"Tenha fé em quem você é"
(Son Gohan).
A série de mangás Dragon Ball de Akira Toryama segue até hoje como uma das mais populares do estilo, sendo adaptada para diversos ramos do entretenimento como a TV, brinquedos, videogames, cinema e etc. Com um sucesso desta magnitude, era questão de tempo até a série ganhar uma versão live action para as telas do cinema. A oportunidade veio quando Stephen Chow (responsável pelo divertido e insano Kung Fusão) divulgou estar trabalhando em um projeto baseado na saga para as telas, cabendo a James Wong (Premonição) a direção do projeto.
Mas como adaptar todo aquele universo fantasioso e até mesmo bizarro da saga para o mundo real de uma forma satisfatória? Uma tarefa quase impossível, certamente. O filme se baseou mais especificamente em Dragon Ball na saga de Picollo (a mais marcante até então) com diversas liberdades artísticas, digressões e reducionismos. Personagens exóticos como Kuririn, Pual, Oolong, Shuu, Chaos, Ten Shin Han e Pilaf por exemplo são totalmente ignorados e não são sequer mencionados. O icônico Goku é modificado também, sendo menos ingênuo e mais descolado, frequentando a escola e mais interessado em paqueras do que nas artes marciais. Outros personagens como Bulma, Mestre Kame, Yancha, Chi Chi e Mai mantém algumas de suas características, mas no geral sofrem com as modificações também (todas para pior, acredito). Picollo, apesar do visual imponente, é tão mal construído que não chega aos pés de sua versão dos mangás.
A estória mantém alguns elementos importantes da trama original, como a destruição global comandada por Picollo há 2 mil anos atrás e sua prisão pelo técnica Mafubá, a origem alienígena de Goku sendo criado por seu avô adotivo Gohan, as esferas do dragão, a Corporação Capsula, o visual futurista das cidades em contraponto ao ar pré-histórico das regiões montanhosas, o humor nonsense, entre outros. Mas como já foi falado, tudo é modificado por conveniências do roteiro, que é bem preguiçoso e repleto de furos por sinal. A parte técnica também é bastante fraca com lutas banais, efeitos visuais toscos e mal uso da câmera lenta. A boa fotografia, a direção de arte agradável e a trilha enérgica salvam a produção do desastre total, aos menos.
Mesmo com todos os problemas já mencionados até aqui (e acredite, tem muito mais) a produção consegue divertir um público menos exigente e principalmente quem não conhece a estória original. O ar ingênuo da produção se contrapõe ao que é feito hoje em dia no cinema comercial norte-americano, o que ao meu ver é algo positivo, visto que este vem se levando a sério demais. As frases de efeito, o humor infantil, as firulas técnicas nas lutas (em especial aquela que se passa na festa de Chi Chi), os clichês e os personagens unidimensionais fazem deste um "guilty pleasure" de primeira, principalmente se você analisá-lo separadamente da saga original. Considerado por muitos como a pior adaptação de qualquer mídia para o cinema e o maior atentado a cultura japonesa desde Hiroshima e Nagasaki, Dragon Ball Evolution é um passatempo relativamente divertido, apesar dos pesares.
Até hoje eu não consegui assistir até o final. Apesar da boa caracterização do protagonista, é nescessário ter uma boa vontade digna de um Papa com este aqui. Eu faço parte do grupo que você citou, Luiz, dos que consideram este a pior adaptação que já vi