De maneira ora sutil e poética, ora dura e imperdoável, Denis Arcand controe em torno de seu protagonista, Rémy, boa parte daquilo que ele quer ser ou foi, e de seus codajuvantes, parentes e colegas, boa parte do que somos nós, ocidentais. Com total domínio da linguagem cinematográfica, com profundo controlo sobre as possibilidades de incerssão de temas complexos (e corajosos) de nossa atual realidade, Les Invasions Barbares acaba sendo um filme pra poucos, com forte conteúdo político e com possíveis verdades nem sempre adoradas.
Dirigido e Roteirzado pelo própio Denis Arcand, cineasta esquerdista, As Invasões Bárbaras levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - José Wilker lembrou do filme o Oscar inteiro, extasiado toda vida na originalidade da obra. Fazendo parte de uma trilogia de Arcand iniciada em 86 com o vencedor do ,Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Declínio do Império Americano e finalizada em 2007, com Era da Inocência, As Invasões Bárbaras conta os fatos que antecedem à morte de Rémy, professor universitário, a ajuda de seus amigos, e de seu filho o sempre ausente Sébastien, esse jovem economista de talento procurará de todas as formas, e para isso usando do seu abundante capital, auxiliar seu pai nesses momentos finais, mesmo que tenha de procurar tratamentos ilegais para seu pai.
Por detrás da história dessas pessoas e através de seus diálogos, Arcand vai destilando todo o seu potencial crítico à Igreja, à sociedade, a nossos costumes. Nunca, todavia, tirando os personagens do foco, sem precisar de parar a história, essas críticas estão lá a todo momento, nas conversas sinceras de cada personagem, esses absurdamente sinceros e humanos equivalentemente.
Um dos temas que Arcand trata é o fato de o humano escolher a sua hora de morrer - segundo o Arcand, em uma entrevista, a razão para tal tema vem do fato de 8 de seus amigos terem se suicidado. Rémy, decide quando, onde e com quem passar seus últimos momentos, longe do agonizante sistema de saúde de seu país, o Canadá. Seu controle diante da morte faz com que Rémy ainda fume seuúltimo baseado, divague sobre o mêtie do historiador, a sua carreira de professor frustado ante suas expectativas.
Já com os coadjuvantes o pano de fundo é mais social, é interessantíssima a relação do filho de Rémy, Sebastian e Nathalie, filha de uma amiga de Rémy, também viciada em drogas. Notamos que ambos os personagens parecem bem seguros de si, Sebastian como bem sucessedido economista, Nathalie, "tranquila" em seu vício, ambos - e aí a característica de nossa sociedade moderna - longe de seus pais, seja geograficamente, seja no coração (no caso de Nathalie, ela não vê a mãe à tempos, embora morem na mesma cidade). Outra relação bem atual é com relação à Heroína, mostrando, na visão de Arcand, ser ela uma droga de classe média (intelectuais), traficada por iguais. Há também aquela velha quetsão de que com um "jeitinho" (entenda-se dinheiro") soluciona-se (quase) tudo.
Com uma Trilha Sonora linda, controlando magnificamente a câmera - é belíssima a cena do hospital, onde a câmera de Arcand nos leva no ombro de uma enfermeira, o que serve para nos mostrar o caos daquele lugar, posicionando dessa forma a câmera para que não nos perdamos ante aquela bagunça, afinal, estavamos no início do filme. Boas atuações - sinceras, sem muito falso chororo -, pautadas por ácidos e perspicazes diálogos. Arcánd alcança dimensão social e humana em cerca de 1 hora e 40 minutos, sem precisar de estender demias sua obra - não vemos críticas racias ou de gênero, por exemplo - , nunca a deixando vazia de sentidos. É até interessante como as pessoas mostradas por Arcand através de suas simples vidas, tornan-se um espectro de parte de nossa sociedade. Um filme necessário a você.
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