"Uma inacreditável e inspiradora história real, sobre o poder indomável do espírito humano".
Filmes sobre superação pessoal sempre foram a coqueluche de Hollywood e das principais premiações ao redor do mundo (em especial o Oscar). Produções como Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981), Rain Man (Rain Man, 1988) e Forrest Gump: O Contador de Histórias (Forrest Gump, 1994) foram grandes sucessos de público e crítica e dominaram todas as principais premiações ao redor do mundo, dando à estas produções o banalizado selo de "filme feito para o Oscar". Sendo assim, quando Invencível (Unbroken, 2014) foi anunciado com Angelina Jolie no comando de um talentosa equipe para retratar a inacreditável, porém verídica história de uma figura inspiradora, Hollywood ficou em polvorosa, e parecia que a história iria se repetir novamente, com a produção encabeçando as listas de previsões do Oscar nas principais categorias. Porém com o seu lançamento, as críticas pouco favoráveis acabaram por anular a produção, que teve que se contentar com algumas indicações técnicas no Oscar e ser totalmente ignorado pelo Globo de Ouro.
Independente deste fato, Invencível apresenta uma experiência competente e sincera ao espectador, com uma direção mais madura e consciente de Jolie (que já havia demonstrado talento em Na Terra de Amor e Ódio), apesar de pesar a mão em alguns momentos. Vale destacar a parte técnica da produção, com uma fotografia esplêndida de Roger Deakins, um trabalho de som magnifico e uma direção de arte, figurino e maquiagem precisos que representam com exatidão à época dos eventos retratados. A jornada de Louis Zamperini é retratada desde a sua problemática infância, um imigrante italiano de origem humilde, até se tornar um famoso atleta olímpico que participou das Olimpíadas de 1936 na Alemanha, o soldado que serviu o Exército na Segunda Guerra e que após a queda de seu avião no oceano, ficou à deriva por 45 dias num bote salva-vidas, até ser capturado e feito prisioneiro pelos japoneses. No campo de trabalho forçado, Zamperini ainda foi submetido a todos os tipos de humilhações inimagináveis, agressão física e psicológica, fome e condições de vida degradantes, precisando de muita força de vontade para superar toda esta situação. O roteiro de Joel & Ethan Coen, Willian Nicholson e Richard Lavagrenese baseado no romance de Laura Hillenbrand transmite todas estas passagens com eficiência, embora careça de uma maior ousadia para tornar a experiência mais memorável.
O elenco também é outro acerto da produção. Sem rostos conhecidos do grande público ou astros veteranos de Hollywood, Invencível aposta no talento de jovens atores da atualidade, com Jack O'Connell dando um show de interpretação na pele de Louis Zamperini, numa atuação visceral (venceu o Bafta de Melhor Ator em Ascensão). É nítido pelo seu simples olhar toda a transformação física e psicológica pelo qual passou, com uma entrega e sinceridade exemplar. Miyavi também surpreende como o Oficial japônes Watanabe, num contraponto interessante ao herói da produção. Jai Courtney, Garrett Hedlund e Domhnall Gleeson também merecem destaque, com atuações profissionais de dar inveja a muito veterano por aí.
A obra vem sendo muito comparada à outras produções como Império do Sol (Empire of the Sun, 1987), Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981), A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ, 2004) e As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012), seja na estética, na narrativa ou no conteúdo. Porém vale frisar o esforço de Jolie e sua equipe em fugir dos clichês e maneirismos típicos do gênero (embora estes aconteçam). A produção foi um sucesso de bilheteria, que só não foi maior porque foi eclipsado pelo badalado e polêmico Sniper Americano (American Sniper, 2014) de Clint Eastwood, um verdadeiro fenômeno de bilheteria na terra do Tio Sam. É nítido no entanto que falta a produção algo para torná-lo uma experiência marcante para o público, por mais bela e inspiradora que seja a jornada de Zamperini. Passa-se a impressão de que algo ficou no caminho e de que não bastam boas intenções para que o projeto dê certo. Seja como for, o filme esta longe de ser o desastre que muitos parecem acreditar, se mostrando uma obra sincera, digna e humana, que prova que para o espírito humano não há obstáculos intransponíveis, por mais difícil que a situação possa parecer.
Os clichês acontecem Felipe, mas não dominam a projeção.