Interestelar pode ser definido como um ampliador de horizontes, seja para o cinema como indústria, seja para a humanidade. Neste último sentido, não como sendo um filme revolucionário, mas como uma forma que um diretor e roteirista se utilizou de um meio para mostrar que somos e podemos mais do que pensamos, e que mesmo com todas as contradições de nossa espécie podemos nós mesmos nos salvar.
Dando continuidade a uma carreira, no mínimo, cada vez mais atípica e única para os padrões industriais hollywoodianos atuais, Christopher Nolan nos traz uma estória criada exclusivamente para o cinema, destoando de sequências, adaptações e reboots que são lançados a todo o instante. Aqui temos uma superprodução “original” (diga-se: com roteiro original) e ousada que não tem limites, mesmo que seu realizador, paradoxalmente, use de ideias e algumas abstrações não comuns do “cinemão”, ousando em apostar numa trama bem ornamentada e cheia de conceitos, mas que ao mesmo tempo – e não que isso seja um total demérito – não confie tanto em seu público, proporcionando alguns momentos didáticos, que se tem a função, em determinados momentos, de esclarecer teorias obscuras aos leigos, também se alonga demais nelas, podendo ter se utilizado de um certo mistério inspirador e instigante para quem assiste. De qualquer forma, não há como negar: trata-se de uma obra que praticamente brada, seja no filme, seja na própria forma de sua divulgação, que o cinema de Hollywood pode e deve ser mais criativo, que é possível conquistar grande público com uma estória desconhecida e que seja totalmente descoberta ali, na imersão que só o cinema proporciona.
Em Interestelar o cenário é desolador e pessimista, num mundo tomado pela escassez de recursos naturais. O homem não mais possui o espírito explorador, mas o espírito da sobrevivência, de conquistar o pão nosso de cada dia. Objetiva-se apenas o necessário à vida humana, numa forma – em vão, diria – de perpetuar a espécie. Qualquer senso de espírito empreendedor ou até mesmo aventureiro neste mundo distópico é visto como uma traição à humanidade. E isso não deixa de ser uma contradição que o filme procura levantar: nos tempos de ouro, a exploração espacial como uma ferramenta ideológica e que escancarava as contradições – como se pode ter tanta tecnologia e ainda ter tanta miséria? Ocorre que essa mesma contradição converte-se na única solução para a perpetuação mais segura da raça humana.
E se Interestelar é, em anos, uma ficção científica "hard", e que se utilizou dos melhores exemplares que o cinema já proporcionou como fonte de inspiração, o que o diferencia dos demais é a força com que os percalços que o mundo nos traz exerce sobre a humanidade e a faz, num instinto de sobrevivência ínsito ao homem, buscar sua sobrevivência. Não estamos aqui diante de uma obra que procura mostrar o homem como um ser curioso por essência, e que por meio de intervenções de desconhecidos seres superiores, evolui e sai à procura de mais evolução, numa eterna forma de marcar seu lugar no universo, mas estamos diante de uma história em que o homem, desprovido de uma conveniência em saber seu lugar no universo, está preocupado tão somente em sobreviver. O que move os personagens de Interestelar é a sobrevivência, a perpetuação de uma espécie, mesmo que para isso precise deixar seu planeta para trás.
A evolução da humanidade no filme de Nolan está diretamente relacionada a problemas, a percalços, à inevitabilidade que nossas próprias ações nos causam. Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se também afirmar que são esses pontos que nos conduz a uma eterna busca do equilíbrio espiritual e físico que os personagens a todo tempo buscam, seja Cooper tentando lidar com a distância de seus filhos, sobretudo de Murphy, seja pela dificuldade que toda a tripulação da viagem encontra em se adaptar a um ambiente hostil como o espaço. Não importa onde estejamos, procuraremos sempre nossa sobrevivência como espécie, objetivo este que nos impele a nos adaptar e, consequentemente, evoluir. Como diz um dos personagens, não devemos pensar como indivíduos, mas como espécie.
Ocorre que acima desse senso de coletivo, o motivo de tudo isso é mais do que uma utilidade social e de sobrevivência, pois antes de tudo somos humanos. Além de nossos instintos, reside também as emoções e desejos de cada um unidos num objetivo em comum. É o instinto, a razão e a emoção se relacionando de uma forma a seguir em frente, e se não fosse o Amor – conceito tão importante e emblemático do filme –, a Tripulação da Endurance não teria motivação alguma para cumprir a missão. Seja Cooper relutando em deixar sua família para trás e embarcar numa viagem perigosa, incerta, e que tem uma previsão de volta bem duvidosa, sobretudo em determinado ponto do filme; seja Amelia Brand impelida a todo o instante a seguir seu instinto, mesmo não tendo tantas informações concretas, a ir em direção ao planeta de Edmunds, seu grande amor.
Percebe? O instinto e o sentimento humano estão sempre imiscuídos e inseparáveis nas ações de Cooper, Brand e Murphy. É sempre o instinto-amor-razão o elemento motriz da trama, pela constatação de que ser humano tem essa complexidade, sobretudo na situação exposta pela trama. E quando doutor Brand, interpretado por Michael Caine, age apenas pensando no coletivo – não que isso seja algo negativo – e se esquecendo de seu eu, de ter um propósito além da sobrevivência humana, temos todo um plano indo por água abaixo. Seu instinto-razão não é suficiente para a salvação. O instinto-amor-razão de sua filha Amelia, de Cooper e de Murphy, são salvadores. Porque não basta pensar no outro, no coletivo. Temos que pensar antes de tudo no nosso eu, e querer para o outro o que desejamos para nós. É uma espécie de “Amai o próximo como a si mesmo”.
Cooper amava sua filha, por isso viajou a procura de uma forma de salvá-la da inevitabilidade da natureza. Amelia, seguindo o instinto amoroso de encontrar seu grande amor, Edmunds, encontra um planeta viável para o prosseguimento da vida humana. Murphy, seguindo o amor que sentia pelo seu pai, mesmo marcada pela raiva e dor do inevitável abandono, segue sua jornada na Terra objetivando completar a missão.
Num filme como este, Nolan utilizou-se de toda a sua bagagem cinematográfica, mas ao mesmo tempo rompeu com a rigidez emocional de seu outros trabalhos. Com filmes sempre marcados por personagens angustiados e à procura de soluções para seus problemas, é aquela mesma angústia que faz seus personagens seguirem em frente. Em Interestelar, ultrapassa-se isso e entra a fundo numa relação de pai e filha simplesmente comovente, o verdadeiro núcleo de todos os acontecimentos do enredo.
Mesmo tendo suas falhas, tais como diálogos expositivos demais, são erros perdoáveis, diante de um trabalho que pode não ser revolucionário, mas que emociona, faz refletir e deslumbra. É o que o cinema hollywoodiano necessita com mais frequência e realmente espero que Christopher Nolan desperte esse espírito em outros diretores em arriscar e não terem medo de serem ambiciosos, ou até mesmo pretensiosos demais.
Grandes merda tá com média de 8,7 no Imdb! Imdb não é parâmetro nem hoje nem nunca, tanto é que filmes do Ferrara e Gray tem médias baixas por lá.
Forrest Gump tem média 8,8 lá. OP também. 😏
Ao meu ver,as notas dadas pelo IMDb conferem em maioria,com o potencial dos filmes.
Ao seu ver, mas pra mim e alguns do Cineplayers não!