A projeção da nostalgia.Todo ano, nós, telespectadores, estamos sujeitos e acostumados a ver filmes ganhando continuações, seja pelo sucesso, pela bilheteria, por alguma inovação, etc. Filmes que surgem em cartaz e tornam-se bombas instantâneas que passam, mesmo que não diretamente, a "pedir" uma continuação. Isso acontece principalmente com o gênero animação. E raramente se acerta a mesma fórmula - caso o sucesso tenha sido atingido - do(s) anterior(es). Tomemos como exemplo Shrek, e não é preciso dizer mais nada. No entanto, dadas raras exceções, o filme passa não só a repetir a fórmula dos seus bons antecessores, como passa a remodelá-la, transformando-a em algo muito maior. E Toy Story 3 (2010) é exatamente isso.
Andy, agora aos seus 17 anos, está para ir para a faculdade e precisa decidir o que vai fazer com seus brinquedos: se vão para o sótão ou para o lixo. Depois de ensacar todos os brinquedos - excetuando-se do seu querido Woody (dublagem por Tom Hanks), que seria por ele levado para a faculdade -, sua mãe o confunde com um saco de lixo qualquer e os brinquedos vão para a sarjeta. Woody, querendo mudar a situação, avisa aos companheiros que Andy os iria colocar no sótão. No entanto, os brinquedos, inclusive o caubói, vão parar na creche Sunnyside. Algum tempo depois, eles descobrem que Woody falava a verdade, e tentam voltar para casa. Mas essa volta pode não ser tão fácil quanto eles imaginam.
O que vem à mente de muitos ao saber que haverá uma continuação, após pouco mais de 10 anos, para uma obra como Toy Story é a desconfiança. O medo de acontecer o que normalmente é premeditado - continuações chegam a ser um perigo para o cinema. Entretanto, Toy Story 3 conseguiu vencer essa desconfiança. Além de agradar como uma obra cinematográfica por si só, deixa qualquer espectador amante de animações mais ainda convencido de que a Pixar nunca erra. Ela, de fato, conseguiu criar uma trilogia íntegra, sem fraqueza alguma.
O longa, dirigido por Lee Unkrich (antes dividindo a direção do antecessor com John Lasseter e Ash Brannon), é, sem muitos arrodeios, uma baita obra-prima. Consegue ser o melhor, o que poucas vezes acontece a uma sequência - melhor, a uma segunda sequência. Tudo é perfeito. Desde a naturalidade sempre presente no desenvolvimento da narrativa - ao contrário de muitos estúdios, a Pixar consegue ser arrojada sem pretensões ou ganância pura - ao esmero com que são tratadas todas as cenas, sejam elas as mais movimentadas ou as de carga dramática maior.
A direção do filme é impecável. Unkrich, que dirige o filme sozinho, consegue tratar cada personagem com suas particularidades: seus traços mais caricaturais - e sempre divertidos -, suas frases de efeito e, mesmo que soe estranho por se tratar de uma obra teoricamente infantil, até seus conflitos. O filme evolui consideravelmente em seu enredo (o que, diga-se de passagem, é um grande presente, dada a excelência de seus antecessores), pela forma como os personagens são estudados de forma delicada e, de certo modo, mais amadurecida. Somos levados ao universo - dessa vez, ainda mais - encantador dos brinquedos de Andy, mas, dessa vez, com uma sensação prevalecente de nostalgia. O poder do fundo emocional que esse filme criou é exemplo, e não somente para seus colegas de gênero, mas para qualquer outro trabalho em série. É, afinal de contas, uma despedida. E isso é evidenciado de forma fantástica pelos diálogos e pelo tom saudoso constante da narrativa.
Os novos brinquedos também não ficam para trás. Personagens carismáticos, engraçados, que dão uma evolução ainda mais refinada à série. Ken (o hilário boneco metrossexual, namorado da Barbie), Lotso (o não tão simpático ursinho "que-cheira-a-morango") e muitos outros personagens surgem para que o filme consiga cativar ainda mais. Ainda sobra espaço para a sempre constante fofura, dessa vez, encarnada na pele de uma ótima personagem chamada Bonnie, uma garotinha que possibilita um inteligentíssimo - e nada menos que doce - encontro de gerações ao final do filme.
Seja, enfim, pela história movimentada, pela técnica estupenda, pelo humor sempre constante, pela aventura ainda mais dinâmica, pela plano emocional mais que conveniente e tocante, pelos novos personagens marcantes: por tudo que nos é projetado, Toy Story 3 acaba superando o medo e a desconfiança e torna-se uma obra ainda mais evoluída que os seus antecessores - é um presente, tanto para a 7ª Arte quanto para o espectador que acompanha Woody, Buzz e seus amigos desde 1995. A Pixar consegue provar que é um estúdio de ferro, que inova a cada obra, a cada ano. A grande história, talvez o mais poderoso símbolo animado da geração atual, teve um final mais que digno - TS 3 é, do começo ao fim, uma projeção comovente (e admirável) da sensação de nostalgia. O que nos resta de um filme como esse é, além da experiência incrível e indescritível, a tal da saudade.
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