“Nós costumávamos olhar para o céu e imaginar o nosso lugar entre as estrelas, agora apenas olhamos para baixo e nos preocupamos com o nosso lugar na sujeira.”
Ao termino da sessão saímos da sala escura e apertada para um mundo novo, nossas cabeças ainda digerem ao filme e nossos corações se banham com o prazer que apenas o cinema pode proporcionar. Ao termino da seção do novo filme de Christopher Nolan me sinto honrado em dizer que me senti assim mais uma vez. Falar bem ou mal de Nolan é praticamente implorar para mais uma de intermináveis discussões polêmicas que sempre giram em seu nome. Ok, Nolan não é “novo Kubrick” e nunca vai ser. Sua direção é problemática e confusa, seus takes são atrapalhados e até mesmo preguiçosos. Mas a genialidade de Nolan(sim, genialidade) não está em suas imagens, está em seus roteiros e em sua ambição. Sua criatividade é digna dos temas tão complexos que tenta abordar, principalmente em A Origem e agora em Interestelar, de longe seu filme mais ambicioso. Não sou o seu maior fã e até acho a sua trilogia do Batman é idolatrada demais, e sou o primeiro a admitir o quanto me surpreendeu Interestelar, por ser algo muito maior que eu mesmo esperava de um diretor como o Nolan.
É um pouco complicado, principalmente após assistir ao longa defini-lo, dizer sobre oque ele realmente se trata, mas se for pensar apenas em sua sinopse básica é até meio clichê. O filme se passa no futuro, e a terra está passando por uma crise de comida, bilhões de pessoas morreram ao decorrer de décadas, pois um tipo de peste mata praticamente todos os tipos de plantações, e tempestades de poeira assolam o mundo e as pessoas cada vez mais. Cooper (Matthew MacConaughey) é um ex-piloto da Nasa, agora fazendeiro e pai de dois filhos, que por causas misteriosas se vê de novo na organização, onde o Professor Brand (Michael Caine) explica que a terra está condenada, mas que existe uma esperança em um outro sistema solar, e convida o próprio Cooper para pilotar a nave que ira para esse sistema, através de um buraco de minhoca, encontrar o planeta apito para sobrevivência humana.
O filme conta com um elenco maravilhoso. Falar de Matthew MacConaughey e de como a sua carreira como ator, e digo como um fenomenal ator, deslanchou é chover no molhado, são grandes atuações, uma atrás da outra, que provam que ele já é um dos grandes dessa nova geração, do mesmo nível que atores consagrados como Christian Bale, Leonardo DiCaprio e Javier Bardem. E em Interestelar não é diferente, MacConaughey consegue uma atuação que beira a perfeição, mesmo sendo um estilo de personagem já marcado na filmografia de Nolan. Michael Caine, Jessica Chastain e Matt Damon também fazem ótimas performances. Anne Hathaway mesmo sendo uma atriz incrível é a única que entrega uma atuação bem abaixo da media dela, parecendo estar perdida e sem lugar em cena.
A parte técnica do filme, como de costume em filmes do Nolan, é perfeita, os efeitos especiais são incríveis e não exagerados ou gratuitos. A trilha sonora é um dos melhores elementos do longa, da ao filme uma identidade e se torna tão essencial para o filme quando o roteiro ou quando os próprios atores. A força que as musicas de Hans Zimmer (em sua quinta parceria com o diretor) tem, são inexplicáveis, colocando cada sentimento ao estremo.
O filme foi todo baseado em teorias cientificas de Kip Thornee a sua teoria da relatividade. A força do filme se prende na relação de pai e filha que acontece entre Cooper e Murph (Jessica Chastain), que ainda jovem vê o seu pai ir embora de uma hora pra outra sem saber quando e se ele ira retornar. O triunfo do roteiro é justamente conseguir ser e não ser técnico. Ao mesmo tempo em que nos maravilhamos com todas as possibilidades que podem acontecer, seja pelo buraco negro, pelos planetas ou pelos eventos ao decorrer da historia, também nos emocionamos com o laço de pai e filha, que mesmo em tão tamanha distancia e até tempo é mais forte que qualquer coisa. A cena em que Cooper percebe terem se passado 23 anos para sua família e apenas algumas horas para ele, e vê em curtas mensagens toda uma vida de seus filhos é talvez, empatado com a parte do buraco negro, o ápice de Nolan como cineasta.
Nolan consegue nos presentear com uma experiência indescritível entre o desconhecido. Interestelar é uma obra única, e sua ambição e principalmente criatividade são de uma força que apenas o cinema pode conceber.
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