Quando assisti Holocausto Canibal já sabia, mais ou menos, a bad trip em que estava me metendo. Toda a atmosfera criada pelo histórico que acompanha o filme, que se estende por proibições, banimentos, subversões, apreensões, etc., anteciparam a idéia do tipo de experiência que me aguardava assim que os créditos iniciais se iniciassem. O que eu não poderia antever é que a apelação gráfica tão comentada em torno fosse, invariavelmente, tão injustificável. Dos rituais macabros indígenas à igual animalidade do homem branco, qualquer tipo choque estético que venha a propor, jamais encontra reflexo no resto; é como se fosse um embuste para uma violência gratuita.
Em relação à qualquer análise social, humana, ou qualquer coisa do tipo, se a intenção era provocar uma reflexão, passou bem longe, e isso não somente pela previsibilidade com a qual a mensagem pretende ser transmitida, mas pelas opções estético-narrativas do diretor, que precisou se valer de uma repetição visual deprimente para dar um recado dos mais manjados. O problema está, repetindo, na forma como aquilo tudo é tratado, na escolha de fazer algo que nascera polêmico em nome de uma crítica extremamente mal trabalhada, que, a certa altura, chega a ser esquecida no meio de recursos visuais usados para provocar aversão, ou asco, que seja, sem qualquer preocupação na criação duma atmosfera digna, etc. E quando a crítica retomada, soa sempre vazia, tentando a todo custo enfiar-se goela abaixo.
Com todos os alardes que circundam o filme de Deodato, ele foi se criando durante suas três décadas de existência através duma aura Cult, seja justamente em função das questões históricas ou o reconhecimento imediato enquanto clássico underground. O caso é que tudo não é mais que a rotulagem dum filme cretino, que diz se propor a fazer uma observação social, mas precisou da brutalidade das imagens para sustentar suas pretensões, que, aliás, nunca se concretizam. Fica uma questão no ar, ao fim, sobre o que o cineasta realmente planejava com aquilo tudo, se ele realmente queria alimentar uma discussão atual como deixa a entender, tateou as fórmulas que encontrou, mas se equivocava em cada ponto; ou se aquilo era só um exercício frustrado de um cara que somente queria fazer barulho aos trancos e barrancos, e, visto a recepção ao logo dos anos, conseguiu.
Se a primeira idéia for a certa, só resta pensar que, se um dia aquela proposta valeu (o que duvido), foi quando se encontrava ainda no script, já que, convertido para celulóide, não consegue sair da superficialidade como uma carnificina oca, infundada. Se a segunda opção foi a efetiva, coisa que acho até mais provável, nem resta mais nada a ser dito, já que a própria baixaria fala por si só, revela suas intenções e, mais ainda, os propósitos infantis de um diretor que, tentando fazer nome a força, só quis chamar atenção um dia e deu no que deu. E isso, mais que qualquer crueza nas imagens ou mensagens trabalhadas porcamente, é o mais difícil de engolir.
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