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Cannes corta as asas da imprensa


O diretor-curador do Festival de Cannes nos últimos anos, Thierry Fremaux, anunciou a novidade mais temida pela imprensa para esse ano. As selfies barradas no tapete vermelho não são a grande novidade (aliás, essa atitude é recorrente no festival francês e sempre retorna), mas parece que esse ano o jogo virou de vez. As sessões de imprensa diárias, que sempre foram realizadas horas antes da sessão oficial de gala onde geralmente o júri está presente, acabaram; a imprensa agora verá o filme em sessão paralela a oficial, em outra sala (no caso a Debussy, muito menor), ou apenas no dia seguinte à essa sessão, caso ela seja muito tarde.

A intenção dessa decisão de Fremaux é barrar o que a internet criou, o vazamento de críticas e opiniões (e eventualmente até vaias) nas sessões de imprensa, que acabam pro bem ou pro mal chegando até o júri oficial. Para que o júri não seja nem minimamente influenciado pelos comentários prévios nem tenham suas decisões respaldadas por jornalistas (ou justamente contrárias às deles, até de propósito), essa decisão chega muito depois de Fremaux ter identificado isso como problema e tenta criar uma barreira bem-vinda pelo menos ao que diz respeito a primeira impressão para com as obras, que estão ali para serem julgadas com o mínimo de lisura e imparcialidade.

As pressões de agentes de vendas, grandes produtores e dos próprios cineastas provavelmente ajudaram na decisão que Fremaux já queria tomar faz tempo e vem a tona menos de 3 semanas para o anúncio da seleção oficial da edição desse ano do Festival, que acontecerá entre os próximos 8 e 19 de maio; dia 12 de abril a seleção vem a público e promete um número elevado de medalhões, e a possibilidade de surpresas vem tirando o sono de cinéfilos e da própria imprensa, que agora com certeza terá mais dificuldade para lugares nas sessões e vai dormir durante o próximo mês e meio com ao menos uma pergunta na cabeça: como participar das tradicionais coletivas de imprensa na manhã do Festival sem assistir os longas momentos antes, como tradicionalmente sempre aconteceu?

E quais são as apostas pro anúncio do dia 12? Nossa, muitos. De Todos Lo Saben, o longa falado em espanhol do multi premiado Asghar Fahradi e estrelado pelas estrelas Penelope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darin a High Life, ficção dirigida pela maestrina Claire Denis e estrelada por Robert Pattinson e Juliette Binoche, muita coisa deve pintar nas telonas do Palais du Festival. Só Binoche ainda deve vir com Vision da japonesa Naomi Kawase, e Non Fiction, novo filme de Olivier Assayas sobre o universo literário. Jia Zhangake tenta vaga com seu novo drama Ash is Purest White, o bissexto Terence Malick tem um novo filme de guerra chamado Radegund e o recém 'palmado' Jacques Audiard vem com The Sisters Brothers, seu primeiro longa em inglês, com Joaquin Phoenix estrelando esse faroeste revisionista. A América Latina tenta vagas através de Pablo Trapero e seu La Quietud, Carlos Reygadas com Donde Nace la Vida e nosso Gabriel Mascaro com o gospel-sexual Overgod. O grande Mike Leigh retorna com o histórico Peterloo, os vencedores do Oscar Laszlo Nemel e Pawel Pawlikowski retornam respectivamente com Sunset e Cold War. Os novos filmes de Paolo Sorrentino (Loro), Xavier Dolan (The Death and Life of John F. Donovan), Brian DePalma (Domino) e Jafar Panahi (Flowers) também querem vaga, e o Oriente vai tentar entrar com Shoplifters e Burning, dos onipresentes de Cannes Hirokazu Kore-Eda e Lee Chang-Dong. O país-sede deve dar as caras também com Maya de Mia Hansen-Løve e Un Peuple et son Roi, de Pierre Schoeller. 

E no ano que será presidido por Cate Blanchett será que Cannes perdoou Lars Von Trier e vai deixar seu The House that Jack Built entrar? Saberemos dia 12.

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