Quanto mais um tema ou personagem é trabalhado de forma específica, mais os mesmos se tornam amplos e um sentimento de universalidade, empatia em relação aquilo que é retratado, nos envolve. Em “Incendies” é inevitável não se deixar levar pela pintura de uma família que quanto mais tenta acertar as contas com o passado, mais o passado lhe faz ser notado.
Através de um roteiro brilhantemente bem executado por Villeneuve e um argumento bem estruturado por Wajdi Mouawad, a história apresentada é triste e carregada de forma tensa por todo o longa. A iminência de que algo ruim acontecerá a qualquer momento é o veículo que move o caminho dos protagonistas por todo o filme. Villeneuve consegue desenvolver o roteiro difícil de filmar, sempre mantendo a tensão e o sentimento de angústia a cada cena.
Nawal Marwan (Lubna Azabal, em atuação assustadora) é mãe de Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (Maxim Gaudette), irmãos que após a morte da mãe buscarão realizar os pedidos postmortem da mesma. Os irmãos além de descobrirem por meio do testamento, que possuem um irmão que jamais imaginavam e um pai que acreditavam estar morto, precisam ir até a terra natal de sua mãe, em algum lugar inóspito do Oriente Médio, para encontrar os parentes existentes e assim, cumprirem a agonizante missão delegada.
O texto costurado por Mouawad é munido de força e impacto, no qual algumas cenas por serem tão profundas e bem realizadas, acabam por nos deixar perplexos. Com forte amparo dos diálogos firmes, a obra desenvolve-se sem pedantismo ou pretensão de ser política ou engajada, o filme é um retrato do que existe. Está lá, é o que acontece. Intolerância/liberdade, verdade/mentira, escolha/não escolha, a amplidão da pluralidade abordada é também presente no seio familiar de Nawal, no ser humano em si. O encontro da verdade é tão doloroso quanto o caminho que leva ao encontro desta.
Sem vícios e sem perder o ponto da direção, Villeneuve une passado e presente com muita competência e arrojo, sempre aliado por uma montagem incrível e boa fotografia. Essa elegância e atitude em conduzir a película se fazem ser notadas na trilha sonora, por exemplo: “You and Whose Army” (cena de abertura) música do Radiohead que se encaixa perfeitamente com a proposta do filme. Villeneuve concebeu um dos melhores filmes do ano e sua direção se faz ser sentida de forma sutil, mas com personalidade. Um drama contemporâneo.
“You think you drive me crazy... you and whose army? You and your cronies...”
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário