes até decentemente construída. Além disso, palmas para a produção por tratarem as personagens femininas não como apenas objetos sexuais, mas seres pensantes e com cérebro (algo que Hollywood não parecia lembrar).
É claro que não há um mar de rosas e trata-se de uma comédia perfeita. Muitos defeitos são percebidos que podiam até comprometer o resultado principal. Por exemplo, o personagem de Stifler é muito mal aproveitado (o seu potencial seria mais propriamente utilizado nos capítulos seguintes) e o seu relacionamento com os protagonistas acaba se tornando artificial demais para que um deles chame-o, mesmo que de forma bem superficial, de "amigo". Além de outros personagens como os de Sherman serem plenamente descartáveis, mesmo que ainda possuidor de alguma singularidade.
O elenco é eficiente, nada mais. Com algum ou outro destaque como Eugene Levy (atuou em todos os filmes da série) e Jason Biggs, principalmente nas cenas que compartilham em uma química pai-filho muito envolvente. Os outros rapazes protagonistas fazem um trabalho digno, mas não muito destacável e, infelizmente, ao longo da série não receberam tanta atenção que renderia mais lucro qualitativo.
Agora reservo um momento para falar de algo que pretendo abordar nos próximos textos dos outros capítulos da série: a profundidade (ainda que mínima).
Como todos sabem, uma comédia adolescente mais recente não costuma ter profundidade e trazer mensagens para refletirmos. American Pie não é um poço, mas não chega a ser o mais raso dos pires. A reflexão talvez seja no próprio tema principal, o sexo. Afinal, todos nós fomos obcecados por tal assunto quando adolescentes, mas qual é a verdadeira importância da sua primeira vez? Ela será tão melhor quanto fazer com uma pessoa que você verdadeiramente ama e se importa? A banalização das relações é levemente discutida e aí está um ponto admirável em American Pie. Em meio de todos aqueles peitos, piadas escatológicas e grosseiras há algum coração que bate e mostra vários ângulos de relacionamento: o "maduro" que caminha para um fatal fim, o início de um doce, um relacionamento com uma mais velha (épico) e até uma descompromissada vez que no futuro pode ser especial.
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