Quando o filme foi anunciado como vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes (com o júri declarando que foi uma votação unânime), a platéia vaiou quando o diretor Maurice Pialat subiu ao palco para receber o prêmio.
A conversa entre Satã e Donissan é um flerte dramático de desejos proibidos, o que faz entender a auto imolação e a culpa que os olhos do sacerdote carrega consigo. Ao passo que mesmo forçando, a condição da mulher não deixa transparecer qualquer sentimento legível. Talvez minha sensibilidade esteja um pouco abaixo do que o filme pede, pois realmente ele é para poucos, muito poucos.
Embate volumoso sobre o que permeia nossas ações e o que delas nascem. Dúvida x convicção, realidade x fantasia, vida x morte, bondade x maldade... Tudo isso tratado com tanto esmero que faz do filme uma obra-prima sem valor material, impagável. A definição de Cinema está toda aqui.
O demônio está presente em todos os lados e dentro do sacerdote Donissan, que ao tentar expulsá-los acaba se aproximando ainda mais do mal onipresente do mundo e da vida. A tese é interessante, mas peca no desenvolvimento.
Filme que exala uma atmosfera de perdição em um mundo corroído. Lugar onde o mal parece estar sempre a espreita no coração da turba humana, e assim o peso da existência revela o tormento do diabo e o silêncio de Deus. Grande trabalho de Gérard Depardieu!
É um Pialat mais fantasioso. Que deixa de lado as situações corriqueiras comuns de sua filmografia mas, que mesmo assim, consegue demonstrar flexibilidade com um tema hermético por natureza. A parceria com Depardieu é sempre eficaz.
Difícil esquecer a cena do diálogo entre o padre e o próprio satã. Pialat toca em temas espinhosos sem nunca parecer raso ou enfadonho. A fotografia dá o tom soturno que o filme precisava. Não merecia a Palma de Ouro, muito menos as vaias que recebeu.