Stan Brakhage, o cineasta do "infilmável". Se pode ser filmado, e consequentemente foi, então é filmável. Certo. Stan Brakhage, o cineasta do subversivo. Subversivo era Glauber Rocha, gênio pirado, lutou contra um sistema opressor, Brakhage não destruiu conceitos, reformulou-os, dispensou-os. Então, digamos que ele era apenas o cineasta do psicodélico. Embora o psicodélico tenha feito sucesso no final dos anos '1960 até meados dos anos 1970' (na nossa data humana). Ora, o psicólogo Humphry Osmond introduziu o termo psicodélico apenas 1957, Window Water Baby Moving foi feito em 1958, lançado em 1962, é um pouco forçado dizer que um cineasta quase desconhecido inventou um termo famoso como esse, ou o traduziu em imagens. Transcendental, experimentalista, louco, limítrofe, muito louco. Apenas uma coisa é certa sobre ele. É muito difícil defini-lo.
Window Water Baby Moving é um curta de aproximadamente 17 minutos e meio, que a maioria (que é uma minoria) das pessoas que começa, não termina seus primeiros minutos. Mesmo que tenha-se passado 50 anos de seu "lançamento", muitos o consideram - como toda a obra de Brakhage - sem nexo e espalhafatosa. O ser foi uma espécie de Terrence Malick ao avesso (o avesso do avesso). Há quem vomite ou não durma algumas noites assistindo uma pequena parte de sua filmografia. Que consta filmagens experimentais como um cão da família em processo de decomposição em algum quintal (coitada das crianças), insetos secos e corpos sendo revirados ao interior em um necrotério. Arte ou insanidade? Na maioria delas, arte. E sinceramente, um artista do status quo é dispensável.
O ser humano ainda é uma minhoca, com um sentido deveras aguçado mas que esburaca aqui e ali em busca de algo instintivo. Mas que ainda não estabeleceu horizontes nas profundezas do oceano, nos confins do universo, na leveza do amor ou na imensa luz da escuridão do que a arte pode nos trazer; poucos são aqueles que rompem as barreiras do que conhecemos como limite.
Há genitálias expostas e momentos íntimos no curta-metragem. Mas nunca é malicioso. Não é sobre o sexo, é sobre o que ele produz - ou o porquê dele ser produzido. Uma ironia, há tantas delas. Já que o ato se torne escandaloso, a consequência se torne emoção. Não é sobre o viver, é sobre a vida.
Nós temos a mania de pensar que tudo o que foi visto em uma época não será da mesma forma vista atualmente, eu concordo com isso. Embora no meio artístico, 50 anos algumas vezes só tragam facilidade ao ato de ver um filme, ler um livro ou ouvir uma música. Mas não que estamos, necessariamente, conectados nela.
"Nos falta conexão na era da conexão" disse o poeta. Qual poeta? Não lembram. Não prestaram atenção no nome. Seu pijama era indevido naquela hora do dia. Um escândalo.
Um dos grandes problemas da filmografia de Brakhage se repete aqui, a trilha sonora, ainda que peculiar é por vezes repetitiva e as imagens duram mais do que deveriam. Nada que tire o foco de olhos curiosos. O som da respiração e uma mulher com expressões faciais de dor nos lembram do que tudo aquilo se trata. É o nascimento de Myrrena Brakhage, filha do diretor nascida em 1958, curiosamente o ano de lançamento de No Limiar da Vida de Ingmar Bergman. É o cinema em seu imenso caleidoscópio homenageando a vida.
Spoiler (quem não assistiu não leia a partir daqui):
O bebê nasce.
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