Saltar para o conteúdo

Notícias

Better Call Saul – S01E07 – Bingo

No clássico filme de 1954 de Hitchcock, James Stewart observava imobilizado a novela da vida alheia até passar a tomar parte na vida ativa quando vê uma cena suspeita mudar o gênero . Os personagens errantes de Vince Gilligan e Peter Gould estão igualmente à parte, observando vitórias e conquistas alheias como os perdedores que são em uma cultura onde o vencedor é tudo.

A dupla que Mike e Saul formam nessa primeira temporada após as tensões iniciais são espelhos, em diferentes fases da vida, de saberem-se desajustados; Saul sempre tentando, inutilmente, competir com a gigante Hamlin Hamlin & McGill e Mike, observando novas gerações de policiais que parecem muito mais determinadas e íntegras do que ele jamais foi – o que ele vê, como aprendemos no episódio passado, tanto com empatia quanto com remorso.

A síntese e a vingança simbólica se dá na pequena set piece do roubo à casa dos Kettleman perpetrada por Mike – onde observa a interação da família que esconde um crime por trás da fachada de normalidade, calmo e meticuloso, com apenas dois planos do interior antes da invasão. No dia seguinte, Saul faz a revelação, se senta calmamente e observa o desespero dos ajustados que foram encurralados em seu desvio. A câmera não corta e pouco se desloca. Vemos o deslocamento através de espelhos, portas, janelas e corredores em segundo plano, com o protagonista como testemunha em primeiro.

A retomada da narrativa de gerenciamentos de crise usados para desenvolver o duo de personagens (que cria a autossuficiência de cada capítulo em si enquanto a estrutura interligada e folhetinesca avança) após um episódio que parou a narrativa para expôr um personagem mostrou como a ambição de correr em paralelo com a história de Walter White em Breaking Bad continua forte: repetem-se os elementos do alter ego, da persona pública e a interior, as frustrações que encorajam decisões, a moralidade que certas decisões envolvem, o ciclo repetido de intenção, execução, crise e queda. A persona de Saul Goodman, criada por Jimmy como uma versão jurídica dos seus dias como trambiqueiro que lucrava de pequenos golpes, o “Jimmy Sabonete”, é desenhada passo a passo, com a direção de arte transitória, as tensões e os retornos à estaca zero.

Esse prisma de pecado e redenção através do qual Vince e Peter trabalham (claro que em um viés contemporâneo, existencialista, vitimado por mal-estar social) os aproxima do espírito Hitchockiano em essa obsessão de olhar de fora, mas pela estranheza e anacronismo: as narrativas que criam são histórias daqueles que querem vencer, daqueles que farão qualquer coisa, os que criarão mitos, aqueles que conseguirão, mas pagarão um preço. Indivíduos criados para competir a todo custo e pagarem por isso.

Como revela o final, não há catarse em tomadas de consciência; a construção guiada basicamente por silêncio e ruído, em mais um uso imaginativo da relação imagem e som para a criação de afeto - o espaço visto, o som projetado no espaço, a emoção conseguida daí. Se sentindo fora da grande roda, esses indivíduos observam famílias, firmas, instituições. E nós observamos eles, em suas estruturas de drama abertas e incompletas, ruidosas e barulhentas, contemplativas e intervencionistas (nas composições estranhas de quadro, nas angulações e profundidade de campo à la Welles), em um apelo estético incansável em seus versos sobre o desespero.

Comentários (5)

Felipe Ishac | quinta-feira, 19 de Março de 2015 - 00:17

Ta muito superior a BrBa

Danilo Willian de Godoy | quinta-feira, 19 de Março de 2015 - 07:35

Nada contra Better Call Saul, mas sei lá, acho que Gilligan devia seguir em frente. Se envolver em algo novo.

Júlio César Filho | quinta-feira, 19 de Março de 2015 - 14:14

Mais um episódio foda! Better Caul Saul está no mesmo nível de excelência de Breaking Bad. Sem dúvida, Gilligan está no ápice de sua carreira.

Rodrigo Giulianno | sábado, 21 de Março de 2015 - 21:07

puta serie! Que saudades de breaking bad

Faça login para comentar.