Durante séculos o homem ansiou criar algo que pudesse reproduzir a impressão de realidade, mas como quadros e fotografias não têm movimento, somente com o cinema esse objetivo foi alcançado. A invenção dos irmãos Lumière possibilitou o sonho do movimento, arte e técnica fizeram com que o cinema pudesse criar a reprodução da vida e, desde então, muito foi feito para que isso ficasse cada vez mais real. Os filmes ganharam som, depois cores e muitos usaram e aprimoraram a tecnologia 3D. O que Alfonso Cuarón fez foi pegar esse recurso e elevá-lo ao extremo, transformando “Gravidade” em mais do que um simples filme, em uma experiência cinematográfica única, que durante 90 minutos consegue fazer o espectador crer que é a própria vida que ele está vendo na tela.
Cuarón realiza um incrível plano-sequência inicial e uma sucessão de outros planos tão longos quanto belos, cria cenas de extrema dificuldade técnica e explora o 3D de uma forma nunca feita antes no cinema, tudo para gerar no público uma completa imersão no filme. Assim o diretor consegue fazer com que o espectador se sinta à deriva no espaço junto com os astronautas, perca o ar junto com a Dra. Stone, se mova na cadeira do cinema para desviar de uma chuva de destroços e sinta o desespero dos personagens de uma forma quase palpável. Seja com a câmera estática, com ela acompanhando os movimentos frenéticos de uma estação espacial sendo destruída, ou quando ela se torna subjetiva e coloca o espectador dentro do capacete da Dra. Stone, não importa como, o diretor sempre consegue impressionar o público durante todo o filme.
Esse virtuosismo técnico e o espetáculo visual chegam até a ofuscar as metáforas do filme, porém, mais do que um filme sobre o espaço, “Gravidade” é um filme sobre a vida.
Essa ideia fica clara na belíssima cena em que a personagem de Sandra Bullock entra na câmara de vácuo e seu corpo fica em posição fetal, com cabos simulando um cordão umbilical e a luz ao fundo reforçando a ideia de um útero. Esse é o processo de renascimento que a personagem sofre ao longo do filme, que só acaba em sua última cena, quando ela sai da cápsula que a protege e estabelece contato com o mundo exterior, tendo que reaprender a andar, para poder caminhar em direção a uma nova vida.
Uma trama simplória, amparada por um bom roteiro, que é interpretado de forma excelente por Sandra Bullock e George Clooney e conduzido de forma primorosa por Alfonso Cuarón, resultando em uma experiência única e um deleite audiovisual, contemplativo, tenso e cheio de simbolismos. Resumindo, “Gravidade” é isso. Elogios não faltam e seus pequenos deslizes são quase irrelevantes. O fortíssimo candidato a melhor filme do ano também já surge como um possível novo clássico do cinema moderno, que vale cada minuto e merece ser assistido em 3D e na maior tela possível.
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