Nos planos inusitados e semiestáticos, bem como nas atuações propositalmente "frias", o cinema de Green revela seu delicado esplendor. Os encontros de Julie com os mais diversos interlocutores são oportunidades de meditação sobre ela mesma, a vida, os outros, o mundo. E a Beleza ali, incrustada onde menos se espera.
Eugène Green filma uma busca por significados, por renascimento, poesia e mistério. Ele faz a câmera vaguear por Lisboa, cidade mística, de muitos tempos e ilusões sentidas. A imagem é secular, sensorial. Arte em sua sensibilidade para transcender a vida.
Green manipula fragmentos, enquadra rostos, subverte as artes, transpõe poesias. Sim, os atores me olharam, olharam no fundo dos meus olhos. Não, isso não foi um exercício metalinguistico, foi mais que isso. Foi inexplicável. Assustadora encenação.
A encenação de Green é única no cinema, dos olhos que parecem sair da tela aos diálogos recitados com uma naturalidade desconcertante. Seus filmes só tem compromisso com a beleza.
Os atores estão muito "duros" em cena, quase parecendo "robôs", e cada tomada é bastante previsível: câmera estática, ator caminha para fora da tela, corte! Apesar disso, tem o estilo inconfundível de Eugene e a direção de arte está impecável.