Até onde você iria para salvar sua vida? Até que ponto vão a coragem e a força de um homem ao tomar uma grande decisão? A vida é feita de escolhas e nós todos sabemos disso, mas escolher entre sua vida, ou parte do seu corpo não é algo que fazemos todos os dias. Mas foi essa a escolha que Aron Ralston teve que fazer. O alpinista americano estava em uma de suas aventuras nos cânions de Utah, sem ter avisado a ninguém aonde iria, quando sofreu um acidente e ficou com o braço preso em uma rocha, no meio das montanhas. Ali começa seu dilema, que dura 127 Horas, até que ele finalmente escolhe seu destino. Você faria o mesmo?
A premissa já lhe avisa de antemão que será um filme claustrofóbico, angustiante e incômodo, e quando entramos na sala estamos preparados para isso, mas o diretor e roteirista Danny Boyle (Quem quer ser um milionário?) não parece confiante de que o público esteja pronto para tanto. Ao invés de um filme intimista e pequeno (como o superior Enterrado Vivo), Boyle transforma, ou tenta transformar 127 Horas num filme grandioso e para isso não mede esforços. O principal exemplo é a montagem frenética, que divide a tela em três em vários momentos, e faz inserções de comerciais antigos de refrigerante como pensamentos do protagonista, chegando ao cúmulo do “I wanna be cool!”.
Boyle não se limita a fazer o correto e óbvio nos enfoques de câmeras. Os planos abertos no início do longa, dão lugar a planos fechados e closes angustiantes, e no meu ver, esse deveria ser o formato de todo o filme, mas não para este diretor que insiste em ser pop. Há closes até mesmo de dentro do cantil, insistindo em nos mostrar o que Aron está bebendo para causar repulsa. Mas quando acha que o filme está ficando sério e triste demais, levamos um susto com uma música alegre e a voz de um radialista que nos comunica feliz, que é segunda-feira. Ora, se eu que estou aqui livre, não suporto felicidade numa segunda de manhã, imagino o coitado do rapaz. Aproveitando o momento para ilustrar o constante bom humor e também os devaneios de Ralston, que começa a encenar um programa de entrevistas, sou jogado para fora do longa ao ouvir risadas ao fundo, de uma platéia fictícia. Desnecessário.
Como já disse, as diversas lembranças e alucinações soam como escapes, de quem não confia na força do material que tinha em mãos, e como se já não bastasse, ainda somos brindados com uma cena em que a ex-namora diz: “Você ficará tão só” em meio a uma briga, nos querendo convencer do que? Que era uma praga dela? Que ele teria feito por merecer? Triste.
E quando você pensa que o carismático James Franco vai bater na mesa e nos mostrar que estava ali não por ser uma escolha jovem e moderninha, mas que tinha talento a mostrar e nos entregaria uma atuação fantástica, não nos surpreendemos. Franco está longe de ser ruim, mas também não justifica tantos elogios.
Mas, apesar de tantos esforços para estragar tudo, 127 Horas está longe de ser um filme ruim. Competente em nos mostrar o amor que o protagonista sentia por aquele lugar, chocante e triste na medida certa nas cenas finais, e com a ajuda de uma fantástica trilha sonora, é sim um bom filme. O final clichê com as letrinhas explicando o futuro, e o aparecimento do real Aron Ralston é quase o melhor do filme. Algo que em boa parte da projeção eu fiquei inquieto para ver logo e que não me arrependi. O filme acaba, as pessoas saem felizes por terem visto um lindo clipe, e eu e mais meia dúzia de pessoas com coração ficamos lá arrasados e chorando litros.
Sobre aquele pergunta que eu havia feito no início do texto, prefiro não responder, tenho medo do que poderia me acontecer.
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