Marguerite é uma dentista, solteira, que apresenta licença para pilotagem apesar de pouco usar ultimamente; Georges é um pai de família: dois filhos, uma esposa 'típica... praticante de jardinagem em suas longas horas vagas.
O que seriam duas vidas distintas, traçando seus próprios destinos, acabam por se unir pelo acaso, quando na saída de uma loja Marguerite tem sua bolsa roubada. Sua carteira é encontrada no estacionamento de um shopping por ninguém menos que Georges. À medida que observa a carteira e seus pertences, este fica cada vez mais intrigado, dando início a uma série de incidentes.
O filme que na teoria apresenta uma série de imprevistos para chamar a atenção do espectador, atraiu mais (minha visão) pelo desenvolvimento da personalidade dos protagonistas da trama, através de uma narração peculiar, cheia de metáforas.
Quando Marguerite está na loja de sapatos, o narrador mostra o quão difícil é pra ela a escolha. Não apenas do sapato; qualquer escolha que faça envolve relutância, rendimento, aceitação, compromisso... São esses tópicos que fazem com que evite Georges em primeira vista (relutância). Só através da ausência que consegue reconhecer (rendimento) a falta que a atenção dele trás (aceitação).
Georges por sua vez tem sua personalidade vista através do diálogo na relojoaria, quando diz: 'É obrigado a parar no final, assim como eu. Estamos esgotados'. O fato de Georges sentir-se tão desanimado consigo que faz o aparecimento da carteira ser tão empolgante. Afinal, ele poderia muito bem ter simplesmente entregado a carteira a policia e fim. Mas não. Ele olha, examina, deduz, imagina as possibilidades que poderiam ocorrer se mantivesse contato com Marguerite. É com esse sentimento de busca por algo a mais que se envolve com ela. E não pense você que é um envolvimento amoroso, cheio de segundas intenções. É muito mais uma busca por algo não rotineiro, novo, que movem ambos ao encontro um do outro.
De resto, o filme se apresenta interessantíssimo: desencontros, encontros, idas, vindas... é magnífico o movimento da câmera, que dá vida à fantasia dos personagems. Algumas cenas são, de certa forma, desnecessárias, como a do beijo de Georges com a Josepha, o que é mais uma observação dispensável minha, visto o grande filme produzido.
Enfim, assista. É mais uma grande obra de Resnais. Nada comparável a Hiroshima, Mon Amour, mais ainda sim grandiosa.
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