Desde 1º de Setembro de 1939 a Polônia nunca mais foi a mesma, foi nessa data em que os Nazistas invadiram o país, uma semana depois seria a URSS, que depois dividiram o país e fariam dele um dos mais abusados e acidentados da Segunda Guerra (ao meu ver, o que mais sofreu). A dor e os pedaços só seriam superada e cicatrizada anos mais tarde, tudo isso pode ser acompanhado no cinema do diretor polonês Andrzej Wajda, cineasta internacionalmente reconhecido por tratar de tal assunto em muitos de seus filmes.
Em Agosto de 2014 a Polônia definiu Ida de Pawel Pawlikowski para tentar vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2015. Isso deu ao filme ampla repercussão internacional - o que já vinha tendo devido aos prêmios que venceu - e colocou os olhos do mundo cinematográfico em sua belíssima fotografia preta e branca.
A partir de 1952 o país se tornou oficialmente comunista (Polska Rzeczpospolita Ludowa), é na década posterior que Ida se passa.
Anna (interpretada pela belíssima Agata Trzebuchowska) é uma noviça em uma igreja numa cidadezinha polonesa, ela está prestes a celebrar seus votos para se tornar uma freira. Até que é surpreendida pela existência, até então desconhecida de sua parte, de uma tia, se trata de Wanda (Agata Kulesza), uma bêbada que vive a passos largos remoendo o passado. Anna é órfã e vê na religião sua única casa, quando - em algum momento de sua vida - foi separada de seus pais, o único lugar que a abrigou foi um convento, e é lá que ela quer viver sua breve eternidade. Mas antes, Anna precisa descobrir no seu passado o reflexo do seu futuro, ela precisa organizar o passado para saber o que realmente quer, e é nesse estranho road-movie polonês com uma fotografia soberba que ela e sua tia falarão diretamente com seu passado.
Pawel Pawlikowski, pós-graduado em Literatura Alemã e graduado em Filosofia, nos convida nesse belíssimo filme a refletir sobre os resquícios deixados pelo Nazismo em seu país, a relevância da família e a religião como lugar no mundo. Pawlikowski nunca é apelativo, nunca soma mais do que diminui, ele não julga seus personagens. O que nos faz pensar que não só a fotografia do filme lembra o diretor dinamarquês Carl Theodor Dreyer (A Paixão de Joana d'Arc e A Palavra), mas a sua forma de lidar com seus personagens, claro. Os enquadramentos são distintos, tudo parece ser passar embaixo do ponto central da câmera, há paisagens como cemitérios ou campos tomados por neblina que fazem encher os olhos de um bom apreciador de cinema.
Anna e Wanda são os opostos se atraindo em tela, Anna luta contra às tentações do mundo (que em grande parte desconhece), Wanda é vulgar e dorme com homens que nem conhece, mas ambas procuram o mesmo em Ida, respostas de um passado descorado.
Ida é um filme ambientado no silêncio, os diálogos são poucos, e além de tudo é muito simples, não há grandes reviravoltas ou algo sobrenatural (o que eu caracterizo como norte-americanizado), e ainda assim, é um dos filmes poloneses mais rentáveis ao redor do mundo. País esse que precisa ter seu cinema descoberto. Ao final, podemos dizer: "eu acabei de ver um filme com personalidade."
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