Coração Louco narra a história de Bad Blake (Jeff Bridges), um astro da música country que se encontra no meio de uma árdua jornada em busca da redenção. Bad já se encontra em decadência em meio a uma indústria que não dá mais espaço à boa música mas sim àqueles que trazem o famoso cash. Viajando de cidade em cidade Blake segue sua carreira tocando em diversos bares pra um público restrito, mas fiél e espontâneo, que dá o sustendo que o cantor precisa para continuar na estrada. É em uma dessas viajens que Bad Blake conhecerá Jean (Maggie Gyllenhaal), uma jornalista que se arrisca a conhecer o homem que existe por trás de nosso músico. Jean cai na lábia do boêmio Bad e se envolve com ele, causando um tipo de sentimento raro no protagonista, que através da moça vê a oportunidade de se alcançar maior estabilidade em sua vida. O meio e final da história deixo para que saibam quando assistirem o filme, mesmo que pareça um tanto previsível.
Coração Louco é mais uma dessas histórias de pessoas que convivem com o mito que um dia foram ou o sucesso que um dia fizeram e seguem em busca da redenção ou de uma nova oportunidade para mostrar que ainda podem ser quem foram. Temos um bom exemplo recente de que a forma vem sendo bem explorada em Hollywood: O Lutador, que conta a história de um pugilista talentoso que já não mais dá conta de ter toda a fama que conseguira há alguns anos. As características são deveras semelhantes: os dois são pais que abandonaram os filhos e vivem em total exclusão social proveniente do medo do relacionamento ou de seus vícios que os acompanham durante toda a vida. Não podemos equecer, é claro, do amor impossível que os dois estabelecem com nossas protagonistas, mulheres que, por diferentes motivos, se decepcionaram com a vida e sobrevivem somente com o objetivo não abandonar o legado de suas misérias (o que, honestamente, significa viver sem objetivo algum). Curiosamente, estas moças vêem nos nossos bad guys o que ninguém vê, honestidade e um bom caráter. A diferença seja, talvez, o instrumento que se usa para tal “busca à redenção” (ou a profissão deles, como preferir). Aqui temos a música como principal motivo para Bad Blake continuar na estrada viajando. E é aí que o filme de desliga de qualquer forma hollywoodiana pré-estabelecida. Não costumo elogiar nenhuma dessas formas, mas é fato que quase sempre estas histórias nos rendem boas obras. Talvez a direção esteja sempre afiada, ou o elenco seja sempre bem selecionado, mas o ponto é que, de alguma forma, a história de talentosos personagens miseráveis sempre é sucesso de crítica e bilheteria. Temos como exemplo os grandes sucessos criados em hollywood sobre lutadores de boxe em ascenção e pobreza conforme manda o roteiro. A Luta Pela Esperança, Touro Indomável, Rocky e tantos outros lutadores já passaram por nossa tela sempre nos emocionando. Talvez o homem bruto que aparentam ser sempre se revele um frágil ser de caráter humilde, talvez sempre haja alguém que acredite neles e os faça mudar de vida, talvez eles sempre queiram mudar de vida, e isso nos toca realmente: acompanhar a história de alguém que, para mudar, antes de tudo, teve que aprender a perdoar a si mesmo. Não sei, até hoje não cheguei até uma conclusão mais exata sobre isso, o ponto é que, como disse, sempre tais histórias rendem bons filmes, e o que não pode se negar, mais uma vez, é que a tradição foi mantida.
Crazy Heart é um filme excelente, com bom roteiro, boa direção e boa fotografia, mas que encontra nas atuações e na trilha sonora o caminho para a glória. Se tem algo que os filmes mais relevantes sobre estas histórias contêm, é um ator que se identifica com o protagonista. Foi assim com Mickey Rourke, por isso o filme alcançou tal sucesso, e aqui se repete o fato. Não pode se dizer que Jeff Bridges esteja em decadência, mas me parece muito claro que sua carreira não vinha alcançado tanto sucesso quanto tal filme proporcionou-lhe, isto é, Bridges vinha sim realizando um ou outro filme como coadjuvante e nada relevante, na maioria das vezes. Talvez nossos antigos astros vejam nesse tipo de papel uma nova oportunidade e o encarem de maneira diferente; Bom pra nós, que sempre podemos contar com um bom desempenho destes. Jeff Bridges parece entrgar tudo que tem e (não gosto de dizer isso) realmente nos presenteia com a performance de sua carreira. Maggie Gyllenhaal está magnífica como sempre, é incrível como consegue ser discreta e extremamente competente em qualquer atuação. Robert Durvall pouco aparece, é uma pena, mas da conta do recado, tamanho é seu talento frente à uma câmera. Enfim, o elenco inteiro parece trabalhar com muito vigor, o que dá muito crédito à obra, pois tal dedicação resulta num ótimo trabalho. A trilha sonora é indispensável à quem aprecia boa música, independente do gênero, e ajuda o roteiro a focar em um debate muito atual: a indústria músical em detrimento da boa e velha arte. Percebe-se que o nosso Bad Blake se afunda em um mar de amargura a insucesso porque sua música não agrada mais a massa, diferente de seu aprendiz que se tornara o astro do momento: Tommy (Collin Farrell). Cenas não faltam para trazer o assunto à tona e o filme o faz com muita sutileza, assumindo um ponto de vista mas sem que isso fique bem claro, pois o foco é outro. O roteiro é bem desenvolvido e simples, não traz muitas complicações e nem tenta embarcar em uma complexidade que me parece desnecessária neste tipo de filme.
Crazy Heart não vai entrar para a história, mas não vai deixar sua mente em poucos dias. Me parece que o objetivo maior era que uma história fosse contada, não que uma mensagem fosse passada, e é aí que ele se sobressai, pois não cai na pieguice de tentar mostrar que o amor salva qualquer situação ou que a força da música é o bastante para Otis (o verdadeiro nome de Bad Blake) se manter vivo. Não, é mais que isso, trata-se de uma obra interessantíssima, que não se apega totalmente às tradições que a fórmula traz consigo mas que também não foge totalmente delas, mas que nesse misto de atitude e conservadorismo encontra a sinceridade para mostrar seu valor, nos mostrando que a vida apresenta os problemas e as soluções, mas que as últimas, por vezes, estarão alheias à nossa vontade.
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