Primeiro drama da filmografia de Allen é um forte estudo sobre família e carreira, dirigido de maneira concisa em um momento de grande criatividade autoral de Allen.
Claramente inspirado em Bergman, pelo qual Allen sempre fora grande fã, Interiors trata de uma família novaiorquina intelectual burguesa, que vira de pernas pro ar quando o patriarca, Arthur (E.G. Marshall) decide separar-se de sua mulher, Eve (Geraldine Page, divina). Com isso, no intento de tentar reverter a situação, as filhas Renata (Keaton), Pearl (Stapleton) e Flyn (Kristin Griffith) vão acabar descobrindo detalhes nada agradáveis sobre si, pondo em cheque toda aquela plástica estabilidade da família, bem como também, de suas carreiras.
Em certo momento de sua filmografia – especialmente no magistral Hora do Lobo – Bergman questiona o sentido de suas obras, a utilidade, como reagir a bloqueios criativos, etc. Tal ocorrido está presente em Interiores, de uma forma peculiar, que liga a vida de escritoras e/ou artistas das filhas e genros de Eve ao que ocorre com ela, seu processo de demência causada pelo fato de ela não aceitar a separação de seu marido. Não há como negar, entretando, que tal postura também se enquadre a Allen, que tal como Bergman à sua época, via seus filmes como uma forma de reflexão sobre eles própios, sobre a utilidade daquilo que ele fazia. Uma postura que, embate em temas delicados, principalmente no que se refere ao “direcionamento da arte”: seria algo introspectivo? Ou algo que partisse da vontade de outrem? Qual o sentido e os interesses da crítica? Quais pressupostos indicam o que é bom ou ruim?
Para além disso, Allen extrai daquele ambiente íntimo presente no interior da casa de praia, na garagem dessa, nos corações daquelas pessoas, os mais profundos sentimentos, as mais tensas angustias, condicionando naquela decoração de móveis e objetos a falta de humanidade nas relações daquela família, a falta de sentimentos verdadeiros por traz daqueles movéis em tons pastel, sabiamente planejados. Um esmerro que aquelas pessoas, certamente não tinham pelos seus entes. Joel Schumacher assina o figurino, discretos, sóbrios, bem diferente de sua elegia homossexual tresloucada greco-romana, Batman & Robin.
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