Existem filmes pequenos, despretensiosos e bem executados, que nos pegam de surpresa, se revelando uma pequena e delicada jóia. Sem dúvida, “Ladies in Lavender” é um desses. O filme maneja uma parte de nossas emoções, deixando uma grande comoção e um forte sentimento de empatia junto a nossas heroínas. Talvez sem as presenças de Judi Dench e Maggie Smith, o filme passasse despercebido, mas a inclinação das duas veteranas atrizes, faz a mágica do filme acontecer.
Antes de falar sobre o filme em si, abro um parêntese para citar a presença das protagonistas que levam o filme facilmente, mas com muita seriedade naquilo que é defendido em cena. O filme é extremamente inglês. Feito para o público britânico, que zela por cinema de atores, de interpretações e de emoções (em sua maioria velada). Podemos até dizer que o filme poderia ser (se já não foi) uma típica peça teatral inglesa. Não à toa, temos Judi Dench que é maior atriz dos palcos ingleses (atriz que mais interpretou as mulheres shakespearianas) e Maggie Smith igualmente grande e presença constante nos palcos britânicos.
A história consiste na vida de duas irmãs já na velhice, em meados dos anos 30, onde Ursula (Judi Dench) e Janet (Maggie Smith) moram juntas na costa norte da Inglaterra. Juntas, elas encontram após uma tempestade, um náufrago que não sabe sua língua. Ao acolherem o jovem desconhecido, as duas se afeiçoam com ele e com o tempo, descobrem que ele é um talentoso violinista. O filme é inspirado em um conto do escritor William Locke, muito conhecido na Inglaterra. O título original não é muito objetivo, podendo ser interpretado de diferentes formas em um jogo de palavras e fonemas. Assim como o sentimento das protagonistas pelo jovem naufrago, “Ladies in Lavender” remete a lavanda, que possui cor lilás e aroma característico, geralmente sabemos identificar logo ao senti-lo. As senhoras do título junto ao lavanda, poderia dar a conotação de “inesquecíveis senhoras”. Ainda há o fato de “ladies” na Inglaterra ser foneticamente semelhante a “laces”, cordão delicado, laço de renda ou algo do tipo.
A direção do ator Charles Dance, faz com que a história do filme seja contada com bastante calma, mas não de forma enfadonha. A direção de um ator é vital para o filme, sendo as atuações, energia motriz que move a película. Mesmo a fotografia sendo muito bonita, retratando a costa da Inglaterra viva e quente, são as atuações e a forma de expressar os sentimentos que fazem o filme. É inevitável, não fazer menção ao tratamento teatral das cenas. Como já citado, talvez o texto já tenha sido encenado no teatro britânico, pela qualidade emocional que ele pode conferir.
As atuações de Judi Dench e Maggie Smith são tão simpáticas, que não é difícil nos sentirmos próximos a estas. Judi Dench está tão leve e desprendida que só a vi assim em “Mrs. Henderson Presents” e “Nine”. Seu talento é indiscutível, mas é comum sempre a vermos em papéis sisudos e austeros. Vê-la tão amável e sorrindo em cena é algo cheio de frescor, fascinante. O papel de Dench é tão carismático, que desejamos o mesmo de Maggie Smith, mas que não acontece. Ao contrário da peça britânica “Breath of Life” de David Hare (“Damage”, “The Hours” e “The Reader”), em que as mesmas travavam um duelo de atuações, neste, o texto não confronta as atrizes em um combate de interpretações, aqui, Dench tem muito mais campo do que Maggie.
A sutileza da direção é tão adequada e a presença de Judi Dench é tão comovente, que mesmo ao sabermos que o interesse amoroso de Andrea (Daniel Brühl) é a belíssima Olga (Natascha McEllone), torcemos pelo improvável enlace de Ursula e Andrea. A qualidade interpretativa é altíssima e qualquer deslize da forma de direção ou da atuação, poderia comprometer a história, cadenciando ao piegas. Olga é uma mulher deslumbrante, com dons artísticos e em plena juventude, mas o carisma e graciosidade de Ursula é encantador.
O final do filme é terno. Todavia, não é o mesmo do conto de William Locke. Neste, Ursola e Janet nunca mais voltam a ver Andrea após sua abrupta partida.
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